Tudo sobre o grafite no Brasil e no mundo (com imagens)
Considerado por alguns como vandalismo e por outros como dignos exemplares de arte urbana, o grafite (grafitismo) ocupa o espaço das ruas e atinge democraticamente todos os transeuntes causando admiração, repulsa ou indiferença.
Conheça um pouco mais sobre essa manifestação artística que cruza a nossa vida todos os dias.
Grafitismo: a arte do grafite
Chamamos de grafite inscrições ou desenhos rabiscados à mão sobre um muro, uma parede, um monumento, uma estátua ou sobre qualquer elemento que esteja na via pública. Em resumo, os grafiteiros pretendem intervir na cidade, aplicando a sua linguagem em espaços públicos. O objetivo é, principalmente, tecer uma crítica social.
Grafite vem da palavra italiana “graffito”, que significa literalmente “escrita feita com carvão”.
O grafite é, por norma, muito perecível ao tempo e às circunstâncias uma vez que esse tipo de obra não possui proprietário nem vigia.
O trabalho que os grafiteiros produzem vive na dualidade entre a poluição visual e a obra artística. Norman Mailler, um consagrado escritor norte-americano, definiu o grafite como:
"uma rebelião tribal contra a opressora civilização industrial"
Grafite vs Pichação
Há quem se pergunte se o grafite é arte ou se trata de mera pichação. Tendemos a acreditar que o ato de pichar está intimamente ligado ao vandalismo e à noção de destruição da via pública, enquanto que o grafite está relacionado à uma conotação mais positiva.
O grafitismo é considerado uma arte de rua elaborada a partir de uma técnica mais complexa. Ele é tido por muitos como um ramo das artes visuais.
Em geral, os grafiteiros - como costumam ser chamados - trabalham com latas de spray de tinta e, por vezes, stencil, sobretudo durante à madrugada, para não serem flagrados pela polícia.
Uma grande diferença entre o grafite e a pichação se dá em termos de conteúdo: em geral o grafite está relacionado à uma imagem e a pichação se foca em uma escrita de um indivíduo ou de um grupo que assina muitas vezes um texto de caráter político. A pichação está frequentemente associada à poluição visual e à marginalidade.
Enquanto o grafite é boa parte das vezes feito com a autorização do proprietário do imóvel, a pichação se dá majoritariamente sem autorização.
Os tipos de grafite
O grafite costuma ser dividido em dois grupos:
- spray art, promovida com o uso de spray, em geral de modo rápido, utilizando formas ou palavras simples e breves;
- stencil art, feita a partir de um cartão com formas recortadas que são colocadas no local desejado e recebem o spray de tinta. A tinta passa pelos orifícios do desenho, que é retirado posteriormente.
O perigo de grafitar
Em muitos países grafitar locais públicos ou privados é considerado uma contravenção punida com multa ou até mesmo detenção.
Em Los Angeles, por exemplo, a arte de rua é fortemente combatida. A prefeitura inclusive lançou um aplicativo para que as pessoas pudessem denunciar casos e terem recompensas pelo gesto. Quem denuncia pode receber até dois mil dólares. Em 2016 foram feitas mais de 130 mil reclamações e praticamente 3.000km quadrados de arte de rua foram apagados. As multas em Los Angeles para quem for pego grafitando variam entre mil e cinquenta mil dólares. Quem se arrisca corre o risco também de ir para a prisão cumprir pena entre seis meses a um ano.
Em Nova Iorque, por sua vez, a lei é mais branda. Quem é pego grafitando está sujeito a uma multa pequena e/ou a um ou dois dias de trabalho comunitário.
Em Madrid a multa para os grafiteiros vai de trezentos a seis mil euros, mas não há risco de prisão. Em Londres, uma das capitais do grafite, a lei é rigorosa: a multa é de até cinco mil libras e o infrator pode ficar preso por até dez anos.
A história do grafite
Inscrições em paredes públicas são conhecidas desde a época do Império Romano. No entanto, a arte do grafite ganhou força especialmente durante a década de 1970 em Nova Iorque quando um grupo de jovens resolveu desenhar marcas na cidade.
Um ano chave para o grafite foi maio de 1968, quando na capital francesa surgiu um movimento contracultural que usou os muros para inscrever trabalhos de caráter político ou mesmo poético. Veja abaixo exemplos de pichações feitas pelo movimento na época:
O grafite está muito ligado ao hip hop porque esse grupo viu na arte de rua uma linguagem para denunciar a opressão e a condição desfavorecida vivida por uma minoria que tentava dar voz.
Com o passar do tempo, as inscrições simples feitas inicialmente pelos grafiteiros foram ganhando contornos, cores e formas.
A primeira exposição inteiramente dedicada a arte do grafite foi realizada em 1975, em Nova Iorque, no Artist's Space. Seis anos mais tarde, Diego Cortez organizou outra exposição que foi importantíssima para o movimento intitulada New York/New Wave.
O grafite no Brasil
O grafite ingressou no país no final da década de 1970 especialmente no Estado de São Paulo influenciado pela cultura norte-americana.
Vale lembrar que vivíamos um período marcado pela censura provocada pela ditadura militar, por isso os grafiteiros foram extremamente corajosos e transgressores.
De São Paulo a arte foi se espalhando, aos poucos, para outros Estados do país. Descubra agora o nome de alguns dos grandes nomes do grafite brasileiro contemporâneo:
Os gêmeos
Autores de importantes grafites, os Gêmeos (Gustavo e Otávio Pandolfo) saíram de São Paulo para ganhar as paredes do mundo.
Eduardo Kobra
Nascido na periferia de São Paulo em 1975, Eduardo Kobra é um dos maiores artistas de rua do país já tendo realizado mais de 550 obras no Brasil e em outros 17 países.
Uma de suas obras mais famosas foi “O Beijo”, produzido em junho de 2012, em Manhattan, na região de Chelsea. A obra fazia uma releitura da fotografia tirada pelo jornalista norte-americano Alfred Eisenstaedt no dia 13 de agosto de 1945 que registrava a alegria do povo nas ruas com o fim da segunda guerra mundial. O painel de Kobra foi apagado quatro anos mais tarde.
O mural abaixo, com a imagem da autora Anne Frank, faz parte do projeto Olhar a Paz, onde Kobra registra personalidades históricas que lutaram contra a violência como Ghandi, Einstein e Malala Yousafzai.
Cranio
Fabio de Oliveira Parnaiba, conhecido no mundo das artes como Cranio, nasceu em 1982 em Tucuruvi, São Paulo. Seu trabalho tem uma pegada de forte crítica social e política e o personagem escolhido para protagonizar os seus murais foi o índio.
O grafite no mundo
Um dos maiores nomes no universo dos grafiteiros talvez seja Jean-Michel Basquiat (1960-1988), um americano que deixou mensagens poéticas e críticas nos prédios abandonados de Manhattan no final dos anos 1970.
Outro nome importante para esse universo é Banksy, um misterioso inglês que espalha a sua arte feita com stencil ao redor do mundo. Seu trabalho é profundamente marcado por uma crítica social diante do cenário contemporâneo.
Considerados por muitos como o pai do stencil, Xavier Prou (conhecido como Blek le Rat) nasceu em Paris, em 1951, e começou a ilustrar as ruas da capital francesa a partir dos anos 1980 com mensagens de cunho político.
As gírias do grafite
O universo do grafite é caracterizado por uma linguagem especial, uma terminologia própria permeada de gírias, muitas delas importadas do inglês norte-americano.
Confira abaixo algumas delas:
- Bite significa imitar o estilo de outro grafiteiro;
- Crew é o nome dado ao conjunto de grafiteiros que praticam a sua arte em conjunto e simultaneamente;
- Tag é a assinatura do grafiteiro;
- Piece é um grafite onde se usa mais de 3 cores;
- Toy é o nome dado a um grafiteiro iniciante;
- Spot é o lugar onde o grafite é feito;
- Wildstyle é um estilo específico de grafite caracterizado pelo uso de letras entrelaçadas;
- Free style é um trabalho livre, em geral improvisado;
- Bomb é o nome dado ao grafite ilegal, feito por isso de modo rápido e durante a noite. Quem faz o bomb é chamado de bomber.
Leia também:Conheça as obras mais fantásticas e polêmicas de Banksy.