Arte Moderna: movimentos e artistas no Brasil e no mundo

Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual
Tempo de leitura: 12 min.

Arte moderna é o nome dado aos movimentos artísticos que brotaram na Europa nos últimos anos do século XIX. Essas vanguardas artísticas, como ficaram conhecidas, prolongaram-se até a metade do século seguinte, chegando ao Brasil em torno dos anos 20.

Nessa época, os artistas buscavam outros olhares e maneiras de representar o mundo, descolando-se da arte tradicional.

Assim, surgiram diversas vertentes nas artes plásticas como expressionismo, fauvismo, cubismo, abstracionismo, futurismo, surrealismo e dadaísmo.

Arte Moderna no Brasil

No Brasil, o movimento modernista surgiu posteriormente às vanguardas europeias. Aqui, o período decisivo para sua consolidação foi a década de 20, com a Semana de Arte Moderna. Entretanto, já havia artistas realizando obras com características modernas alguns anos antes.

A estudante russa, Anita Malfatti
A estudante russa (1915), de Anita Malfatti. Uma das primeiras pinturas modernistas no Brasil

Contexto histórico

O contexto histórico que o país vivia no início do século XX era de crescimento, progresso, industrialização e a chegada de muitos imigrantes, que vinham de diversas partes do mundo para reconstruir a massa trabalhadora depois da abolição da escravatura.

Era um momento de fortalecimento do capitalismo e portanto os conflitos sociais também se acirravam. Houve, por exemplo, greves de imigrantes operários organizados por movimentos anarquistas em busca de melhores condições de vida.

Assim, começa a surgir a necessidade de um novo tipo de arte que transmita os anseios vigentes e as esperanças no futuro.

Paralelamente a isso, já ocorria na Europa uma busca pela experimentação e ruptura das tradições. Então, alguns artistas brasileiros entraram em contato com essa agitação em terras estrangeiras e trouxeram um frescor artístico e o empenho em implementar uma arte nova por aqui, com inspiração nas vanguardas europeias.

Nomes essenciais nesse momento foram Lasar Segall (1891-1957) e Anita Malfatti (196-1964), que podem ser considerados os precursores da arte moderna no país, realizando exposições ainda nos anos 10.

Importante dizer que a arte de Anita foi duramente criticada e mal compreendida por boa parte da intelectualidade brasileira, sobretudo por Monteiro Lobato. Já Lasar Segall, por ser de origem estrangeira (Lituânia), não sofreu grandes críticas.

Semana de Arte Moderna

Com toda essa movimentação, outros artistas também estavam explorando novos rumos na arte e na literatura.

Assim, eles decidem organizar uma espécie de "festival", onde apresentam suas mais novas produções. Dessa forma nasce a "Semana de Arte Moderna", ou "Semana de 22", como também ficou conhecida.

semana de arte moderna
Cartazes da Semana de Arte Moderna, feitos por Di Cavalcanti

O evento fez parte das comemorações dos cem anos de independência do Brasil, em 1922, e foi realizado no Theatro Municipal de São Paulo, de 13 a 18 de fevereiro desse mesmo ano.

A intenção dos artistas era trazer novidades e desafiar os padrões vigentes da arte, ainda muito conservadora e atrelada aos valores do século XIX.

Essa foi uma mostra que exibiu aproximadamente 100 obras de arte e contou com apresentações literárias e musicais. A ideia da Semana, na realidade, foi inspirada pelo evento francês Semaine de Fêtes de Deauville e contou com o apoio de Paulo Prado, um mecenas que conseguiu suporte financeiro com barões do café.

Representantes brasileiros da arte moderna

Foram vários os artistas que contribuíram para para a consolidação da arte moderna no Brasil, tanto nas artes plásticas quanto na literatura. Além dos pintores Anita Malfatti e Lasar Segall, que já estavam à frente nesse tipo de arte, tivemos:

  • Di Cavalcanti (1897-1976) - pintor, ilustrador, escritor e gravurista. Foi uma figura essencial para a realização da Semana de 22, considerado o grande idealizador.
  • Vicente do Rego Monteiro (1899-1970) - O pintor é um dos primeiros a explorar a estética cubista com temas característicos do Brasil, como mitos indígenas.
  • Victor Brecheret (1894-1955) - um dos maiores nomes da escultura no Brasil. Teve influência de Auguste Rodin e suas obras tinham elementos expressionistas e cubistas.
  • Tarsila do Amaral (1886-1973) - pintora e desenhista. Não participou da Semana de Arte Moderna porque estava na França participando de uma exposição. Entretanto, teve papel fundamental no movimento modernista denominado Antropofagia.
  • Manuel Bandeira (1886-1968) - escritor, professor e crítico de arte. Sua produção literária trazia inovações na forma de se expressar e à principio questionava os poetas parnasianos. O poema Os sapos foi declamado na Semana de Arte Moderna.
  • Mario de Andrade (1893-1945) - escritor marcante da primeira geração de modernistas no Brasil. Sua produção valorizava a identidade e cultura nacional.
  • Oswald de Andrade (1890-1954) - escritor e dramaturgo. Uma das figuras centrais no modernismo literário, com um estilo irreverente e ácido, revisitando as origens do Brasil de forma questionadora.
  • Graça Aranha (1868-1931) - escritor e diplomata. Ajuda a fundar a Academia Brasileira de Letras e tem papel fundamental na Semana de Arte Moderna.
  • Menotti Del Picchia (1892-1988) - escritor, jornalista e advogado. Em 1917 publica o romance Juca Mulato, sua obra prima, considerada pré-modernista. Participa em 1922 da Semana de Arte Moderna, coordenando a segunda noite do evento.
  • Villa Lobos (1887-1959) - compositor e maestro. Um dos maiores músicos brasileiros, com grande reconhecimento internacional também. Sua estreia foi na Semana de Arte Moderna, onde sua obra não foi compreendida pelo público.
  • Giomar Novaes (1895-1979) - pianista. Também participou da Semana de 22 e foi rechaçada na época. Entretanto construiu forte carreira no exterior e foi uma grande propagadora da música de Villa Lobos.

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Arte Moderna na Europa

A arte Moderna surgiu primeiramente na Europa como decorrência do momento conturbado que se vivia. Era início de um novo século e os anseios por mudanças permeavam a sociedade e o universo das artes.

Dessa forma, foram aparecendo diversos movimentos artísticos que buscavam romper com os padrões e tradições. Pode-se pensar que os impressionistas foram os primeiros a "inaugurar" a arte moderna, pois estes estavam experimentando diferentes meios de imprimir a realidade nas telas.

Entretanto, apesar de terem sido cruciais para o desenvolvimento das novas vanguardas, eles continuavam presos ao mesmo objetivo dos artistas conservadores. Tal intenção era representar o mundo da forma mais real possível, mas trazendo inovações na forma de explorar as nunces de cor, luz e enquadramento.

Nessa época, a consolidação da fotografia trouxe alguns questionamentos e influências no campo das artes.

Já as vertentes que se seguiram tinha a intenção de subverter ideias, sensações e trazer questionamentos por meio de obras que sugeriam novas formas, cores e abordagens.

Leia também: Modernismo: resumo e contexto histórico.

Movimentos e artistas da Arte Moderna

Expressionismo

Essa vertente originou-se na Alemanha, mais precisamente na cidade de Dresden. Em 1904 os artistas Ernst Kirchner (1880-1938), Erich Heckel (1883-1970) e Karl Schmidt-Rottluff (1884-1976) criaram o grupo Die Brücke, com tradução para "A ponte".

obra expressionista
Obra expressionista O ginete circense (1913), de Ernst Kirchner

O coletivo tinha como intenção imprimir em suas obras um caráter mais sentimental, expressando assim as angústias e emoções que floresciam na sociedade moderna, logo no início do século XX.

O expressionismo foi também uma oposição ao movimento anterior, o impressionismo, que buscava apenas estudar os fenômenos óticos, de luz e cores, não se importando com questões psicológicas do ser humano.

Importantes artistas que influenciaram fortemente esse movimento foram Vincent van Gogh (1853-1890) e Edvard Munch (1863-1944).

Fauvismo

O fauvismo foi um movimento que surgiu a partir de uma exposição de jovens artistas em Paris. O ano era 1905 e o nome que ficou mais conhecido foi o de Henry Matisse (1869-1954).

Henry Matisse fauvismo
A mesa de jantar ou Harmonia em vermelho (1908), de Henry Matisse

Na exposição, as obras foram pouco compreendidas e, por conta disso, os pintores foram chamados de les fauves, “as feras” em português. Isso porque, as cores e formas que eram utilizadas tinham pouco ou nenhum compromisso com a realidade.

As principais características dessa vertente eram as cores intensas e puras e a falta de sombreamento nas figuras.

Além de Matisse, outros nomes que representam essa corrente são: André Derain (1880-1954), Maurice de Vlaminck (1876-1958), Othon Friesz (1879-1949).

O fauvismo acabou por influenciar grandemente uma nova maneira de colorir e estampar objetos de arte, design e vestuário atualmente.

Cubismo

O cubismo pode ser considerado o movimento de vanguarda que mais transformou a arte do seu tempo. Desenvolvido por Pablo Picasso (1881-1973) e Georges Braque (1883-1963), essa corrente tinha como finalidade reformular a maneira de se exibir figuras e formas.

As senhoritas D‘Avignon (1907), de Pablo Picasso é considerada a primeira tela cubista
Nova York, EUA - 25 de maio de 2018: Multidão de pessoas perto da pintura de Pablo Picasso "Les Demoiselles D'Avignon" no Museu de Arte Moderna de Nova York. Fotografia. Bumble Dee/Shutterstock.com

O propósito da vertente era de subverter a representação, apresentando a realidade de maneira a criar a impressão de que a as formas estivessem "abertas" e todos os seus ângulos fossem mostrados.

Por isso, a geometria ganhou forte apelo no cubismo. Inspirados pelo pintor Paul Cézanne (1839-1906), que começou a pintar simplificando os corpos e usando bastante a forma cilíndrica em suas telas, Picasso e Braque desenvolveram o cubismo analítico e o cubismo sintético.

Abstracionismo ou Arte Abstrata

A arte abstrata tem como intuito um tipo de expressão que não tem qualquer diálogo com o figurativismo. Seu maior expoente foi o pintor russo Wassily Kandinsky (1866-1944).

No abstracionismo, a intenção é criar imagens explorando as formas, linhas, cores e nunces, sem o menor comprometimento com a realidade. Assim, em 1910, Kandinsky cria a sua primeira obra abstrata, o quadro Batalha.

a batalha kandinsky
Batalha (1910), de Kandinsky é considerada a primeira obra abstrata

Posteriormente, outras vertentes da arte abstrata surgiram. No Abstracionismo Informal eram valorizadas as sensações e sentimentos, predominando formas mais livres e orgânicas.

Já no Abstracionismo Geométrico prevaleciam composições mais racionais e geométricas, cujo maior expoente foi Piet Mondrian (1872-1974).

Futurismo

O movimento futurista teve como idealizador o escritor Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944), que escreveu o Manifesto Futurista. Depois, as artes plásticas se inspiraram nesse manifesto e criaram um documento direcionado principalmente à pintura.

futurismo giacomo balla
V-elocidade do automóvel (1923), obra futurista de Giacomo Balla

Nessa corrente, eles valorizavam a velocidade, a indústria, as inovações tecnológicas que surgiam e tinham apreço pela ideia de futuro e progresso.

Na pintura, os maiores expoentes foram Umberto Boccioni (1882-1916), Carlo Carrà (1881-1966), Luigi Russolo (1885-1947), Giacomo Balla (1871-1958) e Gino Severini (1883-1966).

Dadaísmo

No decorrer da Primeira Guerra Mundial (1914-1978), muitos artistas e intelectuais estavam descontentes com o rumo que o mundo estava tomando. Assim, alguns deles refugiaram-se na Suiça, em Zurique, e iniciaram um movimento que questiona os novos tempos e a incoerência da guerra.

a fonte de duchamp
A fonte (1917), obra dadaísta atribuída a Marcel Duchamp causou e causa polêmica na arte

Foi aí que surgiu o movimento Dadá, intitulado pelo poeta Tristan Tzara (1896-1963), que abriu um dicionário aleatoriamente e escolheu a palavra francesa dadá (que em português significa "cavalinho").

Essa foi uma maneira de deixar explícita a intenção do grupo, que era a de mostrar os tempos absurdos e ilógicos, já que a racionalidade parecia ter se extinguido da humanidade frente aos horrores da guerra.

Dessa maneira origina-se uma corrente da arte que buscava colocar em cheque a função da arte e satirizar os valores vigentes. Um dos grandes nomes do dadaísmo foi Marcel Duchamp (1887-1868).

Outros nomes importantes são: Man Ray (1890-1976), Max Ernst (1891-1976) e Raoul Hausmann (1886-1971).

Surrealismo

O surrealismo nasce da mesma raiz dadaísta. O poeta francês André Breton (1896-1966) cria um manifesto em que defende o automatismo psíquico, um mecanismo que associa o processo criativo às manifestações do inconsciente e da piquê.

O Filho do Homem, de René Magritte
Milão, Itália - 17 de dezembro de 2020: O filho de um homem, de René Magritte em selo de postagem. Fotografia. spatuletail/Shutterstock.com

Para os surrealistas importava mais que o subconsciente comandasse o que seria exposto nas obras, propondo temas irracionais, ilógicos e alucinatórios.

Portanto, as obras surrealista têm, quase em sua totalidade, uma aura onírica, ou seja, traz cenas que sugerem sonhos.

Os artistas que se destacaram nesse tipo de arte foram Salvador Dalí (1904-1989), Marc Chagall (1887-1985), Joan Miró (1893-1983) e Max Ernst (1891-1976).

Para conhecer outras obras surrealistas, leia: Obras instigantes do surrealismo.

Características da Arte Moderna

A arte moderna teve muitas vertentes e cada uma propunha enxergar e analisar um aspecto de sua época. Portanto, foram bastante diversas as particularidades dessas vanguardas e as intenções dos artistas.

Ainda assim, algumas qualidades e atributos podem ser observados de forma geral na arte moderna europeia e brasileira.

Todos esses artistas carregavam um intenso propósito de afastar-se da arte tradicional do século XIX. Negavam o conservadorismo e propunham inovação tanto na maneira de representação quanto nos temas abordados.

Por isso mesmo se lançavam à experimentação e improviso, tateando novos terrenos criativos.

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Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.