Este filme de ficção científica sobre Inteligência Artificial está na Netflix e vai mexer com sua mente

Carolina Marcello
Carolina Marcello
Tempo de leitura: 5 min.

Ex Machina - Instinto Artificial é um filme de ficção científica dirigido por Alex Garland lançado em 2014. Há uma década, a existência de inteligências artificiais capazes de dialogar e conviver conosco ainda parecia uma realidade distante, pelo menos para a maioria da população.

No entanto, com os avanços tecnológicos dos últimos anos, as IAs passaram a fazer parte do nosso cotidiano, trazendo vários dilemas morais e éticos que a nossa sociedade precisa solucionar. Nesse sentido, o longa-metragem norte-americano, disponível agora na Netflix, é mais atual do que nunca.

Ava, a androide de Ex Machina, tocando um rosto igual ao seu, pendurado na parede.
Ava, a androide de Ex Machina, tocando um rosto igual ao seu, pendurado na parede.

A trama conta a história de Caleb, um programador que trabalha para o maior motor de buscas do mundo, o Bluebook. O funcionário tem a oportunidade de participar num experimento com o CEO da empresa, Nathan. Para isso, ele precisa se deslocar à mansão isolada do gênio, onde conhece sua maior invenção: Ava, uma androide com inteligência artificial.

Caleb tem a missão de realizar um teste de Turing com Ava, para avaliar se as suas capacidades cognitivas são realmente equivalentes às de um ser humano. No meio de tudo isso, o protagonista é levado a pensar em questões como a privacidade, a identidade e até o controle da humanidade sob os androides.

Aclamado pelo enredo intrigante, o filme atingiu o sucesso junto do público e da crítica especializada, vencendo o Oscar de Melhores Efeitos Visuais no ano seguinte.

Inteligência, consciência e identidade

Conversando com a Androide, o programador percebe que ela não está apenas executando comandos. Ava tem personalidade, preferências e até desejos que oculta do seu criador.

Com isso, durante as experiências, ele começa a perguntar se, sendo uma máquina, Ava pode realmente desenvolver uma consciência, emoções verdadeiras e identidade.

Ava conversando com Caleb, durante os testes que o programador realiza.
Ava conversando com Caleb, durante os testes que o programador realiza.

Grande parte da trama está centrada em responder a esta questão, bastante debatida nos tempos que correm. Caso a resposta seja positiva, isso levanta uma dúvida ainda mais difícil de solucionar: então, o que separa um androide de um ser humano?

E, à medida que as inteligências artificiais se aproximam cada vez mais do nosso modo de pensar e agir (talvez até de sentir), será que essa distinção vai existir no futuro?

Dilemas éticos da inteligência artificial

Como é comum no gênero, o longa de ficção científica mexe com os medos da sociedade, mostrando que aquilo que criamos pode fugir do nosso controle a qualquer momento.

Algo que desperta ansiedade e preocupação em muitos cidadãos é o modo como nossas informações privadas estão sendo usadas na era digital. Cada vez mais, o conceito de privacidade vai se alterando e começando a parecer quase uma utopia, no mundo da informação sem limites.

Caleb com seu chefe, Nathan, que o convidou para uma missão complexa.
Caleb com seu chefe, Nathan, que o convidou para uma missão complexa.

No filme, Nathan conduz uma operação ilegal para roubar dados de milhares de usuários. Suas mensagens e ligações de voz são usadas para alimentar a inteligência e suposta humanidade de Ava, a fim de tornar sua comunicação realista e próxima da nossa linguagem.

Isso pode levar-nos a questionar se a androide realmente tem sentimentos ou está apenas replicando aquilo que aprendeu com os humanos.

Estes são alguns pontos a considerar na hora de definir os limites da inteligência artificial. É necessário entender o que deve ser acessível e proibido para ela. Se deve ser livre ou estar subjugada aos nossos comandos. E, principalmente, para os seus criadores: onde é traçada a linha entre poder, responsabilidade e liberdade.

Isolamento, poder e controle

Ao longo do filme, Caleb se aproxima de Ava, tentando entender seu modo de funcionar e até seu propósito. Quanto mais conversam, mais o programador começa a repensar a forma como ela é tratada e as implicações éticas dessa relação.

Refletindo sobre a humanidade e seu futuro, Ex Machina também fala, necessariamente, de solidão. Toda a narrativa é passada num ambiente claustrofóbico e estéril. Garland criou um cenário minimalista, com poucos personagens e locações, para sublinhar a tensão e o isolamento dos protagonistas.

Aliás, o isolamento na mansão parece ser uma metáfora para a própria solidão dos personagens, especialmente Ava, que vive confinada num laboratório.

O enredo também acaba falando de relações de poder e controle na sociedade atual. Nathan, um milionário, está no centro de tudo. É ele que comanda Ava, a sua criação, e também Caleb, um funcionário que quer impressionar e agradar o chefe a todo o custo.

Curiosidades sobre a produção

Para obter os efeitos especiais que venceram o Oscar, a atriz principal precisou vestir uma roupa com captura de movimentos através de CGI, criando sua aparência de androide. O público considerou que sua simplicidade e elegância trouxeram um aspecto realista à personagem.

Ex Machina é uma obra cinematográfica complexa, cheia de referências. O filme cita textos literários célebres, incluindo o poema "O Corvo", de Edgar Allan Poe, declamado por Ava. Também são muitas as referências a obras de ficção científica e filosofia, com destaque para as ideias de Alan Turing sobre inteligência artificial.

Aqui, a edição tem um papel vital em manter um clima de tensão crescente ao longo da história. Os cortes e a montagem contribuem para uma atmosfera claustrofóbica e acentuam o suspense. Na mesma linha, o trabalho de som cria um ambiente imersivo, puxando o espectador para dentro daquela realidade agoniante e futurista.

Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.