Filme do mesmo diretor de Pobres Criaturas está na Netflix e merece cada segundo da sua atenção
O Lagosta é um filme intrigante dirigido por Yorgos Lanthimos, diretor que ganhou fama após sua última produção, Pobres Criaturas. Em uma realidade distópica, os solteiros de uma cidade são detidos e transferidos para um hotel. Lá, têm 45 dias para encontrar um parceiro ou parceira, caso contrário, serão transformados em um animal de sua escolha.
Por que você deveria assisti-lo?
Crítica social
Lanthimos decidiu realizar uma sátira sobre a sociedade atual, na qual existe uma enorme pressão para estar em um relacionamento. Por isso, no filme, a solteirice é temida e até mesmo punida.
Assim, a história começa quando o protagonista, David, precisa ir para o "Hotel" para encontrar alguém em um prazo determinado, ou desaparecerá na tentativa.
Ao lado dele, há outras pessoas desesperadas que não conseguiram encontrar sua outra "metade" e que devem fazer tudo o que for possível para encontrá-la.
Pouco a pouco, o espectador mergulha nesse mundo de loucura. Todos ali estão uniformizados com as mesmas roupas e devem seguir certas regras particulares para encontrar aquele que os libertará do temido destino.
Dessa forma, a trama critica os aspectos negativos de alguns relacionamentos amorosos, como conformismo e a solidão.
Desconstrução do conceito de amor romântico: ser verdadeiro consigo mesmo
Mais tarde, quando David foge e se junta aos rebeldes, ele percebe que aquela também é uma organização hierarquizada que tenta definir e controlar seus membros.
Embora nesse ambiente ele consiga encontrar o que parece ser o verdadeiro amor, sua trajetória o faz entender que o mais importante é conseguir bancar suas próprias decisões.
O filme busca romper com os ditames sociais do que se espera de um adulto com uma vida "completa", levando isso ao extremo e estimulando o público a refletir sobre sua própria existência.
Humor ácido
Embora possa parecer que o filme tem pouco de comédia, ao exibir uma trama tão extremista faz com que muitas situações sejam tingidas de absurdo e levem ao riso.
Apesar disso, é uma história que tem o medo como ingrediente principal. Todos os solteiros estão aterrorizados por não pertencerem, por não encontrarem o que o mundo lhes inculca que devem ter e por perderem sua humanidade. Dessa forma, o filme consegue misturar vários gêneros em uma mesma linha narrativa.
Atmosfera surrealista
O filme tem a marca característica de seu diretor. Sendo um mundo distópico, na realidade apresentada todos parecem transitar como autômatos. David é um herói desdramatizado, com uma atuação que parece desapegada até que finalmente se revela nos pontos culminantes.
A música é outro acerto, composta pelo contraste entre silêncios profundos interrompidos por uma trilha sonora composta por Arcade Fire.
Uma produção autêntica
Esse é um diretor que gosta de inovar. Por isso, a produção foi realizada com luz natural e sem nenhum ator maquiado. A ideia era recriar um mundo sem artificialidade, tentando aproximar a história o máximo possível do espectador.
Reconhecimento da crítica
The Lobster foi o primeiro longa-metragem em inglês do diretor e o primeiro a chamar a atenção da crítica. Além das excelentes atuações e da direção, cativou pela trama peculiar em uma indústria saturada de histórias repetitivas. É ainda um filme que busca incomodar e desafiar o espectador.
Por todos os seus méritos, recebeu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2015 e uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original em 2016.
Final aberto
O final incerto do filme permite que o espectador decida o que realmente aconteceu. Não há uma resolução clara, mas sim uma reflexão filosófica.
Assim, nos últimos momentos da narrativa, David tem diante de si a mulher dos seus sonhos, mas as coisas não são exatamente como ele esperava.
Ambos compartilhavam uma miopia que os aproximava, mas agora que ela está cega, ele sente que deve ser igual e prejudicar sua própria visão. Com isso, o diretor problematiza as dinâmicas em um relacionamento e permiti que cada um tire suas próprias conclusões.
*Revisado e traduzido por Laura Aidar