Sebastião Salgado: 13 fotos impactantes que resumem a obra do fotógrafo
Sebastião Salgado (1944) é um fotógrafo brasileiro radicado em Paris considerado um dos mais talentosos fotojornalistas do mundo. Com um olhar único, a sua fotografia documental muitas vezes promove uma denúncia social e dá a ver cenários desconhecidos do grande público.
Sebastião viajou por mais de 130 países e levou a cabo diferentes projetos. O brasileiro começou a fotografar em 1973, aos quase 30 anos, como um autodidata, com um olhar sobretudo social e humanitário.
1. Foto da exploração da mina em Serra Pelada, da série Gold
Um verdadeiro formigueiro humano, é o que retrata a imagem da paisagem da mina de ouro de Serra Pelada, no Estado do Pará (município de Curionópolis). A maior mina ao céu aberto do mundo vinha sendo exploradas pela mineração com condições desumanas para os trabalhadores.
Sebastião Salgado esteve durante 33 dias no local que tinha uma mina de 200 metros de profundidade, registrando o dia a dia dos trabalhadores precários. As fotografias foram capturadas em 1986 durante a chamada febre do ouro.
Outros fotógrafos além de Sebastião Salgado já haviam ido à Serra Pelada, mas produziram trabalhos pontuais com um olhar mais jornalístico. Sebastião foi o repórter que esteve durante mais tempo na região de modo a fazer um apanhado mais profundo da situação local.
Antes de conseguir entrar na mina, o fotógrafo havia tentado seis anos antes realizar o trabalho sem sucesso devido à ditadura militar, que não autorizava a visita. Apesar de as imagens terem sido feitas nos anos oitenta, Sebastião optou por divulgar esse trabalho somente em novembro de 2019.
2. Foto de garimpeiros em serviço, da série Gold
O testemunho da vida dos garimpeiros em situação precária feitos pelas lentes de Sebastião Salgado geraram imagens poderosíssimas. Aqui vemos trabalhadores apinhados, sem qualquer tipo de segurança, descendo 200 metros abaixo do nível do solo através de escadas inseguras feitas de madeira.
O ouro na mina foi descoberto em 1979 e, no seu auge, a mineração chegou a dar trabalho a 50 mil trabalhadores em condições terríveis. Eles carregavam, com as mãos e a ajuda da cabeça, para cima e para baixo, sacos com cerca de 40 quilos de terra para encontrarem algum ouro incerto misturado.
3. Foto do cotidiano dos mineradores, da série Gold
Na imagem, a preto e branco, vemos apenas as feições de um único trabalhador, embora todos os outros apareçam como pano de fundo demonstrando as condições desumanas de trabalho na mina.
A sua postura faz lembrar a iconografia de figuras religiosas católicas, aproximação que Sebastião Salgado atribuiu a sua origem mineira com profunda influência da estética barroca.
4. Foto de um trabalhador mineiro carregando um saco de terra, da série Gold
Esse é dos poucos registros com apenas um personagem da série de fotografias dos trabalhadores das minas. O homem, numa posição de esforço, carrega um saco de terra nas costas distribuindo o peso com a ajuda da cabeça.
Em primeiro plano vemos um mão, de outro colega, um ângulo que estimula o espectador a pensar em múltiplas possíveis leituras: iria o colega ajuda-lo? Seria um sinal de que o colega já havia passado por essa situação e, por isso, logo o pesadelo teria fim?
A exposição Gold − Mina de Ouro Serra Pelada foi inaugurada em São Paulo com curadoria da esposa do fotógrafo - Lélia Wanick Salgado. Foram expostas 56 fotografias (31 inéditas, as outras já haviam sido divulgadas em uma publicação da Taschen).
A mostra também passou por outros destinos como Estocolmo, Londres, Fuenlabrada e Tallin. A série, que virou livro, traz a interessante provocação do fotógrafo que traduz o que o motivou a realizar o trabalho:
"O que tem esse metal amarelo e opaco que leva os homens a abandonar os seus lugares, vender os seus pertences e cruzar um continente para arriscar a sua vida, os seus ossos e a sua sanidade por um sonho?"
Sebastião Salgado
5. Foto de três trabalhadores rurais, da série Trabalhadores
Nessa fotografia de três trabalhadores rurais, o jovem que aparece em primeiro plano segura uma ferramenta de trabalho e temos pistas do cenário precário onde o ofício tem lugar.
A fotografia de Sebastião Salgado tenta entregar dignidade e força aos fotografados, num movimento que procura revelar o que move esses trabalhadores e compreender a sua força e capacidade de resistência.
A imagem acima é um dos exemplos do registro feito da coletividade, do trabalhador com os seus colegas no local de trabalho.
Na série em que está incluída - chamada Trabalhadores -, Sebastião Salgado escolheu registrar pessoas nos seus mais variados ofícios tendo em comum condições de trabalho desgastantes e duras.
A foto acima foi escolhida para capa do livro de Sebastião intitulado Trabalhadores: uma arqueologia da Era Industrial (1996).
6. Foto de um mercado local, da série Trabalhadores
Na fotografia vemos um mercado cheio, com trabalhadores possivelmente precários carregando cestos, quase todos vazios, sobre a cabeça. No centro da imagem, com protagonismo, está um menino, que não deveria estar trabalhando.
Com um olhar panorâmico, a câmera de Sebastião Salgado consegue chegar os mais diferentes contextos que têm em comum algum tipo de exploração do trabalhador.
A série retrata, por exemplo, os pescadores de atum na região da Sicília e os garimpeiros nas minas de enxofre na Indonésia. Também nos mostra os trabalhadores nos poços de trabalho do Kuwait e os indígenas brasileiros atuantes nos projetos de construção de barragens.
7. Foto de operários se manifestando, da série Trabalhadores
Na imagem vemos uma série de trabalhadores rurais, na maior parte homens, reunidos em uma espécie de comício ou protesto. Eles erguem uma simbólica ferramenta de trabalho do campo: a enxada. Os trabalhadores ocupam todo o campo de visão da fotografia dando a ideia de um mar de gente.
Por ter sido economista, Sebastião Salgado foi capaz de ter um olhar diferente sobre a classe trabalhadora, observando como o mercado de trabalho se modificou desde a revolução industrial até a chegada dos computadores.
“Estas imagens, estas fotografias, são o registro de uma era – uma espécie de delicada arqueologia de um tempo que a história conhece pelo nome de Revolução Industrial”
Sebastião Salgado
8. Foto de duas mulheres imigrantes, da série Êxodos
Duas mulheres castigadas pelo tempo e pelo cansaço foram as personagens escolhidas para a fotografia de Sebastião Salgado. Pouco sabemos sobre elas, apenas que são trabalhadoras migrantes de gerações distintas e que carregam na fisionomia um ar de exaustão.
Por ser também um imigrante, que partiu de Minas Gerais rumo à França, onde se estabeleceu, Sebastião Salgado diz ter estabelecido uma certa cumplicidade com os fotografados para o projeto Êxodos.
Os personagens eleitos são pessoas anônimas que precisaram deixar a sua terra natal por um forte motivo, sendo impulsionados para um destino, muitas vezes, desconhecido e incerto.
A exposição Êxodos, que estreou em 2000, contém 300 imagens divididas em cinco temas principais (África, Luta pela Terra, Refugiados e migrados, Megacidades e Retratos de crianças). O livro da série foi também lançado em 2000.
9. Foto de um campo de refugiados, da série Êxodos
Refugiados de origem africana acampados em condições precárias, foi esse o retrato que Sebastião Salgado escolheu eternizar. Vemos na imagem homens, mulheres e crianças amontoados em um terreno baldio sem saneamento básico e sem qualquer acesso à higiene e bens essenciais.
Os imigrantes - muitas vezes refugiados ou exilados - frequentemente fugiam de cenários de guerra, de catástrofes ambientais ou mesmo de zonas em crise econômica.
"É uma história perturbadora, pois poucas pessoas abandonam a terra natal por vontade própria. Algumas sabem para onde estão indo, confiantes de que as espera uma vida melhor. Outras estão simplesmente em fuga, aliviadas por estarem vivas. Muitas não conseguirão chegar a lugar nenhum."
Sebastião Salgado
Durante sete anos, o brasileiro procurou imigrantes e fez registros fotográficos em 40 países - especialmente em nove cidades grandes marcadas pela imigração.
10. Foto de três crianças, da série Êxodos
A imagem é um impactante registro de três crianças pequenas, negras, sob uma coberta comum, apenas com parte do rosto a mostra.
O olhar de cada criança contém uma expressividade única e transmite ao espectador um sentimento distinto. Enquanto a criança ao centro tem um ar espantado, a da direita transparece feições exaustas e a da esquerda carrega um espírito mais interrogativo.
Ao falar dos desterrados, Sebastião Salgado separou uma sessão especial onde procurou dar voz exclusivamente às crianças, que acabam por ser vítimas colaterais dessas situações limite.
Aqueles que decidem, por qualquer motivo, partir: foi esse o tema escolhido em Êxodos ao resolver falar sobre as migrações no planeta. Com o intuito de não deixar de fora ninguém que estivesse envolvido nesse processo de migração, Sebastião sublinhou o futuro dedicando um espaço exclusivo à infância no seu ensaio.
11. Foto de uma geleira, da série Gênesis
A fotografia da geleira num recanto longínquo do planeta é uma grande homenagem à natureza feita por Sebastião Salgado. É também uma tentativa de alerta, de chamada de atenção do homem para as contínuas agressões ao ambiente.
“Gênesis é sobre os primórdios, sobre um planeta intocado, suas partes mais puras, e um modo de vida tradicional que convive em harmonia com a natureza. Quero que as pessoas enxerguem o nosso planeta de outra forma, sintam-se comovidas e se aproximem mais dele”
Sebastião Salgado
Durante oito anos (entre 2004 e 2012), o fotojornalista retratou 32 regiões extremas do planeta enfocando na relação entre o homem e o meio ambiente.
12. Foto de dois rios e da mata nativa, da série Gênesis
A fotografia da mata e dos dois rios que cortam a floresta mostram a imponência da natureza e um raro cenário ainda não tocado pelo homem.
A ideia da série Gênesis veio durante a década de 90, quando o casal Sebastião e Lélia Salgado recebeu a tarefa de manter a propriedade da família onde Sebastião cresceu. A casa está situada no vale do Rio Doce, em Minas Gerais.
No entanto, se na infância do menino a região era marcada pela forte presença da natureza, quando Sebastião e Lélia regressaram as terras só encontraram desmatamento e um ambiente em agonia.
Foi da esposa a ideia de replantar mais de 300 espécies de árvores e tentar fazer com que os animais voltassem para a região.
"Depois de um tempo, vimos tudo começar a nascer de novo. Retornaram os pássaros, os insetos, os bichos. Começou a voltar vida para todo lado dentro da minha cabeça e, assim, veio a ideia de fotografar o Gênesis. Fui para a vida, para o que tem de mais fabuloso no planeta."
Sebastião Salgado
13. Foto de índios navegando sobre o rio, da série Gênesis
Enquanto três canoas cortam o rio, uma delas em primeiro plano, a paisagem nublada ao fundo tem os elementos naturais destacados (a água através do seu reflexo e o brilho da lua). Aqui o fotógrafo brasileiro demonstra uma harmoniosa integração entre o homem e o meio.
A série Gênesis é uma iniciativa de longo prazo que pretende retratar a natureza mundo afora: as paisagens da Amazônia, da Patagônia, da Etiópia e até do Alasca. A ideia é registrar a natureza no seu ápice, sublinhando a beleza do mundo em que vivemos.
A mostra Gênesis, com 250 fotografias curadas por Lélia Wanick, tem percorrido uma série de grandes cidades do mundo apresentando recantos desconhecidos para grande parte das pessoas.
A exposição foi dividida em cinco setores: Planeta Sul, Santuários da Natureza, África, o Grande Norte, Amazônia e Pantanal.
O projeto também deu origem ao documentário The salt of the earth (O sal da terra), de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado. Confira o trailer oficial:
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