As 11 obras mais famosas do Abstracionismo

Laura Aidar
Revisão por Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual
Tempo de leitura: 11 min.

O Abstracionismo, ou Arte Abstrata, é um movimento que reúne produções bastante diversas, que vão desde desenhos não-figurativos até telas executadas a partir de composições geométricas.

A intenção das obras abstratas é evidenciar formas, cores e texturas, revelando elementos não reconhecíveis e estimulando uma leitura de mundo a partir de um tipo de arte não objetiva.

1. Amarelo-Vermelho-Azul, de Wassily Kandinsky

Amarelo-Vermelho-Azul Pintura de Wassily Kandinsky

A tela, datada de 1925, tem no título os nomes das cores primárias. Foi pintada pelo russo Wassily Kandinsky (1866), e atualmente encontra-se no Musée National d'Art Moderne, Centro Georges Pompidou, em Paris (França).

Kandinsky é considerado o precursor do estilo abstrato e era um artista muito ligado à música, tanto que boa parte de suas composições abstratas, como Amarelo-Vermelho-Azul, foram criadas a partir da relação entre a música, as cores e formas.

A tela de grandes dimensões (127 cm por 200 cm) apresenta diversas formas geométricas (como círculos, retângulos e triângulos) executadas, sobretudo, em cores primárias. O objetivo do artista foi chamar a atenção para os efeitos psicológicos que as cores e formas exercem nas pessoas.

A respeito do assunto, Kandinsky afirmou na altura:

“A cor é um meio para exercer uma influência direta sobre a alma. A cor é a tecla; o olho, o martelo. A alma, o instrumento das mil cordas. O artista é a mão que, ao tocar nesta ou naquela tecla, obtém da alma a vibração justa. A alma humana, tocada no seu ponto mais sensível, responde.”

2. Número 5, de Jackson Pollock

A tela Número 5 foi criada em 1948 pelo pintor norte-americano Jackson Pollock, que no ano anterior começou a explorar uma maneira completamente nova de compor seus trabalhos.

Seu método consistia em arremessar e pingar tinta esmaltada em uma tela esticada colocada no chão de seu estúdio. Essa técnica permitia criar um emaranhado de linhas, e mais tarde ganhou o nome de “pinturas por gotejamento” (ou dripping, em inglês) Pollock foi um dos maiores nomes do abstracionismo.

Desde 1940 o pintor tinha reconhecimento da crítica e do público. A tela Número 5, feita no ápice da sua carreira, é imensa, possui 2,4 m por 1,2 m.

A obra foi vendida a um colecionador particular em maio de 2006 por 140 milhões de dólares, batendo um recorde de preço para a época - até então esse havia sido o quadro mais bem pago da história.

3. Insula Dulcamara, de Paul Klee

INSULA DULCAMARA

Em 1938, o suíço naturalizado alemão Paul Klee pintou sete grandes painéis em formato horizontal. Insula Dulcamara é um desses painéis.

Todos os trabalhos foram esboçados com carvão sobre jornal, que Klee colou sobre estopa ou linho, obtendo assim uma superfície suave e diferenciada. Em diversas partes dos painéis é possível ler trechos do jornal utilizado, uma surpresa agradável e inesperada até para o próprio Klee.

Insula Dulcamara é dos trabalhos mais alegres do pintor, com seus acessórios livres, esparsos e sem forma definida. O título do trabalho está em latim e significa “insula” (ilha), “dulcis” (doce, amável) e “amarus” (amargo), podendo ser interpretada como “Ilha doce e amarga”.

A tela foi criada durante os seus últimos anos de vida e, a propósito dela, Klee deu a seguinte declaração:

"Não devemos recear ver-nos envolvidos no meio de elementos mais indigestos; temos apenas que esperar que as coisas mais difíceis de assimilar não venham perturbar o equilíbrio. Desta maneira, a vida é, com certeza, mais apaixonante que uma vida burguesa muito ordenada. E cada um é livre, de acordo com seus gestos, ao escolher entre o doce e o salgado dos dois pratos da balança."

4. Composição com Amarelo, Azul e Vermelho, de Piet Mondrian

Composição com Amarelo, Azul e Vermelho

Composição com Amarelo, Azul e Vermelho foi pintada inicialmente em Paris, entre 1937 e 1938, mas acabou por ser desenvolvida em Nova York entre 1940 e 1942, quando Mondrian reposicionou algumas das linhas pretas e acrescentou outras. A obra encontra-se, desde 1964, no acervo do Tate St Ives (Cornwall, Inglaterra).

O interesse de Mondrian estava na qualidade abstrata da linha. Embora tenha iniciado sua carreira com obras figurativas, com o passar do tempo o pintor investiu no abstracionismo e, em 1914, se radicalizou e praticamente eliminou as linhas curvas de seu trabalho.

O pintor francês desenvolveu uma nova forma de abstração rigorosa chamada neoplasticismo, na qual se limitava a linhas retas, horizontais e verticais, e cores primárias básicas. De modo geral, as suas composições não eram simétricas. Uma curiosidade: as linhas horizontais eram geralmente pintadas antes das verticais.

Mondrian sentiu que este tipo específico de arte refletia uma verdade maior e universal do que pregava a pintura figurativa.

5. Composição Suprematista, Kazimir Malevich

Composição Suprematista, Kazimir Malevich

Assim como Mondrian, o pintor soviético Kazimir Malevich criou uma nova forma de arte. O Suprematismo nasceu na Rússia entre 1915 e 1916. Assim como seus colegas abstracionistas, o desejo maior era negar a presença física de todo e qualquer objeto. A ideia era alcançar a pureza, ou, como afirmava o próprio criador, "a supremacia da sensação pura".

Assim, criou a obra abstrata Composição Suprematista em 1916, que apresenta as características essenciais desse novo estilo. É um trabalho com dimensões de 88,5 cm × 71 cm e faz parte de uma coleção privada.

A técnica é caracterizada pelo uso de formas geométricas simples e pela preferência por uma paleta de cores também simples, primárias e secundárias, algumas vezes sobrepostas, outras posicionadas lado a lado. O fundo é quase sempre branco nas criações de Malevich, representando o vazio.

6. O ouro do firmamento, de Joan Miró

O espanhol Joan Miró foi um artista empenhado em extrair de formas simples significados grandiosos, que em sua maioria dependem da imaginação e interpretação do observador.

Esse é o caso de O ouro do firmamento, quadro realizado em 1967 com a técnica de acrílico sobre tela e que hoje pertence ao acervo da Fundação Joan MIró, em Barcelona.

Nessa composição, vemos a predominância do amarelo, uma cor quente ligada a alegria, que envolve todas as formas.

Há uma grande massa esfumaçada de azul, que toma lugar de destaque, já que o restante das formas e linhas parecem flutuar ao seu redor.

O trabalho é considerado uma síntese do processo criativo de Miró, que se dedicou a investigar tanto a espontaneidade quanto a criação de formas precisas na pintura.

7. Bottle of Rum and Newspaper, de Juan Gris

Bottle of Rum and Newspaper

Pintada entre 1913 e 1914 pelo espanhol cubista Juan Gris, o trabalho em tinta a óleo sobre tela atualmente pertence ao acervo de Tate Modern (Londres). Gris frequentemente usava planos sobrepostos de cor e textura, e Bottle of Rum and Newspaper é um exemplar precioso da sua técnica.

O quadro, que é das suas obras mais representativas, carrega a imagem a partir de planos angulares em intersecção. Muitos deles têm trechos de madeira ao fundo, talvez sugestivo de um tampo de mesa, embora a maneira como se sobrepõem e se interligam negue qualquer possibilidade de perspectiva vinculada ao real.

A garrafa e o jornal do título são indicados com um mínimo de pistas: algumas letras, um contorno e uma sugestão de local são suficientes para apontar a identidade dos objetos. O quadro tem dimensões relativamente pequenas (46 cm por 37 cm).

8. Black in deep red, de Mark Rothko

Considerada uma pintura trágica devido às suas cores fortes e fúnebres, Black in Deep Red, criado em 1957, é um dos quadros de maior sucesso do pintor norte-americano Mark Rothko. Desde que começou a pintar, nos anos 1950, Rothko almejava alcançar a universalidade, indo ao encontro a uma simplificação cada vez maior da forma.

Black em Deep Red segue o formato característico dos trabalhos do artista, no qual os retângulos de cor monocromática parecem flutuar dentro dos limites do quadro.

Manchando diretamente a tela com muitas camadas finas de pigmento e dando atenção especial às bordas onde os campos interagem, o pintor alcançou o efeito da luz irradiando da própria imagem.

A obra atualmente pertence a uma coleção particular após ter sido vendida em 2000 por assombrosos mais de três milhões de dólares.

9. Concetto spaziale 'Attesa', de Lúcio Fontana

A tela acima faz parte de uma série de obras que o pintor argentino Lúcio Fontana produziu enquanto esteve em Milão entre 1958 e 1968. Essas obras, que consistem em telas cortadas uma ou múltiplas vezes, são coletivamente conhecidas como Tagli ("cortes").

Consideradas em conjunto, são o mais extenso e variado grupo de obras de Fontana, e passaram a ser vistas como emblemáticas da sua estética. O objetivo dos furos é, literalmente, romper a superfície do trabalho para que o espectador possa perceber o espaço que está além.

Lúcio Fontana começou a desenvolver a técnica de perfurar as telas a partir da década de 1940. O artista plástico permaneceu, nos anos 1950 e 1960, buscando maneiras diferentes de desenvolver os buracos como seu gesto característico.

Fontana faz as fendas com uma lâmina afiada e as telas são posteriormente apoiadas com gaze preta forte, dando a aparência de um vazio por atrás. Em 1968, Fontana disse a um entrevistador:

"Eu criei uma dimensão infinita (...) minha descoberta foi o buraco e é isso. Fico feliz em ir para o túmulo depois de tal descoberta”

10. Counter-Composition VI, de Theo van Doesburg

Counter-Composition VI, de Theo van Doesburg

O artista holandês Theo van Doesburg (1883–1931) pintou a obra acima no ano de 1925, em formato quadrado, usando tinta a óleo em uma lona.

As formas geométricas e simétricas são dispostas cautelosamente, antes de serem cobertas com tinta, as linhas pretas foram desenhadas com uma caneta a priori.Counter-Composition VI faz parte de uma coleção que preza especialmente a forma diagonal e os tons monocromáticos.

Além de pintor, van Doesburg também atuou como escritor, poeta e arquiteto e está relacionado ao grupo de artistas De Stijl. O trabalho Counter-Composition VI, de 50 cm por 50 cm, foi adquirido em 1982 pela Tate Modern (Londres).

11. Metaesquema, de Hélio Oiticica

Metaesquema

O artista plástico brasileiro Hélio Oiticica nomeou diversos trabalhos realizados entre 1957 e 1958 de metaesquemas. Tratava-se de pinturas que carregavam retângulos inclinados pintados com tinta guache sobre um cartão.

São formas geométricas com molduras de uma única cor (nesse caso o vermelho), diretamente aplicadas em uma superfície lisa e aparentemente vazia. As formas são organizadas em composições densas que se assemelham a grades inclinadas.

Oiticica produziu essa a série de pinturas enquanto vivia e trabalhava no Rio de Janeiro. Segundo o próprio pintor, tratava-se de uma “obsessiva dissecação do espaço”.

Elas foram o pontapé inicial de pesquisa para trabalhos mais complexos tridimensionais que o artista viria a desenvolver no futuro. Em 2010, um Metaesquema foi vendido em leilão da Christie’s por US$ 122,5 mil.

O que foi o Abstracionismo?

Historicamente as obras abstratas começaram a ser desenvolvidas na Europa no princípio do século XX, no contexto do movimento de Arte Moderna.

Trata-se de trabalhos que não pretendem representar objetos reconhecidos e não estão comprometidos com a imitação da natureza. Por isso, a primeira reação do público e da crítica foi de rejeição às criações, consideradas incompreensíveis.

As arte abstrata foi criticada justamente por romper com o modelo figurativo. Neste tipo de trabalho não há qualquer necessidade de vínculo com a realidade exterior e com a representação.

Com o passar do tempo, no entanto, as obras foram mais aceitas e os artistas puderam explorar seus estilos com profundidade.

Conheça também:

Laura Aidar
Revisão técnica por Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.
Rebeca Fuks
Edição por Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).