7 melhores poemas de Emily Dickinson analisados e comentados

Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes
Tempo de leitura: 7 min.

Emily Dickinson (1830 - 1886) foi uma escritora norte-americana que ajudou a definir a poesia moderna, ocupando um lugar de destaque na literatura mundial.

Embora tenha publicado apenas algumas composições durante a vida, sua produção lírica foi vasta e quebrou as regras vigentes na época. A poeta trouxe inovações que influenciaram inúmeros autores que surgiram mais tarde, mantendo a popularidade entre os leitores através dos tempos.

Suas composições abordam temas universais como o amor, a complexidade da vida e das relações humanas, se debruçando também sobre a inevitabilidade da morte.

1. Não sou ninguém

Não sou Ninguém! Quem é você?
Ninguém — Também?
Então somos um par?
Não conte! Podem espalhar!

Que triste — ser— Alguém!
Que pública — a Fama —
Dizer seu nome — como a Rã —
Para as almas da Lama!

Tradução de Augusto de Campos

Neste poema, o eu-lírico conversa com um interlocutor, afirmando a sua falta de estatuto social. Declara, logo no primeiro verso, que não é ninguém, ou seja, que aos olhos dos seus contemporâneos, não parece ter importância.

Para compreendermos melhor a mensagem que está sendo transmitida, é necessário conhecermos um pouco da biografia da autora. Ainda que tenha atingido o estrelato após a morte, Emily Dickinson contou com poucas publicações durante a vida.

Deste modo, ainda estava longe de ser uma escritora reconhecida. Pelo contrário, era encarada como uma figura estranha, que vivia em isolamento, afastada dos círculos sociais.

Em "Não sou ninguém", declara que prefere o anonimato. Aqui, o sujeito poético aponta o que há de ridículo nas celebridades, que ficam repetindo o próprio nome, como rãs. Com estas palavras, rejeita a "alta roda", tecendo críticas a uma sociedade atravessada pelo ego e a vaidade.

2. Morrer por ti era pouco

Morrer por ti era pouco.
Qualquer grego o fizera.
Viver é mais difícil —
É esta a minha oferta —

Morrer é nada, nem
Mais. Porém viver importa
Morte múltipla — sem
O Alívio de estar morta.

Tradução de Augusto de Campos

Estamos perante uma composição que trata dois grandes temas da poesia universal: o amor e a morte. Na primeira estrofe, o sujeito declara que morrer pela pessoa que ama seria fácil demais, algo que se repete desde a antiguidade grega.

Por isso, afirma que a sua forma de demonstrar o que sente será outra: viver em nome do ser amado, algo que seria "mais difícil". Através desta oferta, o eu-lírico se declara a alguém, anunciando que irá dedicar a sua existência à paixão que o domina.

Esta ideia é explicada na estrofe seguinte. Se a morte poderia ser sinônimo de descanso, a vida é apresentada como uma sucessão de sofrimentos e obstáculos que enfrentará apenas para ficar perto de quem gosta. E, isso sim, seria o verdadeiro amor.

Segundo alguns relatos biográficos, Emily terá vivido um romance com Susan Gilbert, sua cunhada e amiga de infância. O caráter proibido da união, numa época em que os preconceitos eram muito mais rígidos e castradores, poderá ter contribuído para esta visão negativa do sentimento amoroso, sempre associado à angústia.

3. Não viverei em vão

Não viverei em vão, se puder
Salvar de partir-se um coração,
Se eu puder aliviar uma vida
Sofrida, ou abrandar uma dor,
Ou ajudar exangue passarinho
A subir de novo ao ninho —
Não viverei em vão.

Tradução de Aíla de Oliveira Gomes

Nos versos, de extrema beleza, o sujeito poético declara a sua missão na terra, aquele que acredita ser o propósito da sua vida. Assim, afirma que a sua existência só fará sentido se conseguir fazer algo de bom pelos outros.

Ajudar as outras pessoas, diminuir as suas dores ou mesmo auxiliar um pássaro que caiu do ninho são exemplos dos gestos que trazem plenitude à sua vida.

Para o eu-lírico, viver implica fazer o bem, de alguma maneira, ainda que seja em pequenos atos de bondade, que ninguém vê ou sabe. Caso contrário, será apenas tempo desperdiçado, "em vão".

4. Uma palavra morre

Uma palavra morre
Quando falada
Alguém dizia.
Eu digo que ela nasce
Exatamente
Nesse dia.

Tradução de Idelma Ribeiro Faria

O poema se debruça sobre a própria comunicação, tentando contrariar uma ideia comum e sublinhar a importância das palavras. Segundo os versos, elas não morrem após serem proferidas.

Pelo contrário, o sujeito defende ser esse o momento em que nascem. A fala ou a escrita surgem, assim, como um recomeço. Aqui, a palavra é algo capaz de transformar, de iniciar uma nova realidade.

Se quisermos ir mais longe, podemos afirmar que encara a própria poesia da mesma forma: um impulso de vida, criação e reinvenção.

5. Esta, minha carta para o mundo

Esta, minha carta para o mundo,
Que nunca escreveu para mim –
Simples novas que a Natureza
Contou com terna nobreza.

Sua mensagem, eu a confio
A mãos que nunca vou ver –
Por causa dela – gente minha –
Julgai-me com bem-querer

Tradução de Aíla de Oliveira Gomes

Os primeiros versos transmitem uma ideia de isolamento e solidão do sujeito, que se sente desenquadrado do resto. Ainda que fale com o mundo, afirma que nunca recebeu resposta.

Através da sua poesia, decide escrever uma carta para a posteridade. Podemos encarar a composição como um testemunho da autora, que irá sobreviver muito depois da sua partida.

O eu-lírico acredita que as suas palavras contêm a sabedoria que lhe foi conferida através do contato com o mundo natural; por isso, as considera ternas e nobres.

Com estes versos, pretende transmitir uma mensagem aos seus futuros leitores. Consciente de que não irá conhecê-los, sabe também que aquilo que escreve será alvo de julgamentos e opiniões.

6. O Cérebro

O Cérebro — é mais amplo do que o Céu —
Pois — colocai-os lado a lado —
Um o outro irá conter
Facilmente — e a Vós — também —

O Cérebro é mais fundo do que o mar —
Pois — considerai-os — Azul e Azul —
Um o outro irá absorver —
Como as Esponjas — à Água — fazem —

O Cérebro é apenas o peso de Deus —
Pois — Pesai-os — Grama a Grama —
E eles só irão diferir — e tal acontecer —
Como a Sílaba do Som —

Tradução de Cecília Rego Pinheiro

A composição magistral de Emily Dickinson é um elogio das capacidades humanas, do nosso potencial de conhecimento e imaginação.

Através da nossa mente, podemos compreender até a vastidão dos céus e a profundidade dos oceanos. Os versos sugerem a ausência de limites para aquilo que o cérebro humano pode realizar.

Deste modo, enquanto possíveis criadores e transformadores da realidade, os seres humanos parecem se aproximar do divino.

7. Escondo-me na minha flor

Escondo-me na minha flor,
Para que, murchando em teu Vaso,
tu, insciente, me procures –
Quase uma solidão.

Tradução de Jorge de Sena

Nos versos podemos ver, mais uma vez, a união entre o amor e o sofrimento. Criando uma metáfora simples e quase infantil, o eu-lírico se compara a uma flor que murcha, perde as forças, no vaso da pessoa amada.

Associando as suas emoções aos elementos da natureza, encontra um modo de expressar a tristeza que está sentindo pelo afastamento e a indiferença. Incapaz de comunicar diretamente a sua dor, espera que o outro repare, mantém uma atitude passiva.

Totalmente entregue à paixão, aguarda a reciprocidade, quase como se renunciasse a si mesmo.

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.