O que é a Arte Contemporânea? História, principais artistas e obras
A arte contemporânea é uma tendência que originou-se como desdobramento - e superação - de manifestações artísticas modernas. Por conta disso, pode ser chamada também de arte pós-moderna.
Mais preocupada em aliar a vida cotidiana ao universo artístico, a arte contemporânea tende a unir diferentes linguagens.
Surgida na segunda metade do século XX, essa vertente constitui uma nova forma de produzir e apreciar arte, sendo produzida até os dias de hoje.
Atualmente, utiliza a tecnologia e os meio digitais como grandes aliados a fim de provocar questionamentos e experiências inovadoras tanto para os artistas quanto pra o público.
Características da Arte Contemporânea
A arte contemporânea, por estar inserida em um mundo com grande fluxo de informações e inovações tecnológicas e midiáticas, se utiliza desses recursos como forma de comunicação.
Além disso, quebra as barreiras no que diz respeito às linguagens da arte, unindo tipos diversos de fazer artístico em uma obra, afastando-se dos suportes tradicionais.
Essa é uma tendência que valoriza a aproximação entre a arte e a vida, muitas vezes trazendo reflexões de âmbito coletivo, aliando política e imaterialidade. Traz ainda novas personagens e assuntos, como por exemplo a questão racial, patriarcado, questões de sexualidade e gênero, desigualdades e outras.
Herdando o espírito contestador dos dadaístas, a arte contemporânea tem ainda a preocupação de investigar a si mesma, carregando indagações sobre conceitos artísticos e fomentando a velha pergunta "Afinal, o que é arte?".
Outra característica interessante é a valorização da interação entre o público e a obra, muitos artistas optam por caminhos em que buscam proporcionar uma experiência única nas pessoas que entram em contato com as obras.
Principais artistas contemporâneos
São muitas as pessoas que se dedicaram e se dedicam a produzir arte contemporânea no Brasil e no mundo. Listar todos os artistas importantes dentro desse universo seria uma tarefa de enormes proporções. Conheça alguns:
Grupo Fluxus
O Grupo Fluxus foi um movimento artístico que existiu na década de 60 e contava com diversos artistas que se utilizavam de variados suportes para produzir uma arte contestadora, provocativa e ousada. O grupo foi essencial para a consolidação da arte contemporânea no mundo.
Fluxus foi assim batizado porque o termo latino deriva de fluxu, que quer dizer "escoamento", "fluidez". Os artistas do movimento acreditavam em uma maior integração entre a arte e a vida
Seus integrantes estavam presentes em diversos países, foram eles:
- França: Ben Vautier (1935)
- Estados Unidos - Higgins (1938-1998), Robert Watts (1923-1988), George Brecht (1926), Yoko Ono (1933)
- Japão - Shigeko Kubota (1937), Takato Saito (1929)
- Países nórdicos - Per Kirkeby (1938)
- Alemanha - Wolf Vostell (1932-1998), Joseph Beuys (1912-1986), Nam June Paik (1932-2006).
Dick Higgins, artista americano que participou do grupo, certa vez definiu o movimento da seguinte forma:
Fluxus não foi um momento na história ou um movimento artístico. É um modo de fazer coisas [...], uma forma de viver e morrer.
Marina Abramović (1946-)
Marina Abramović nasceu na Sérvia e é considerada uma das artistas contemporâneas mais importantes, isso por seu papel essencial na linguagem da performance nos anos 70.
Junto com seu ex-companheiro, o artista alemão Ulay, criou obras que testam seus próprios limites, abordando assuntos como tempo, identidade e relações amorosas.
A última performance que realizaram foi feita como marco da separação do casal, que caminhou quilômetros, encontrando-se na Muralha da China.
Abaixo, podemos ver uma imagem da performance The artist is present, apresentada no MoMa em 2010, em Nova Yorque. Na ocasião, Marina passou várias horas sentada trocando olhares com o público.
O que ela não sabia é que Ulay estava presente na exposição. Ele sentou-se em frente da artista e o reencontro depois de muitos anos foi emocionante.
Hélio Oiticica (1937-1980)
Hélio Oiticica foi um artista brasileiro de renome no cenário nacional. Trabalhou com suportes como escultura, performance, pintura.
Hélio foi bastante atuante, participando de movimentos importantes como o Grupo Frente (1955 e 1956) e o Grupo Neoconcreto (1959).
Sua grande contribuição foi em torno da compreensão do espaço, partindo do bidimensional para o tridimensional.
Hélio inovou também ao unir o corpo à obra de arte. Um exemplo clássico são os famosos Parangolés, esculturas coloridas em tecido que as pessoas vestiam.
Rosana Paulino (1967-)
Rosana Paulino é uma artista brasileira que apresenta trabalhos com forte questionamento acerca de temas importantes, como o racismo estrutural e a situação feminina no Brasil.
Ela exibe produções em linguagens diversas, como o bordado, escultura, desenho, fotografia.
Na obra abaixo, intitulada Bastidores (1997), são apresentadas fotografias de mulheres negras em bastidores de madeira. Suas bocas e olhos são costurados, fazendo alusão à impotência e silenciamento das vítimas de violência doméstica e, em um sentido mais amplo, da opressão social.
Banksy
O artista inglês Banksy é um dos mais aclamados atualmente. Pouco se sabe sobre sua identidade real, que ele faz questão de manter como mistério.
Geralmente, suas obras são feitas nas ruas de grandes cidades. São pinturas produzidas com a técnica de stencil e carregam grandes questionamentos sobre a sociedade de consumo, valores, princípios morais e sociais.
Os trabalhos estão presentes em vários lugares do mundo, como Inglaterra, Barcelona, França, Viena, Austrália, EUA e Oriente Médio.
Para conhecer outros trabalhos dos artistas, leia: Obras fantásticas de Banksy
História da Arte Contemporânea
Podemos considerar que a arte contemporânea começa a dar frutos a partir de movimentos como a pop art e o minimalismo, que tiveram como solo fértil os EUA na década de 60.
Nesse momento, o contexto que se vivia era do pós-guerra, do desenvolvimento tecnológico e do fortalecimento do capitalismo e da globalização.
Assim, a indústria cultural, e consequentemente a arte, sofreram grandes transformações que deram as bases para o surgimento do que hoje chamamos de arte contemporânea.
Esse novo fazer artístico começa a valorizar mais as ideias e o processo artístico em detrimento da forma final ou do objeto, ou seja, os artistas passam a buscar o estímulo a reflexões sobre o mundo e sobre a própria arte. Além disso, empenham-se em aproximar a arte da vida comum.
Nesse sentido, a pop art com seus expoentes Andy Warhol, Roy Lichtenstein e outros artistas, cria um cenário cultural propício para a arte contemporânea.
Isso porque essa vertente via na cultura de massas seu suporte fundante, utilizando histórias em quadrinhos, publicidade e até mesmo celebridades como material de criação, aproximando o público do universo artístico.
Da mesma forma, o minimalismo e pós-minimalismo (no fim dos anos 50 e nos anos 60) oferecem a oportunidade para se pensar a união entre linguagens como a pintura e a escultura, assim como a utilização do espaço de maneira inovadora, seja ele o ambiente da galeria, os espaços públicos urbanos ou em meio à natureza.
Posteriormente, novos desdobramentos ocorreram e possibilitaram o surgimento de outras formas de expressão, como performances, videoarte, instalações e outras.
Arte Contemporânea no Brasil
Normalmente as novas vertentes artísticas tendem a aparecer no Brasil depois de certo tempo em que já estão ocorrendo em outros lugares, como Europa e EUA, basicamente. Entretanto, no caso da arte contemporânea, esse espaçamento de tempo não foi tão grande.
Em terras brasileiras, pode-se dizer que esse tipo de arte tem início com os neoconcretistas, que fundam um Manifesto Neoconcreto em 1959. Os responsáveis pelo documento foram Amilcar de Castro (1920-2002), Ferreira Gullar (1930-2016), Franz Weissmann (1911-2005), Lygia Clark (1920-1988), Lygia Pape (1927-2004), Reynaldo Jardim (1926-2011) e Theon Spanudis (1915-1986).
Outro nome fundamental para a arte contemporânea nacional é Hélio Oiticica (1937-1980), que ganhou inclusive projeção fora do país.
Um grande momento também de efervescência da arte brasileira contemporânea foi marcado pela exposição Como vai você, Geração 80?, realizada no Rio de Janeiro, no Parque Lage em 1984.
A mostra reuniu 123 artistas e teve como objetivo mapear produções variadas da época. Participaram artistas que se tornaram referências, como Alex Vallauri (1949-1987), Beatriz Milhazes (1960), Daniel Senise (1955), Leda Catunda (1961) e Leonilson (1957-1993).
As Bienais Internacionais de São Paulo são também grandes centros culturais que apontam resultados e experimentações no território artístico brasileiro.
Movimentos da Arte contemporânea
Os movimentos artísticos dentro da arte contemporânea são diversos e muitas vezes seus limites são difusos, mesclando-se uns aos outros.
Contudo, listamos alguns deles e podemos defini-los da seguinte maneira:
Arte Conceitual
Nesse tipo de arte, a valorização é pela ideia - o conceito - em detrimento da forma final. Aqui, busca-se criar questionamentos por meio da arte, sugerindo uma atitude mental. A primeira vez que o termo foi utilizado foi dentro do Grupo Fluxus, nos anos 60.
Sobre essa corrente, o artista Sol LeWitt (1928-2007) disse:
A própria ideia, mesmo se não é tornada visual, é uma obra de arte tanto quanto qualquer produto.
Arte Povera
A arte povera foi uma corrente artística surgida na Itália nos anos 60 que se esforçava em produzir arte com materiais acessíveis, "pobres" e rústicos, a fim de criar uma nova estética.
A intenção dos artistas era fazer críticas ao consumismo, indústria e sistema capitalista, fomentando questionamentos sobre os objetos artísticos com materiais simples e efêmeros.
Performance na Arte
A arte da performance foi também uma manifestação que originou-se na década de 60 como consequência das experimentações de artistas diversos, como os do movimento Fluxus, por exemplo.
Nessa linguagem, geralmente mesclada a outras formas de expressão, o artista se utiliza do seu próprio corpo como material e suporte para a realização do trabalho.
Tem como característica a efemeridade, ou seja, a ação acontece em determinado lugar e tempo, portanto a obra tem uma duração. Apesar disso, pode-se ter uma ideia do trabalho através dos registros que são feitos, normalmente por meio de fotografia e vídeos.
Hiper-realismo
Essa corrente da arte contemporânea ganhou força no final dos anos 60 nos EUA. Tem como objetivo uma retomada da estética figurativa realista/fiel, em contraposição ao expressionismo abstrato e ao minimalismo, que buscavam modos de expressão mais subjetivos.
Nesse tipo de realismo, as inspirações vem do mundo contemporâneo, utilizando como base assuntos e temas atuais.
No vídeo abaixo você pode conferir uma reportagem da TV Folha sobre uma exposição do escultor australiano hiper-realista Ron Mueck realizada na Pinacoteca de São Paulo em 2014.
Land Art
A land art é um movimento que faz parte das novas proposições artísticas surgidas na década de 60 nos EUA e Europa.
O termo land art tem como significado "arte da terra". Isso porque esses trabalhos possuem uma forte ligação com a natureza, utilizando os espaços naturais como suporte e matéria. Dessa forma, o que se tem é uma arte totalmente integrada ao meio ambiente.
Street Art
A street art, ou arte de rua, surgiu nos EUA na década de 70. Essa é uma expressão feita no espaço público, e pode englobar a pintura (grafite e stencil), performance, teatro, dentre outras formas de criação.
Possui caráter efêmero, pois a partir do momento em que está nas ruas, o artista não tem mais controle sobre o trabalho. A interação com o público também é um ponto importante, sendo essas obras geralmente realizadas em centros urbanos com grande circulação de pessoas.
Body Art
Na esteira dos processos criativos inovadores dos anos 60 e 70, surge também a body art, ou arte do corpo. Nessa linguagem, os artistas usam o corpo como matéria. Por isso, muitas vezes a body art mescla-se à performance e outras expressões.
Nesses trabalhos, o que vemos muitas vezes é o corpo utilizado como potência máxima para a expressão de sentimentos dúbios, como dor, angústia e prazer, além de ferramenta para provocar questionamentos.
Bruce Nauman, artista estado-unidense que se utiliza dessa linguagem, disse:"Quero usar o meu corpo como material e manipulá-lo".
Diferença entre arte moderna e arte contemporânea
É chamada arte moderna aquela produzida a partir do final do século XIX e início do século XX. Com as mudanças que foram ocorrendo no mundo, a arte foi também se transformando.
É difícil definir exatamente quando a arte contemporânea se inicia, mas um marco considerável é a corrente Pop Art, que começa a mesclar os interesses comuns das pessoas e a cultura de massas com a arte.
Assim, embora as diferenças entre uma tendência e outra não sejam muito nítidas, pode-se dizer que na arte contemporânea há maior preocupação em tornar a arte mais próxima da vida.
Outros pontos que merecem destaque são junção de linguagens, uso da tecnologia e valorização da ideia em detrimento da forma na arte feita na contemporaneidade.
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