Documentário Democracia em vertigem

Tempo de leitura: 7 min.

O documentário Democracia em vertigem, produzido pela Netflix e lançado em 2019, foi realizado pela cineasta Petra Costa. O longa-metragem narra o processo de crise política vivido durante o período final do governo PT e o impeachment da então presidenta Dilma Rousseff.

Com um olhar pessoal, Petra narra a sua visão sobre o momento delicado que vivia o país e registra a realidade polarizada que se instaurou.

O filme foi indicado ao Óscar 2020 na categoria melhor documentário e marcou presença na lista dos melhores filmes do ano do New York Times.

Atenção: esse artigo contém spoilers.

Análise do documentário Democracia em vertigem

Com um tom intimista e pessoal, o filme de Petra Costa utiliza imagens poderosas que resumem um dos períodos de maior turbulência política do Brasil.

Ao longo da produção vemos a fragilidade de uma democracia relativamente recente e a polarização política entre a direita e a esquerda que proporciona um ambiente para a ascensão da extrema-direita no Brasil.

A construção do documentário

Para contar essa história, Petra traz para a tela desde eventos públicos como a votação do processo de destituição de Dilma Rousseff até as marchas nas ruas pró e contra o impeachment ocorridos entre 2013 e 2016.

Além dessas imagens de arquivo, a cineasta recorre a registros de bastidores políticos, trechos de reportagens de televisão, entrevistas e gravações pessoais.

Ao longo de todo o filme a narração em off de Petra conduz a história. De acordo com o jornal inglês The Guardian:

Durante todo o processo, a voz de Petra acrescenta forma, mas não se intromete excessivamente de modo a permitir que a história seja contada pela poderosa compilação de material original e de arquivo, imagens gravadas em meio a tumultos ou capturadas por drones a centenas de metros de altura sobre Brasília.

Esse contraste contínuo entre estar perto e na luta, mas ao mesmo tempo estar no alto, é espelhado ao longo da perspectiva da cineasta, sempre simultaneamente parte da história e observadora distante.

Uma visita ao passado

A fim de tentar compreender como chegamos onde chegamos, Pedra Costa propõe um mergulho na história política do país das últimas décadas e retrata especialmente os duros momentos vividos durante a ditadura militar.

Seu recorte temporal começa nos anos setenta com as perseguições políticas e avança até a prisão do ex-presidente Lula e a tomada de posse de Sérgio Moro como ministro da Justiça de Jair Bolsonaro.

Petra tem acesso privilegiado aos então presidentes e consegue uma série de entrevistas e depoimentos que ajudam a compor a narrativa de um país fraturado.

Um relato pessoal

O filme não é nada imparcial. É através das declarações da própria Petra, que faz uma narração em primeira pessoa, que percebemos o impacto dos eventos políticos nos brasileiros.

Nos primeiros minutos do filme temos uma pista da relação de proximidade afetiva que a cineasta mantém com o tema que escolheu tratar, sua voz off conclui:

A democracia brasileira e eu temos quase a mesma idade, e achei que nos nossos 30 estaríamos ambas em terra firme.

Logo no princípio da história percebemos o alinhamento de Petra e dos seus pais com a ala mais a esquerda tornando o filme não só um registro político como também um relato pessoal.

O documentário deixa entrever, por sinal, a biografia não só da cineasta como também da sua família próxima: pais, avós, tios e primos.

As polêmicas levantadas pelo documentário

Em Democracia em vertigem as instituições de poder parecem ser colocadas a prova enquanto há um aparente desmonte de instituições públicas consideradas antes sólidas.

Petra critica os ataques à imprensa e testemunha a ameaça do retorno da censura além dos retrocessos em termos de ciência e cultura.

Os últimos dias de Dilma no poder

A cineasta sublinha igualmente na tela o isolamento político de Dilma Rousseff, que se vê acuada e sem aliados durante o processo de cassação do seu mandato.

A ex-presidenta divulgou recentemente uma nota após o anúncio da indicação ao Óscar afirmando que

O filme mostra o meu afastamento do poder e como a mídia venal, a elite política e econômica brasileira atentaram contra a democracia no país, resultando na ascensão de um candidato da extrema-direita em 2018.

O filme ao afirmar ter havido um golpe de estado também questiona o papel parcial do então juiz Sérgio Moro a frente das investigações da operação Lava Jato.

Do local para o universal

Apesar de retratar um momento político e histórico local, de certa forma o registo de Petra testemunha uma democracia se encontra em vertigem em uma série de países no mundo.

Assistimos de modo bastante evidente em diversas partes do globo a ascensão da extrema-direita e do populismo levando a uma crescente polarização política.

Um sucesso de público e a dualidade da crítica

Apesar de ter recebido uma série de críticas em meio a um mar de elogios, de acordo com a plataforma de streaming Netflix, Democracia em vertigem foi um sucesso de público.

A produção ficou em segundo lugar como o documentário mais assistido pelos brasileiros durante o ano de 2019. O filme de Petra esteve atrás somente do título Nosso planeta.

Entre os críticos da produção as principais acusações estão o fato da narrativa ser maniqueísta (elegendo com simplicidade mocinhas e vilões), parcial (enviesada para os ideias de Petra e dos seus pais) e fantasiosa.

Quem é Petra Costa

Ana Petra Costa é filha de pais militantes. O político Manoel Costa Júnior e a socióloga e jornalista Marília Andrade fizeram parte do PCdoB durante a ditadura militar.

A cineasta é também neta de Gabriel Donato de Andrade, um dos fundadores da construtora multinacional Andrade Gutierrez.

Nascida em Belo Horizonte em 1983, Petra já havia feito dois longas-metragens antes do documentário Democracia em vertigem.

Petra Costa

A cineasta é o nome a frente do filme Elena (2012) - seu primeiro longa-metragem - e Olmo e a gaivota (2014).

Com Elena Petra recebeu os prêmios de melhor documentário nos festivais de Brasília e Havana. Com o seu segundo filme levou para casa o prêmio de melhor documentário do Festival do Rio.

A jovem de 36 anos foi indicada pela primeira vez ao Óscar com o seu mais recente documentário Democracia em vertigem.

O desejo de criar uma obra que tratasse da história recente do Brasil surgiu da inspiração do documentário A Batalha do Chile, onde o cineasta Patricio Guzmán narra os eventos que antecederam o golpe militar no seu país.

Ficha técnica

Título original Democracia em vertigem (The edge of democracy)
Lançamento 19 de junho de 2019
Diretor Petra Costa
Roteirista

Petra Costa

Co-roteiristas: Carol Pires, David Barker, Moara Passoni

Gênero Documentário
Duração 121 minutos
Prêmios

Indicado ao prêmio de melhor documentário no Festival de Sundance

Indicado ao Óscar 2020 de melhor documentário

Conheça também: