Principais obras de Djamila Ribeiro (comentadas)
Djamila Ribeiro (1980) é uma filósofa, escritora, acadêmica e ativista social brasileira, conhecida principalmente pelo seu trabalho como teórica e militante do feminismo negro.
Atingindo cada vez mais notoriedade, suas obras focadas em questões raciais e de gênero se tornaram imprescindíveis nos tempos que vivemos:
1. Pequeno Manual Antirracista (2019)
Angela Davis, membro dos Panteras Negras e inesquecível ativista norte-americana, certa vez afirmou que "Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista".
A obra Pequeno Manual Antirracista, vencedora do Prêmio Jabuti, é uma leitura breve e impactante que reflete sobre o racismo estrutural que persiste na sociedade brasileira. Partindo de uma pesquisa rica que cita diversas fontes, a autora elaborou uma série de dicas práticas para combater a discriminação racial.
Djamila explica que o que está em foco aqui não são atitudes individuais, mas sim um conjunto de práticas sociais discriminatórias que influenciam diretamente os modos como a nossa sociedade está organizada.
No entanto, existem vários passos que todos podemos dar para construir um mundo menos desigual:
Movimentos de pessoas negras há anos debatem o racismo como estrutura fundamental das relações sociais, criando desigualdades e abismos. O racismo é, por tanto, um sistema de opressões que nega direitos, e não um simples ato da vontade de um indivíduo. Reconhecer o caráter estrutural do racismo pode ser paralisante. Afinal, como enfrentar um monstro tão grande? No entanto, não devemos nos intimidar. A prática antirracista é urgente e se dá nas atitudes mais cotidianas.
Para começar, precisamos nos informar e tomar consciência sobre o tema, já que muitas vezes as opressões se encontram silenciadas e normalizadas. A filósofa aponta que é vital entender a história do Brasil e a desumanização dos indivíduos negros que foi promovida durante o período colonial.
Mesmo depois da abolição, permaneceram no país várias condutas discriminatórias: por exemplo, os afro-brasileiros continuam tendo um menor acesso à educação, sendo também mantidos fora de muitos espaços de poder.
Para alguns de nós, é necessário reconhecer os privilégios dos quais beneficiamos neste sistema e reivindicar uma maior diversidade nos locais de trabalho e estudo, apoiando medidas afirmativas.
Num país cuja maioria da população é negra, esses são os indivíduos que mais são alvo da violência policial e da severidade do poder judiciário, sendo também os que mais são encarcerados e mortos.
Esses dados precisam nos levar a questionar a cultura que consumimos e as narrativas romantizadas sobre a miscigenação e a colonização no Brasil. Para tal, é recomendada a leitura de escritores e pensadores negros, cujo conhecimento tantas vezes foi apagado dos cânones e da academia.
Este se configura como um importante instrumento para conhecer as formas como o racismo está entranhado na nossa sociedade e o que podemos fazer para derrubá-lo.
2. Quem Tem Medo do Feminismo Negro? (2018)
A obra que reúne uma reflexão autobiográfica e também várias crônicas da autora atingiu um grande sucesso e ajudou a popularizar o seu trabalho dentro e fora do panorama brasileiro.
Alicerçado nas suas experiências e observações enquanto mulher afro-brasileira, o livro é atravessado pelo conceito da interseccionalidade, criado pela feminista norte-americana Kimberlé Crenshaw.
O conceito sublinha os modos como as opressões raciais, de classe e de gênero se potenciam entre si, gerando uma maior vulnerabilidade social para alguns indivíduos, entre eles as mulheres negras.
Somos fortes porque o Estado é omisso, porque precisamos enfrentar uma realidade violenta. Internalizar a guerreira, na verdade, pode ser mais uma forma de morrer. Reconhecer fragilidades, dores e saber pedir ajuda são formas de restituir as humanidades negadas. Nem subalternizada nem guerreira natural: humana. Aprendi que reconhecer as subjetividades faz parte de um processo importante de transformação.
Fazendo uma retrospectiva acerca do seu percurso como cidadã e militante, Djamila conta que não se identificava com um feminismo predominantemente branco que não considerava outras vivências e narrativas.
Através de referências como bell hooks, Alice Walker e Toni Morrison, a autora foi descobrindo as perspectivas do feminismo negro. Assim, sublinha a importância dos discursos e conhecimentos múltiplos, por oposição a uma visão supostamente universal (e branca).
As crônicas presentes no livro combatem inúmeras manifestações do patriarcado racista, refletindo acerca de vários acontecimentos contemporâneos. Elas abordam temáticas como o humor baseado em estereótipos ofensivos, o mito do racismo verso e a objetificação das mulheres afro-brasileiras, entre outras.
No texto que dá título à publicação, a militante recupera a história do feminismo negro como movimento que surgiu nos Estados Unidos durante a década de 70.
Menciona ainda figuras como Sojourner Truth que no século XIX sublinhava que as experiências, mesmo entre mulheres, poderiam ser bastante diferentes.
Como Djamila Ribeiro sintetiza, em jeito de conclusão:
É necessário entender de uma vez por todas que existem várias mulheres contidas nesse ser mulher e romper com a tentação da universalidade, que só exclui.
3. O Que é Lugar de Fala? (2017)
Parte da coleção Feminismos Plurais, coordenada por Djamila Ribeiro na editora Pólen, a publicação tornou o nome da autora mais conhecido pelo público brasileiro.
A obra começa traçando um retrato da "invisibilidade da mulher negra como categoria política", apontando o apagamento de suas perspetivas e discursos.
Posteriormente, a autora passa a explicar que o conceito de "lugar de fala" é bastante amplo e pode assumir diferentes significados e conotações, dependendo do seu contexto.
De forma bastante sintetizada, podemos entendê-lo como o nosso "ponto de partida" para encarar o mundo: a localização na estrutura social onde cada um se encontra.
Djamila aponta a urgência de "entender como o lugar social que certos grupos ocupam restringem oportunidades". Quem tem, ou não, poder para falar (e ser escutado) é uma questão que já é amplamente discutida desde Foucault.
Numa sociedade que ainda é estruturada pelo racismo e o sexismo, permanece uma "visão única", colonialista e limitadora.
A militante defende que essa visão precisa ser desafiada, através de discursos diversos e atentos às subjetividades:
Ao promover uma multiplicidade de vozes o que se quer, acima de tudo, é quebrar com o discurso autorizado e único, que se pretende universal. Busca-se aqui, sobretudo, lutar para romper com o regime de autorização discursiva.
Quem é Djamila Ribeiro
Nascida no dia 1 de agosto de 1980, Djamila Ribeiro pertence a uma família marcada pelas lutas sociais. Seu pai, Joaquim José Ribeiro dos Santos, foi militante do movimento negro e um dos fundadores do Partido Comunista em Santos.
Aos 18 anos, quando começou a trabalhar na Casa da Cultura da Mulher Negra, ela iniciou o seu caminho na militância contra as discriminações raciais e de gênero.
Pouco depois, ingressou na Universidade Federal de São Paulo, onde se graduou em Filosofia e alcançou o título de mestre em Filosofia Política, com foco na teoria feminista.
Desde então, Djamila trabalhou como professora universitária e desempenhou um cargo na Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. Além disso, ela tem se destacado no campo da literatura, sendo também colunista da Elle Brasil e da Folha de São Paulo.
Sua presença nas redes sociais também é bastante forte, encarada como ferramenta de ativismo e discussão pública. Atualmente, a pensadora contemporânea é considerada uma voz de relevo na denúncia das violências e das desigualdades no Brasil.
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