Ainda Estou Aqui, o filme que toca na ferida aberta da ditadura militar
Ainda Estou Aqui é um filme brasileiro de drama biográfico, apontado como um dos maiores lançamentos de 2024. Aclamado pelos espectadores e pela crítica especializada, o longa-metragem dirigido por Walter Salles pode ser um dos indicados ao Oscar.
A trama é uma adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, lançado em 2015, onde conta a história de seu pai que desapareceu durante a Ditadura Militar, nos anos 70.
Rubens Beyrodt Paiva foi uma das inúmeras vítimas do regime que sumiram sem deixar rastro. O antigo deputado, eleito pelo Partido Trabalhista Brasileiro, tinha regressado com os familiares ao Rio de Janeiro, após um período de exílio. De volta ao país, ele mantinha suas atividades revolucionárias em segredo.
Um dia, a vida de sua família desmorona, quando a casa é invadida e Rubens é levado por militares à paisana, sem que ninguém voltasse a vê-lo.
Uma obra-prima que conta a nossa história
Com um elenco de peso que inclui Fernanda Torres, Selton Melo, Fernanda Montenegro, Antonio Saboia e Marjorie Estiano, entre outros nomes, o longa-metragem tem vencido várias premiações internacionais. Na sua estreia, durante o Festival de Veneza, provocou grande comoção nos espectadores e foi ovacionado de pé.
No entanto, independentemente do sucesso lá fora, seu maior impacto é no povo brasileiro. A obra vem lembrar o período mais triste e traumático da história nacional, responsável por uma ferida coletiva que não sara nunca.
Walter Salles aborda o regime a partir das relações familiares e o modo como eram impactadas. Transmite a dor, mas também os laços inquebráveis que perduravam.
Mais que um filme, Ainda Estou Aqui se tornou um movimento de preservação da memória daqueles que morreram ou foram transformados pelos horrores da tortura. Ele vem humanizar estas vítimas, lembrando que não eram números, mas pessoas que deixaram entes queridos com o coração despedaçado.
Após assistir o longa, muitos espectadores têm usado as redes sociais para narrar as histórias de suas famílias, honrando a luta e a coragem de tantos anônimos que deram suas vidas pela liberdade.
Contando com uma interpretação irrepreensível de Fernanda Torres, que pode valer uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz, este é um retrato comovente dos anos de chumbo da ditadura. Podemos ver o medo e o silenciamento em que o povo brasileiro vivia, escondido atrás de um véu de normalidade.
A vida de Eunice e seus filhos
O filme começa por nos apresentar Rubens, sua simpatia e delicadeza com todos em redor. Assim, criamos uma ligação com o personagem, o que só aumenta a angústia ao sabermos o seu destino.
Aos poucos, a alegria e o barulho da casa cheia de amigos vão dando lugar ao silêncio e o vazio. A narrativa é contada a partir do ponto de vista da esposa, Eunice, que busca o paradeiro do marido durante décadas. Após ser presa e enfrentar 12 dias de interrogatório, ela precisa proteger os filhos e achar um jeito de se reinventar.
Sem poder exprimir o que sente, transforma sua dor em combustível para a luta. Cursando Direito, se torna advogada e ativista pelos direitos humanos. Contudo, as respostas que procura só chegam em 2014, com a Comissão Nacional da Verdade.
Ciente de que a vida da família precisa seguir, a mulher tenta que os filhos mantenham o sorriso e alguma esperança. Assim, vemos o amor e a união como armas de resistência política. Continuar vivendo sem baixar os braços é a única vingança possível.
Um trabalho sensível e atento aos pormenores, o filme usou fotografias da família Paiva para recriar cenas inesquecíveis. Além de uma homenagem a Rubens, Eunice e seus filhos, esta é uma história sobre a força do povo brasileiro.
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