Arte Românica: entenda o que é com 6 obras importantes (e características)
O que chamamos de arte românica foram as criações artísticas desenvolvidas entre os finais dos séculos XI e XII. O termo arte românica faz referência ao Império Romano, que serviu de inspiração apesar de ter antecedido o estilo em cerca de mil anos.
A arte românica reuniu produções basicamente religiosas, ligada ao cristianismo. Durante esse período assistimos a um enfraquecimento das cortes por isso a única saída para a arte foi ocupar espaços religiosos, passando a serem encomendadas pela igreja e entendidas como uma oferenda a Deus.
1. Igreja de São Martinho de Mouros (Portugal)
A arquitetura românica pode ser vista especialmente em construções religiosas - igrejas, mosteiros, conventos, capelas -, embora também fosse usada em castelos, torres e pontes.
Em termos de estrutura, as pedras eram fundamentais nas edificações que eram erguidas com paredes espessas e pilares maciços de sustentação. Muitas dessas obras tinham a presença de claustros.
De tão sólidas, as igrejas costumavam ser chamadas de "fortalezas de Deus". As obras românicas, enormes, por norma eram demoradas e duravam várias gerações.
Em Portugal o estilo românico se manifestou durante o reinado de D.Afonso Henriques, no final do século XI. A Igreja de São Martinho de Mouros é um dos tantos exemplos que poderíamos dar desse estilo de edificação. Há outras construções românicas consagradas no país como as Sés de Lisboa, do Porto, Coimbra e o Mosteiro de Santa Cruz.
Na Igreja de São Martinho de Mouros vemos uma planta longitudinal, em formato de cruz, com escassas janelas estreitas - essas poucas janelas verticais são uma das características mais marcantes da arquitetura românica.
Outro aspecto a se ressaltar é a presença de arcos perfeitos horizontais a 180 graus (os chamados semicírculos ou arcos plenos). Na fotografia podemos observar os arcos na porta de entrada (com as colunas romanas) e na torre sinaleira.
Basílica de Saint-Sernin (França)
A Basílica de Saint-Sernin é a maior igreja em estilo românico da França e está situada em Toulouse. Consagrada em maio de 1096 e construída entre os séculos XI e XIII, a igreja era ponto de parada para os peregrinos que faziam o caminho rumo a Santiago de Compostela. Ela é considerada, portanto, uma igreja de peregrinação.
Era muito comum durante a Idade Média as viagens religiosas, por isso as igrejas de peregrinação também tinham uma importância especial e acabavam recebendo uma atenção maior sendo construídas com projetos arquitetônicos diferenciados como é o caso da Basílica de Saint-Sernin.
Como um típico exemplar da arquitetura românica, a basílica tem uma planta em formato de cruz. A edificação tem capitéis e tímpanos esculpidos em pedra e a abóbada é dividida em 12 vãos por arcos duplos. Essa construção em setores é bastante característica da arquitetura românica uma vez que era uma forma de distribuir a pesada carga do edifício construída com paredes espessas.
Na Basílica há uma única torre sinaleira octagonal e as estreitas janelas e portas são sempre em formato de arco, imitando o estilo romano.
A igreja possui muitas pinturas e esculturas na parte interior e exterior para comunicar aos fiéis que eram, na maior parte, analfabetos. No tímpano, por exemplo, feito em mármore, há a cena da ascensão de Cristo rodeado pelos apostos e anjos.
Altar frontal da Igreja Santa Maria de Mosoll (Espanha)
A pintura românica se voltou especialmente para a produção de murais, que eram feitos com a técnica do afresco, embora o período também tivesse uma farta produção de iluminuras e tapeçarias.
Os murais eram pinturas enormes, que ilustravam as abóbadas de grande dimensão das igrejas ou as paredes laterais da construção.
Além da função decorativa, as pinturas românicas serviam como uma espécie de alfabetização religiosa. Elas eram essenciais num contexto onde quase toda a sociedade era analfabeta e tinha um valor didático, de transmissão dos valores cristãos.
As pinturas reproduziam sempre temas religiosos, os mais frequentes eram a criação do mundo, as cenas da vida de Cristo ou dos apóstolos e as passagens bíblicas mais importantes como a arca de Noé. Não havia, durante esse período, uma cultura de reprodução de imagens profanas.
Um dos aspectos mais importantes da pintura românica é o colorismo e a deformação, ambos presentes na imagem retirada do Altar frontal da Igreja Santa Maria de Mosoll, na Espanha.
Na imagem da pintura do altar também observamos o uso dos arcos, que remetem a estética romana.
La Viga de la Pasión (Espanha)
A imagem acima é um trecho da extensa obra La Viga de la Pasión, criada no primeiro terço do século XIII. Como um típico exemplar da pintura românica, a peça tem caráter religioso e ilustra cenas bíblicas da condenação de Cristo.
O mural é bastante colorido (feito com cores chapadas) e, como era costume na época, traz as típicas figuras alongadas. Outra característica românica importante presente aqui é a deformação.
Nesse gênero de pintura da época, Cristo aparece habitualmente com protagonismo e está quase sempre ao centro e/ou com dimensões maiores.
La Viga de la Pasión foi pintada entre 1192 e 1220 e tem origem catalã. Como podemos observar na obra, não havia propriamente qualquer preocupação de representar sombras, jogos de luz ou um ideal de se imitar a natureza na perfeição.
Outro traço interessante das peças românicas é que os trabalhos não eram assinados. Os artistas anônimos eram artesãos que aprenderam o ofício de modo informal, passado de pais para filhos.
Tímpano da Igreja de Santo Domingo (Espanha)
A escultura românica estava intimamente ligada à arquitetura e, por influência greco-romana, os artistas começaram a ornamentar frontões, tímpanos, colunas e capitéis.
A escultura foi relembrada no estilo românico após anos de esquecimento e teve o seu auge no século XII. As peças estavam a serviço do adorno de locais sagrados como igrejas, mosteiros e conventos.
As criações ajudavam a divulgar as mensagens da igreja e tinham, portanto, além de uma função decorativa, também um papel social de difusão do ideal cristão. Assim como as pinturas, as esculturas eram formas de comunicação importantes numa sociedade iletrada.
A obra escultórica acima está assente num tímpano. O tímpano é a parede semicircular que se localiza abaixo dos arcos e acima da porta, no topo das pilastras. Em geral, as esculturas ficavam em locais elevados, de destaque, numa posição que os fiéis conseguissem ler e interpretar.
Muitas vezes as esculturas românicas apresentavam figuras deformadas para se adaptarem aos locais disponíveis. É o caso do suntuoso tímpano da Igreja de Santo Domingo, em Sória (Espanha). A igreja foi construída no princípio do século XII e a escultura situada na porta principal.
Nesse tímpano vemos ao centro Jesus sentado com um menino ao colo e ao seu redor estão quatro anjos (com os símbolos dos evangelistas) para além da sua mãe (a virgem Maria) e o profeta Isaías.
Ao redor, no arco, cada camada tem representações específicas. A primeira volta carrega a imagem de 24 músicos do apocalipse, a segunda ilustra a matança de inocentes, a terceira traz imagens da vida da virgem Maria e a quarta é o percurso de Cristo na Terra.
Portas de Bernward (Alemanha)
As esculturas românicas eram plenas de simbolismo e feitas em grandes dimensões, muitas vezes com blocos de pedras (no caso acima são folhas de bronze).
Muito frequente nos portais das igrejas ou entalhadas nas paredes, as esculturas eram uma forma de divulgar valores cristãos para uma população majoritariamente iletrada.
A entrada do templo era habitualmente um dos lugares privilegiados para se esculpir. As famosas portas de Bernward são das mais importantes esculturas românicas e foram encomendadas pelo bispo Bernward em 1015.
As duas folhas de bronze de 4,72 metros de altura se localizam na entrada da Catedral e carregam 16 painéis com histórias bíblicas.
Do lado esquerdo estão cenas do antigo testamento (no topo está a criação do homem e, ao final, vemos o assassinado de Abel). Já na folha direita estão cenas do novo testamento (no topo a anunciação a Maria e no final a ascensão de Jesus ao céu).
Os escultores desse período eram conhecidos como canteiros ou mestres de imagens. Os escultores responsáveis pelas portas de Bernward (e de modo geral por outras peças românicas) eram criadores anônimos, isto é, as peças não eram assinadas. Habitualmente mais de um escultor fazia a mesma peça e os artesãos viajavam com as oficinas para realizar trabalhos em vários lugares.
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