Arte Conceitual

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
Tempo de leitura: 7 min.

A arte conceitual começou a ser divulgada a partir de meados dos anos sessenta (embora tenha havido precursores décadas antes), por artistas interessados em produzir trabalhos capazes de fomentar o diálogo e convocar a reflexão provocando o público.

Nesse gênero de criação a ideia (o conceito) é mais importante do que a aparência da obra.

O que é arte conceitual?

Na arte conceitual a ideia (ou, como o próprio nome diz, o conceito) é o aspecto mais importante da obra. Nesse gênero de arte, a ideia prevalece sobre a forma e, a execução e a beleza, são tidas como elementos secundários.

"arte não é sobre beleza"

Joseph Kosuth

Existem diferentes manifestações de arte conceitual. A arte conceitual pode ser, por exemplo, uma performance (mais ligada ao teatro), onde o próprio corpo do artista pode ser o lido como o suporte. Esse é o mesmo movimento que acontece com a body art.

Quais são as principais características da arte conceitual?

A recusa do objetualismo

De modo geral, é possível afirmar que os artistas conceituais recusam a ideia do objetualismo.

"Se queremos que a obra seja importante para nosso tempo, não podemos fazer arte decorativa ou simplesmente entretenimento visual."

Joseph Kosuth

Nesse tipo específico de arte não importa a técnica, a execução, o objeto palpável, tangível, o importante aqui é promover a reflexão, estimular o público a questionar.

Questionar o sistema

Os artistas que praticam a arte conceitual são contra uma apreciação puramente contemplativa tradicional da arte, o que eles pretendem é levantar uma discussão de ideias, debater a questão sobre o que é arte e, sobretudo, questionar o sistema, subvertê-lo.

Há um movimento no sentido de questionar o papel das instituições: qual é a função do espaço da galeria, do museu? Qual é a função do mercado? Da crítica?

A importância de um público participativo

Muitas vezes a arte conceitual é produzida a partir de metáforas que, apenas olhando, o espectador não irá ser capaz de decodificar. A obra convoca então o público a acionar outros dispositivos levantando a necessidade da interatividade, da experiência tátil, da reflexão, instigando a um olhar prolongado.

Nesse sentido a aura da obra de arte perde o seu valor, dando lugar a um espaço de ponderação, demandando uma postura ativa daquele que se coloca diante da criação.

5 Exemplos de obras conceituais

Parangolé, de Helio Oiticica

Em termos de arte conceitual brasileira, é impossível não mencionar a criação parangolé, de Helio Oiticica. O artista ficou famoso também por realizar uma série de instalações sensoriais, mas provavelmente a sua produção que ganhou maior repercussão foi o parangolé.

A obra é composta por capas de materiais diversos (uma série de texturas e cores distintas), que envolvem o corpo do participante proporcionando uma interessante estética visual quando há movimento.

Ao sair do espaço preso do quadro, da pintura em tela, a arte interativa como o parangolé propicia a construção de abrigos e instantes de lazer tanto para quem o veste como para quem assiste a experiência.

Parangolé
Parangolé, de Helio Oiticica

Baba antropofágica, de Lygia Clark

A criação de Lygia Clark feita em 1973, enquanto dava aulas na Sorbonne, consistia numa curiosa interação social. No instante da produção, um participante (estudante), deitado no chão, é envolvido por fios de linha que passam pela boca dos que estão a volta e acabam por formar uma rede sobre o corpo deitado. Depois há um ritual de destruição da teia que se formou.

O processo, que é para ser repetido várias vezes, compõe uma das performances de maior importância para as artes brasileiras. Baba antropofágica estimula o espectador e os integrantes a repensarem a antropofagia dos índios brasileiros e dos artistas modernistas.

baba antropofagica
Baba antropofagica (1973), de Lygia Clark

Para conhecer outras obras da artista, leia: Lygia Clark: as principais obras da artista contemporânea.

Olvido, de Cildo Meireles

Cildo Meireles, outro artista brasileiro, criou Olvido, uma importante obra conceitual desenvolvida entre 1987 e 1989. A criação fala sobre o processo de colonização europeu fazendo uma crítica e estimulando o espectador a refletir sobre esse período da história.

No seu projeto, vemos uma tenda revestida de notas (de dinheiro), enquanto no solo observamos ossos de boi representando a população indígena dizimada. Em termos sonoros, podemos ouvir de dentro da tenda um ruído de motosserra.

Olvido
Olvido (1987-1989), de Cildo Meireles

Uma e Três Cadeiras, de Joseph Kosuth

Talvez a obra mais citada em termos de arte contemporânea seja Uma e Três Cadeiras, do artista norte-americano Joseph Kosuth. A instalação foi criada quando o artista tinha vinte anos e é considerada, até os dias de hoje, uma das maiores obras da arte conceitual.

Na montagem vemos três imagens: uma cadeira ao centro, do lado esquerdo uma fotografia dessa mesma cadeira e do lado direito um verbete do dicionário fazendo referência à palavra cadeira. Esses três conceitos fazem o espectador refletir sobre o que é uma obra de arte e o papel da representação.

Uma e Três Cadeiras, de Joseph Kosuth
Uma e Três Cadeiras (1965), de Joseph Kosuth

Belief System, de John Latham

Criada em 1959, pelo artista nascido no Zâmbia, John Latham, a obra Belief System trabalha com a ideia da construção e da destruição do livro físico.

Assim como numa série de outras criações, Latham coloca os livros em espaços inesperados, inutilizando-os com tinta ou mesmo os deformando.

Simbolicamente os livros são vistos pelo artista não só como fonte de conhecimento e um repositório de informações como também como fonte de erros e testemunho do passado. Os livros são tidos igualmente como metáfora do conhecimento ocidental.

john latham
Belief System (1959), de John Latham

Quando surgiu a arte conceitual?

O que compreendemos como arte conceitual teve início em meados de 1960, embora já existissem artistas precursores como o francês Marcel Duchamp que criou o seu famoso urinol e as obras ready made.

O urinol é considerado por muitos críticos como o protótipo das obras conceituais. Ele teria sido o pontapé inicial das peças ready made, isto é, objetos cotidianos que foram transformados em materiais artísticos num movimento que se consagrou a partir de 1913.

Em termos sociais, a arte conceitual nasceu num período de questionamento em vários âmbitos: tanto sociais, quanto ideológicos e também artísticos.

Revolucionária a sua maneira, compreendemos a radicalidade da arte conceitual se olharmos para trás fazendo um panorama da história da arte. Basta observar que até o século XIX era impensável falar sobre artes sem se pensar em um objeto (uma tela, uma escultura), era inconcebível existir uma obra de arte sem um suporte físico.

Principais artistas conceituais

Artistas Estrangeiros

  • Joseph Kosuth (1945)
  • Joseph Beuys (1921-1986)
  • Lawrence Weiner (1942)
  • Piero Manzoni (1933-1963)
  • Eva Hesse (1936-1970)

Artistas Brasileiros

  • Helio Oiticica (1937-1980) (um dos primeiros artistas a inaugurar a arte conceitual no Brasil no princípio da década de 60)
  • Lygia Clark (1920-1988)
  • Cildo Meireles (1948)
  • Anna Maria Maiolino (1942)

Conheça também

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).