Arte Indígena: tipos de arte e características

Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes
Tempo de leitura: 8 min.

A arte indígena é a arte que é produzida pelos povos nativos de um determinado local, sendo por isso múltipla e bastante diversificada. Ela assume diferentes facetas, formas e atributos, dependendo da localização e das tradições do povo que a produziu.

Assim, a arte de cada tribo ou etnia indígena apresenta as suas singularidades. Existem, no entanto, traços comuns que são transversais às várias regiões: um exemplo é a pintura corporal.

No Brasil, estas manifestações artísticas são um dos elementos basilares da nossa cultura e permanecem no nosso território através de diversas expressões.

Arte indígena brasileira

A arte indígena é uma parte valiosa da cultura brasileira e um dos pilares a partir dos quais o nosso imaginário nacional se formou.

Considera-se arte indígena nacional aquela que foi produzida pelos povos nativos antes, durante e depois do processo de colonização. Algumas dessas manifestações artísticas são as mais antigas do nosso território, sendo conservadas até os dias de hoje.

No Brasil, esta cultura se manifesta principalmente através da cerâmica, das máscaras e das pinturas corporais, embora também seja visível através da tecelagem, da música, da dança e da própria mitologia.

Nativos da etnia Rikbaksta.
Nativos da etnia Rikbaktsa (ou ricbactas)

São vários os desenhos e símbolos usados por cada etnia, assim como os tipos de arte praticados. Os seus padrões originais vão sendo repetidos em diversas peças, funcionando como algo que ajuda a identificar a sua procedência.

Segundo o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2010, o Brasil tem mais de 800 mil cidadãos indígenas distribuídos por mais de 250 povos.

Mesmo assim, esta população continua sendo alvo de inúmeras discriminações e violências. Por toda a beleza, história e valor cultural que as suas criações carregam, precisamos preservá-las e divulgá-las o mais que pudermos.

Tipos de arte indígena

Pintura corporal indígena

A pintura corporal é um dos principais elementos desta arte, podendo assumir diversas técnicas e padrões. Feita maioritariamente pelas mulheres, ela não tem um fim utilitário, mas carrega muitas mensagens e simbologias.

Assurinis do Tocantins.
Pintura dos Assurinis do Tocantins, povo localizado no Pará

As tintas variam de tribo para tribo, sendo preparadas de diferentes formas a partir de recursos naturais distintos, principalmente plantas, árvores e frutos. As pinturas e as tonalidades também podem variar dentro de um mesmo grupo, devido a fatores como o gênero, a idade ou a função na comunidade.

Alguns exemplos bastante conhecidos são a tinta preta feita a partir de jenipapo, a vermelha feita do urucum e a de tonalidade branca, que vem da tabatinga. As cores vivas e cheias de intensidade canalizam valores como a alegria, a força e a energia.

Urucum, fruto vermelho usado para criar tinta.
Urucum (ou urucu), o fruto usado para criar tinta vermelha

Os padrões e desenhos incorporados são inúmeros, já que estão relacionados com os símbolos, as crenças e a história de cada povoação. Eles surgem em incontáveis combinações e arranjos, podendo também representar momentos e emoções em específico.

Embora sejam habitualmente usadas em rituais e cerimônias, estas pinturas corporais por vezes surgem apenas como um elemento estético, pensado para embelezar os corpos.

Esse é o caso, por exemplo, dos Karajás, que usam estas pinturas como um modo de enfeitar e decorar os seus corpos com imagens que vão inventando.

Uma nativa dos Kadiwéu em 1892.
As pinturas de uma nativa dos Kadiwéu em 1892

Os Kadiwéu (ou cadiuéus), do Mato Grosso do Sul, ficaram conhecidos pelos seus desenhos detalhados que continham elementos como listras e espirais. Atualmente, essas pinturas estão presentes nos vasos de cerâmica que eles vendem.

Para conhecer mais sobre o assunto, leia: Pintura corporal, da ancestralidade aos dias de hoje.

Máscaras indígenas

Usadas em rituais, cerimônias e celebrações, as máscaras indígenas têm uma alta carga simbólica. Habitualmente elas estão reservadas para alguns momentos especiais, como comemorações e rituais sagrados, pela sua forte ligação ao mundo do sobrenatural.

Parte dos costumes e do folclore de cada população, seguem as tradições e representam entidades que estes indivíduos querem agradar ou acalmar.

Máscara dosTicunas, ou tucunas, que habitam a região da Amazônia.
Máscara dos Ticunas (ou tucunas) que habitam a região da Amazônia

Os Tucanos e os Aruaques utilizam estes objetos enquanto realizam danças sagradas. Também é assim com os Karajás, que as reservam para a Aruanã, uma dança que visa homenagear os seus heróis.

As máscaras são feitas a partir de materiais como palha, cabaças ou cascas de árvore, e costumam ser decoradas com desenhos e penas de pássaros. Contudo, no caso dos Matis, do sudoeste da Amazônia, elas se destacam por serem fabricadas em cerâmica.

Cerâmica indígena

A cerâmica também é bastante comum em diversas etnias de origem indígena e normalmente é feita por mulheres.

O barro não só é manipulado para criar objetos utilitários, como vasos e taças, mas também estátuas e recipientes para guardar cinzas dos mortos, entre outros.

Exemplo de vaso de cerâmica indígena.
Vaso de cerâmica da etnia Waurá, do Xingu

Embora trabalhem de maneiras diferentes, estes povos não utilizam roda de oleiro (instrumento que normalmente é utilizado na olaria), criando peças com formas singulares. As obras são adornadas com padrões e elementos decorativos.

Os Kadiwéu continuam, atualmente, produzindo peças de cerâmica que decoram com as mesmas imagens que usavam nas pinturas corporais. Já a Ilha de Marajó ficou conhecida internacionalmente pelas suas peças.

Vaso de cerâmica criado pelos Kadiwéu.
Vaso de cerâmica criado pelos Kadiwéu

A região se destacava pela cerâmica da cultura marajoara (obras de dimensões maiores) e da cultura santarena (que retratava figuras humanas e continha elementos em relevo).

Cestaria / trançado indígena

Outra atividade mais praticada pelo sexo feminino, a cestaria indígena também é rica e variada. Com materiais como folhas ou fibras de árvores (por exemplo, a folha de palmeira), o trançado pode ser feito através de diferentes técnicas, de vários modos, decorando as obras com padrões e figuras.

Cesto da etnia Tariana.
Cesto da etnia Tariana, localizada nas margens do rio Uaupés

Sempre tendo em vista as necessidades do dia-a-dia, estes cestos podem assumir diferentes funções: coar substâncias líquidas, peneirar farinha, transportar e armazenar bens alimentícios.

Os Baniwa, localizados na fronteira que separa o Brasil da Colômbia e da Venezuela, são famosos pela cestaria de arumã que é vendida pelo país.

Plumagem

Não só as máscaras, mas diversos objetos são decorados através da plumagem: flechas, cocares, pulseiras, brincos, entre outros. As penas e as plumas são recolhidas das aves no momento da caça, sendo posteriormente tingidas e cortadas. Em seguida, são diretamente coladas ao corpo de alguém ou usadas para a decoração de artefatos.

Exemplo do trabalho de plumagem no cocar.
Arte plumária dos Caapores (ou Ka'apor)

Assim como no caso da pintura corporal, a arte plumária indígena também é carregada de simbologia. Para os Palicures, por exemplo, as penas vermelhas de arara eram uma homenagem aos espíritos para afastar o mal.

Por serem objetos de grande valor, eles são apenas utilizados em momentos cerimoniais. A cor e o formato das plumas fazem distinções de gênero, idade, importância no grupo, etc.

Habitualmente feita por homens, a plumagem também é mais usada por eles, sendo encarada como uma manifestação de poder e estatuto social.

Características da arte indígena

Um dos traços mais marcantes da arte indígena é a sua dimensão coletiva. Aqui, o fazer artístico não se trata de uma atividade individual: pelo contrário, é algo partilhado.

Intimamente ligadas à vida em comunidade, às necessidades diárias, celebrações, cerimônias e rituais, estas formas artísticas estão alicerçadas nas tradições e são transmitidas de geração em geração.

Em traços gerais, podemos afirmar que embora as peças tenham preocupações estéticas, a maior parte possui um caráter utilitário, ou seja, tratam-se de objetos que podem ser (e são) usados no cotidiano.

Também importa salientar que estes objetos artísticos utilizam materiais recolhidos na natureza: folhas, frutos, árvores, ossos, dentes e plumas de animais, entre outros.

Além daqueles que são usados na vida comum, alguns são encarados como artefatos cerimoniais que aproximam os indivíduos do mundo espiritual.

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.