Filme O Poderoso Chefão: resumo e análise

Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes
Tempo de leitura: 17 min.

O Poderoso Chefão é um filme norte-americano de crime, dirigido por Francis Ford Coppola e lançado em 1972. Uma das obras mais famosas e influentes do mundo do cinema, o longa-metragem se tornou um clássico incontornável, aclamado pelo público e pela crítica.

Inspirado no romance homônimo de Mario Puzo, o enredo é passado na década de 40, em Nova York, e se foca na figura de Don Corleone, um mafioso extremamente influente.

Quando a saúde do patriarca começa a se deteriorar, a família precisa se reorganizar para manter o poder e derrubar seus inimigos.

Atenção: a partir deste ponto, você vai encontrar spoilers!

Personagens principais e elenco

Vito Corleone (Marlon Brando)

O patriarca também é o Don da família Corleone, ou seja, o chefe de sua organização criminosa. Com a saúde em declínio, ele precisa decidir quem vai ocupar o seu lugar.

Michael Corleone (Al Pacino)

Filho mais novo da família, o jovem é um conquistador e antigo herói de guerra que evita se envolver no "negócio". Mais tarde, para defender os seus, ele acaba mudando de ideias.

Sonny Corleone (James Caan)

Impulsivo e imprevisível, Sonny deveria ser o sucessor do pai e até assume o cargo, mas morre prematuramente numa armadilha.

Connie Corleone (Talia Shire)

A filha e irmã dos Corleone está casando no começo do filme. Sua vida conjugal é marcada pela violência, a infidelidade e a impunidade do marido.

Kay Adams (Diane Keaton)

A namorada de Michael não está familiarizada com o mundo da máfia. Depois de esperar o parceiro por anos, ela acaba casando com ele e vira esposa do novo Don.

Tom Hagen (Robert Duvall)

Advogado e conselheiro de Vito, Tom mantem a sua fidelidade aos Corleone até ao final.

Don concede favores no casamento da filha

O enredo começa com o discurso do dono de uma agência funerária que vem pedir ajuda a Vito Corleone para se vingar de uma gangue que espancou a sua filha adolescente. Como todos foram libertados durante o julgamento, o homem decidiu "obter justiça" através da máfia.

É aí que o "Poderoso Chefão" explica as suas regras: ele exige amizade e respeito daqueles que pedem a sua ajuda. Quando o homem beija a sua mão e o chama de "padrinho", ele concede o pedido, avisando que um dia irá cobrar o favor.

Trata-se do casamento de Connie, a filha do Don, uma data muito importante para a sua cultura. Como é explicado em seguida, "nenhum siciliano pode recusar um pedido no casamento da filha" .

Casamento de Connie Corleone

Durante toda a celebração, vemos a família numerosa e unida, cantando e dançando entre os muitos convidados. Johnny, cantor de enorme sucesso e afilhado de Vito, é a estrela da festa.

Michael, o filho mais novo, leva a namorada, Kay, para conhecer o clã. Ele revela que a ascensão do cantor foi impulsionada pelo seu pai que usou a violência para livrá-lo de um contrato ruim. Embora a moça fique assustada, o antigo soldado garante que nunca será igual aos familiares.

No escritório com o padrinho, Johny revela que a sua voz está fraca e chega a chorar, implorando ajuda para ficar com o papel principal de um filme que vai ser gravado. Depois de bater no seu rosto, Vito Corleone garante que vai resolver a questão:

Don recebendo os pedidos

Vou fazer uma oferta que ele não vai poder recusar...

Tom, o advogado e conselheiro da família, é enviado para falar com Wolt, dono do estúdio e responsável pelo filme, prometendo amizade e lealdade. Embora fique tentando a aceitar, ele recusa, revelando que odeia o cantor por causa de uma mulher do seu passado.

Na manhã seguinte, Wolt acorda com a cabeça do seu cavalo favorito entre os lençóis. Entendendo a ameaça da família à sua vida, ele contrata Johnny.

Novos inimigos e armadilha contra o Don

O poder de Vito Corleone reside principalmente em subornar a polícia e manter ligações com figuras extremamente poderosas que lhe garantem uma enorme influência política. Por isso, sua aparente estabilidade é abalada pela chegada de Sollanzo, um traficante de narcóticos turco que pede a proteção da família.

Apesar de estar envolvido no negócio dos jogos, o Don se encontra com Sollanzo, mas recusa a sua proposta, falando que não quer integrar o mundo do tráfico. Nesse momento, Vito percebe que fez um novo inimigo perigoso e manda Luca atrás dele.

Tudo dá errado: Luca é assassinado, Tom é sequestrado e Don Corleone fica em risco de vida, alvo de uma armadilha. Quando vai comprar laranjas numa banca, ele é metralhado pelas costas.

Vito Corleone é atacado.

Saindo do cinema com Kay, Michael lê numa manchete de jornal que o pai foi atacado e corre para perto dos irmãos. Enquanto isso, o turco decide libertar Tom, com a condição do conselheiro ajudá-lo a avançar com o negócio. Na despedida, Sollanzo declara:

Não gosto de violência, eu sou um homem de negócios.

Todos se reúnem na mansão do clã e esperam notícias, pensando o que farão depois. Quando recebem uma encomenda misteriosa que contem um peixe, percebem que se trata de uma "mensagem siciliana" que significa que o corpo de Luca foi jogado no mar.

Face à situação, Michael é obrigado a romper o relacionamento com Kay, mas pede que a namorada espere por ele. Mais tarde, quando vai visitar o pai no hospital, descobre que o local está desprotegido, já que a polícia foi subornada por outra família.

Michael Corleone resolve se vingar

Vendo Don Corleone frágil, numa cama de hospital, o instinto protetor de Michael o domina e o jovem decide que vai assumir as rédeas da situação. Ele chega a ser agredido pelo chefe da polícia, que depois aparece e tenta prendê-lo, mas Tom surge para resolver o caso.

No regresso, descobre que Sonny resolveu atacar as outras famílias e iniciou uma guerra com muitos adversários. Ocupando o lugar do pai, o filho mais velho está dominado pela raiva e procura apenas vingança. Percebendo isso, Michael começa a elaborar o seu próprio plano.

Inicialmente, a ideia é ridicularizada por todos. Por ser herói do exército e ter frequentado a faculdade, aparentando ser mais calmo e racional que os demais, os companheiros não acreditam que ele tem perfil para ser bandido.

Vingança de Michael

Michael acaba convencendo o grupo e aceitando uma reunião com Sollanzo e o chefe da polícia num local público. Seu objetivo é descobrir o ponto de encontro antes da hora, esconder uma arma por lá e matar ambos.

Após planejarem cada passo, a missão é bem-sucedida e os Corleone conseguem executar os dois inimigos. Ao denunciarem a ligação entre a polícia e o cartel, eles conseguem usar os seus contatos na imprensa para manipular a opinião pública a seu favor.

Depois de cometer o crime, o jovem precisa fugir por uns tempos e não consegue nem se despedir da mãe. A partir desde ponto, Michael passa a estar profundamente envolvido nas batalhas e nos crimes da sua família.

Sonny morre e Michael se esconde

De volta do hospital, Vito é recebido por familiares de várias gerações. Seus associados contam tudo que aconteceu, narrando as ações de Michael e garantindo que ele está em segurança. Todas as movimentações acabaram provocando conflitos entre as cinco famílias da máfia de Nova York e gerando uma verdadeira guerra.

Fredo Corleone, o mais velho, é enviado para um cassino em Las Vegas, onde será protegido. Já Sonny continua no comando e ignora os conselhos que recebe sobre manter a paz. A irmã de ambos, Connie, sofre violência doméstica em diversas ocasiões; numa delas, liga para Sonny, pedindo socorro. Enquanto o gângster está na estrada, para salvá-la, é assassinado em uma emboscada.

Michael vê o carro explodindo

Escondido numa vila italiana, Michael tem que viver de forma simples e anônima, para se manter longe dos inimigos. Pouco tempo depois de chegar, ele se apaixona por Apollonia, uma moça da região, e se casa com ela.

No entanto, quando a identidade dele é descoberta, a esposa é vítima de um atentado e morre na sua frente. Após receber notícias de casa e descobrir a partida violenta do irmão, Michael decide regressar para ajudar o pai.

Vito convoca a reunião das cinco famílias

Vito chora e se desespera quando descobre que Sonny foi assassinado. Ele decide que não quer investigação nem vingança, apenas deseja terminar com aquela guerra. É então que convoca a reunião das cinco famílias, com as grandes figuras da máfia na cidade.

Afirmando que se trata de uma batalha inútil, na qual estão perdendo seus filhos, propõe que cheguem a um acordo para estabelecer a paz. Reunidos em volta de uma mesa, eles conversam e apresentam seus argumentos.

Reunião das cinco famílias

Coleone e outros presentes acreditam que os narcóticos irão ser a ruína da máfia e fazer com que percam sua influência política. Contudo, a maioria vota a favor do tráfico, debatendo a sua moralidade, os locais e circunstâncias onde poderá ocorrer.

Forçado a concordar, Vito jura pela alma dos netos que não vai quebrar o acordo. Durante a conversa, no entanto, ele consegue percebe que a emboscada que matou Sonny foi uma ordem de Don Barzini. Experiente e muito perspicaz, ele sabe que é uma questão de tempo até se confrontarem de novo.

Queda de um Don e ascensão de outro

A saúde de Vito Corleone está cada vez mais frágil e Michael aparece para assumir o seu lugar. Ao se reencontrar com Kay, a antiga namorada, conta que precisou tomar conta dos negócios do pai, mas garante que será por pouco tempo. Quando é confrontado com os crimes de Vito, ele apenas responde:

Meu pai não é diferente de nenhum outro homem poderoso.

Mesmo assim, garante que vai legalizar a situação da família e pede Kay em casamento. Em pouco tempo, os dois se unem e têm um bebê. Na sua fase final, Vito transmite muitos ensinamentos ao sucessor, avisando-o que será perseguido por Barzini e atraiçoado por um dos companheiros.

Durante o diálogo emocionado, ele confessa que não queria aquela vida para o filho e lamenta a sua responsabilidade de ter que cuidar de todo mundo.

Última cena de Vito Corleone

Pouco tempo depois, enquanto brinca com um dos netos entre as laranjeiras do jardim, o antigo Don acaba tendo um ataque fulminante e morre na hora. Todos juram lealdade a Michael e ele escolhe Carlo, o cunhado, para ser seu conselheiro, decisão que é encarada com estranheza pelo grupo.

Em seguida, viaja até Las Vegas onde se encontra com o irmão e Moe Green, dono de um cassino que ele quer comprar, usando uma de suas "propostas irrecusáveis".

Enterro, batismo e final da guerra

O enterro de Vito, repleto de carros, flores e pessoas, surge como uma demonstração simbólica do seu status. Até Barzini, o rival, vem prestar homenagens e usa Tessio, antigo sócio dos Corleone, para tentar marcar um encontro com ele.

Michael percebe que chegou a hora de agir e que Tessio é o amigo que decidiu traí-lo por dinheiro. Ele declara, então, que o encontro será depois do batismo do sobrinho, filho de Connie, que aceitou apadrinhar. Enquanto está na cerimônia, rodeado por testemunhas, todos os seus inimigos são assassinados.

Michael é o novo Don

Em seguida, isola o cunhado e afirma saber que ele conspirou para a morte de Sonny. Carlo é metralhado e Connie entra em desespero quando descobre, gritando que o irmão é um assassino. Kay, a esposa, assiste toda a cena e pergunta se a acusação é verdadeira.

Michael nega e mantem a fachada de homem de negócios, agora dono de um cassino que tinha pertencido a Moe Green. Ela fica aliviada e diz que o ama mas, na cena final, vemos a porta se fechando na sua cara e os "afilhados" beijando a mão do novo Don.

Temas principais e relevância do filme

O Poderoso Chefão conquistou universalmente a crítica e venceu o Oscar de Melhor Filme em 1973. Uma de suas inovações mais impressionantes, face aos filmes de crime da época, é o modo humanizado como apresenta estes bandidos. Não assistimos apenas aos atos violentos: também vemos seu amor, seu choro, seu luto e até seu medo.

Seguindo a vida de um grupo de imigrantes, a narrativa está repleta de elementos e referências à cultura italiana. Aqui, as músicas, as festas, os hábitos (e até uma receita tradicional de almôndegas) são apresentados ao público do mundo inteiro.

Além disso, a obra mergulha profundamente neste universo e é atravessa por valores contrastantes, como proteção, violência, amizade e traição.

Família e lealdade acima de tudo

Aquilo que parece manter a ordem entre os Corleone, mesmo nas situações mais desfavoráveis, é seu código de conduta, cheio de normas restritas. Vito é o mais velho, o patriarca do clã, e todos seguem as suas ordens e beijam o anel da sua mão, símbolo material de seu poder e influência.

Acima de todos os negócios e crimes, ele valoriza o bem-estar e a união dos familiares. Em vários momentos, relembra os filhos que eles não devem se aliar nem confiar em ninguém com quem não possuam laços de sangue. Mesmo Carlo, o seu genro, é mantido fora das operações por anos.

Um homem que não se dedica à família jamais será um homem de verdade.

Já os afilhados do Don ocupam um lugar especial; como o filme explica, "para os italianos essa é uma relação sagrada, muito próxima". Sublinhando o valor de uma promessa, o mafioso não se limita a cumprir os pedidos que recebe.

Pelo contrário, O Poderoso Chefão acredita que, para pedirmos um favor a alguém, é necessário estarmos dispostos a oferecer lealdade em troca.

Responsabilidade, poder e transformação

Num mundo marcado pela violência, insegurança e instabilidade, o longa-metragem acompanha os esforços dos Corleone para manter o poder e o dinheiro. A obra narra também a jornada de um anti-herói: Michael começa por ser um antigo soldado que não se identifica com os crimes do "negócio".

Contando algumas história do pai a Kay, namorada da juventude, ele deixa bem claro que não pretende seguir o mesmo caminho:

Isso é a minha família... Não sou eu.

No entanto, perante a fraqueza do pai e a morte do irmão, ele se sente na obrigação de proteger a família e acaba ocupando o lugar de Don. Por muito tempo, ele não correspondia ao estereótipo de bandido e era ridicularizado. Numa atmosfera marcada pela masculinidade tóxica, era visto como fraco, porque era romântico ou porque tinha cursado a universidade.

Com o tempo e a responsabilidade de ser "chefe" da família, naquela organização patriarcal onde todos dependiam dele para sobreviver, o seu comportamento vai se alterando. As mudanças no protagonista são observadas por Vito Corleone na última conversa entre os dois. O pai lamenta que ele tenha herdado o peso do poder e precise viver em alerta constante, sem nunca poder se descuidar.

Embora Kay tenha se apaixonado pelo jovem idealista, ela acaba casada com o novo Don Corleone. Deixada de fora das conversas importantes, ela também se transforma. Na cena final, enquanto os "sócios" beijam a mão de Michael, confirmando que ele se transformou num criminoso, a mulher escolhe ignorar.

Simbologia das laranjas em O Poderoso Chefão

Podemos perceber a presença de laranjas em várias passagens marcantes do filme: o casamento, a emboscada contra o Don, a reunião das cinco famílias e a morte de Vito Corleone, entre outras.

Embora os produtores afirmem que a decisão foi estética, para trazer mais cor às imagens, surgiram várias interpretações entre os espectadores. Associada ao alimento e, portanto, à vida, a laranja também pode ser encarada como um símbolo de morte e do regresso à terra.

Podemos ainda acreditar que se trata de uma referência ao futuro, aos "frutos" que seriam colhidos por todas as ações praticadas pela família.

O Poderoso Chefão II (1974)

O Poderoso Chefão II (1974)

No segundo filme da trilogia, Michael já é um Don mais maduro e experiente que procura aumentar seu império e expandir o "negócio" para outras regiões do país.

Ao mesmo tempo que acompanhamos esse enredo, somos convidados a conhecer a infância de Vito na Itália, sua partida para os E.U.A. e as motivações que o levaram até ao mundo do crime.

O Poderoso Chefão III (1990)

O Poderoso Chefão III (1990)

O último filme da saga é passado no final da década de 70, com Michael Corleone já envelhecido e buscando um sucessor para o seu legado. O escolhido é o sobrinho, Vincent Mancini, um filho ilegítimo de Sonny que surge ao longo da trama. Embora esteja sendo instruído para manter o poder da família, Vicent parece ter outras intenções em mente.

O longa recebeu uma nova versão em 2020; 30 anos depois do lançamento, algumas cenas foram reorganizadas ou cortadas. Com menos 6 minutos que o original, a nova montagem agradou a maioria dos espectadores.

Ficha técnica e cartaz do filme

Título

The Godfather (original)
O Poderoso Chefão (Brasil)

Ano da produção 1972
Dirigido por Francis Ford Coppola
Lançamento

março de 1972 (internacional)
julho de 1972 (Brasil)

Gênero Drama
Policial
Duração 177 minutos
Classificação Não recomendado para menores de 14 anos
País de origem Estados Unidos da América

O Poderoso Chefão

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.