Filmaço escondido na Netflix é um mergulho angustiante nos dilemas da maternidade que vale cada minuto do seu tempo

Ana Beatriz Furtado
Ana Beatriz Furtado
Tempo de leitura: 4 min.

Premiado, aclamado pela crítica e extremamente intrigante, A Filha Perdida (The Lost Daughter) é um filme que desafia o espectador a refletir sobre as complexidades e imperfeições da maternidade. Disponível na Netflix, a obra é uma viagem psicológica ao universo de uma mãe que, ao observar outra mulher com sua filha, é obrigada a confrontar os próprios erros e omissões.

Dirigido por Maggie Gyllenhaal em sua estreia como diretora, o longa-metragem, baseado no livro homônimo de Elena Ferrante, explora os traumas e as escolhas de uma mulher que revisita os fantasmas de seu passado enquanto tenta lidar com a realidade presente.

A trama de A Filha Perdida : entre memórias e obsessões

A narrativa de A Filha Perdida foi construída com base no olhar perturbado de Leda (Olivia Colman), uma professora universitária de meia-idade que, aparentemente, busca paz e relaxamento durante suas férias solitárias em uma vila à beira-mar na Grécia.

No entanto, a tranquilidade da paisagem logo é prejudicada quando ela se separa com uma jovem mãe, Nina (Dakota Johnson), e sua filha pequena, Elena, aproveitando a praia.

Essa cena desperta em Leda memórias intensas e, muitas vezes, desconfortáveis de seu próprio passado como mãe de duas filhas, Bianca e Martha. O que começa como uma simples observação se transforma em uma espiral de emoções que a leva a reviver suas escolhas e questionar a figura materna que um dia foi.

Cena do filme A filha perdida

O filme alterna entre o presente e o passado, revelando gradualmente as escolhas difíceis que Leda fez enquanto lutava para equilibrar suas aspirações profissionais e pessoais com a pressão de ser mãe.

As lembranças de sua juventude (com Jessie Buckley interpretando a versão jovem de Leda) vêm à tona, expondo uma maternidade marcada por conflitos internos, frustrações e, em última análise, pelo abandono temporário de suas filhas.

O ponto de virada ocorre quando Leda comete um ato impulsivo ao roubar a boneca de Elena, o que catalisa uma série de eventos tensos. À medida que sua obsessão por Nina cresce, Leda se vê enredada em um turbilhão emocional, onde os limites entre o presente e o passado começam a se misturar.

A trama é tão delicada quanto perturbadora, pois explora as facetas muitas vezes ocultas da maternidade — uma jornada repleta de dor, desejo de liberdade e arrependimento.

O elenco poderoso e a direção sensível de Maggie Gyllenhaal

A Filha Perdida se destaca não apenas pela sua narrativa rica em nuances psicológicas, mas também pelas atuações exclusivas de seu elenco. Olivia Colman, em particular, entrega uma performance notável como Leda, uma mulher complexa e emocionalmente desgastada que tenta, sem sucesso, se salvar das sombras do passado.

Colman traz uma profundidade emocional impressionante ao papel, retratando Leda com uma mistura de vulnerabilidade e frieza que torna difícil para o espectador não se envolver em sua jornada.

Cena do filme A filha perdida

Dakota Johnson também brilha no papel de Nina, uma jovem mãe que, à primeira vista, parece representar tudo o que Leda não foi: presente, amorosa e dedicada à sua filha. No entanto, à medida que o filme avança, fica claro que Nina também carrega suas próprias angústias e insatisfações, tornando-se um espelho das lutas internas de Leda.

Outro destaque do elenco é Jessie Buckley, que interpreta a versão mais jovem de Leda, oferecendo uma visão crua das escolhas que o protagonista fez no passado. Sua atuação reflete perfeitamente a intensidade emocional e a inquietação do personagem, dando uma camada adicional de profundidade à história.

A direção de Maggie Gyllenhaal é igualmente digna de nota. Em sua estreia como diretora, Gyllenhaal mostra uma sensibilidade única ao abordar um tema tão delicado quanto a maternidade. O uso de fechamentos e planos longos, além da atmosfera densa e claustrofóbica, ajuda a intensificar a sensação de desconforto e angústia que permeia o filme.

Gyllenhaal trata dos temas de culpa, desejo e abandono com uma sofisticação rara, tornando A Filha Perdida uma experiência cinematográfica envolvente e provocadora.

Uma experiência cinematográfica intensa e perturbadora

A Filha Perdida é, acima de tudo, uma exploração complexa e honesta da maternidade, um tema raramente abordado com tamanha profundidade no cinema. O filme se recusa a romantizar o papel de mãe, revelando, em vez disso, as pressões, sacrifícios e frustrações que acompanham essa função.

A jornada de Leda é uma viagem emocionalmente exaustiva, que desafia o espectador a refletir sobre o que significa ser mãe e as expectativas sociais que cercam essa responsabilidade.

Com atuações poderosas, uma direção habilidosa e uma trama que desenterra as sombras do passado para iluminar as dores do presente, A Filha Perdida é um filme que deixa uma marca profunda. Se você procura uma obra que desafie as convenções e explore as camadas mais complexas da experiência humana, esta é uma escolha imperdível.


Ana Beatriz Furtado
Ana Beatriz Furtado
Jornalista, especializada em produção de conteúdo de entretenimento para o mercado digital. Foi repórter do Jornal do Brasil onde assinava uma coluna de moda e beleza e trabalhou por 5 anos no entretenimento da TV Globo.