A origem da Capoeira: do passado escravocrata à sua expressão cultural atual
A capoeira é uma expressão cultural de enorme relevância no Brasil e que está ligada à própria formação e história do país.
Se constitui como uma mistura de manifestações culturais, como a luta, a dança e a música.
O surgimento da Capoeira
A capoeira tem uma origem um tanto quanto incerta. Envolta em mitos e controvérsias, muitas teorias foram tecidas sobre a criação dessa prática, mas, devido a ausência de documentos contundentes antes do século XIX, é difícil traçar uma origem exata.
Entretanto, sabe-se que ela tem raízes africanas, provavelmente de origem do povo banto, sendo praticada nos primeiros anos do século XIX por negros escravizados. Com o tempo, passou a ser jogada por libertos, mestiços, indígenas e outros grupos sociais.
Um fato que muitas vezes não é abordado quando se fala sobre a história da capoeira é de que no século XIX ela era praticada também por capitães do mato, militares, portugueses e até mesmo por parte da elite.
Isso não tira da prática seu caráter de resistência, em que o povo negro encontrava na corporalidade e nos golpes o enfrentamento à escravidão. Contudo, insere em sua trajetória elementos divergentes e complexos, como a própria história do Brasil.
De qualquer forma, essa é uma manifestação cultural que se originou e se estabeleceu dentro da classe trabalhadora, tanto que as rodas de capoeira foram proibidas ao longo do século XIX, sendo legalizadas apenas em 1937.
Origem do nome “capoeira”
Uma das teorias mais aceitas sobre a origem do nome capoeira é a de que significa “mato ralo” ou “mato que foi”, fazendo referência a campos abertos onde os capoeiristas se reuniam para fazer as rodas.
Outra possível origem do nome faz alusão às cestas de vime onde negros e negras carregavam galinhas.
Capoeira angola e capoeira regional
A capoeira se ramificou em dois tipos: a capoeira angola e a capoeira regional.
Quem elaborou o estilo regional foi Mestre Bimba, que nos anos 20 deu o nome à prática de Luta Regional Baiana.
Mestre Bimba foi uma figura de grande importância para disseminar a capoeira no Brasil e no mundo. Ele trouxe certa agilidade à capoeira, incluindo novos golpes e deixando-a mais competitiva e parecida com uma luta de fato, contribuindo também para que fosse menos marginalizada.
Bimba criou uma escola e um método de ensino, onde os praticantes são batizados e se formam. Mas algumas características ritualísticas da capoeira tradicional foram deixadas de lado.
Por isso, outro grande capoeirista, o Mestre Pastinha, defendia a valorização das tradições e do estilo rasteiro daquela que é conhecida como capoeira angola.
Pastinha também criou uma escola na Bahia, o Centro Esportivo de Capoeira Angola, o primeiro a ensinar o estilo angolano.
Muitos foram os mestres de capoeira importantes, entretanto esses dois se destacaram como figuras essenciais para que a prática ganhasse respeito e ficasse conhecida por seu caráter de luta e manifestação cultural.
Vale destacar ainda a importância da música tanto na capoeira angola quanto na regional. O berimbau, atabaque, agogô, as palmas e o canto são parte indispensável da prática, sendo realizados pelos outros praticantes que estão em roda assistindo a capoeira ser jogada.
Assim, apesar das diferenças entre os estilos, podemos destacar como características da capoeira: a presença da música, a formação em roda, os movimentos como chutes, rasteiras, acrobacias e cabeçadas. Na angola os movimentos são mais rasteiros e lentos e na regional mais dinâmicos e aéreos.
A capoeira na atualidade o que ela representa
A partir da segunda metade do século XX, a capoeira ganhou status e hoje é reconhecida em todo o mundo como uma expressão cultural afro-brasileira que junta prática esportiva e luta com arte e tradição.
Praticada em dezenas de países, a capoeira foi declarada em 2014 Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.
O Brasil também recebe muitas pessoas estrangeiras interessadas em aprender essa arte que se tornou um símbolo de resistência do povo negro contra a opressão e o racismo.
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