Hereditário: explicação e análise do filme
Hereditário é um filme de terror norte-americano dirigido por Ari Aster que foi lançado em junho de 2018. O longa-metragem arrecadou um enorme sucesso junto da crítica e do público, sendo considerado um dos filmes mais arrepiantes dos últimos tempos.
A narrativa segue os passos de uma família que é abalada pela morte da avó, uma mulher que escondia muitos segredos. A partir desse momento, todos começam a ser alvo de acontecimentos sinistros, principalmente a neta mais nova.
Atenção: a partir deste ponto, você vai encontrar spoilers!
Explicação do filme Hereditário
O desenlace do longa-metragem continua sendo motivo de choque entre os espectadores, que procuram alguma espécie de explicação sobre tudo que acabaram de assistir.
Peter, o filho mais velho, desperta e procura o resto da família pela casa. Encontra o pai morto na sala e é atacado pela mãe, que está sendo alvo de uma possessão demoníaca.
Aí, ele resolve se esconder na casa da árvore, onde se depara com um ritual, retratos seus espalhados e vários desconhecidos que estão ajoelhados. Depois de assistir à morte violenta da mãe, ele se joga do alto e cai no chão, achando que é um pesadelo.
É então que vemos um espírito adentrar o seu corpo e Peter caminhar de volta para o local. Percebemos que existem incontáveis pessoas sem roupa que o observam, escondidas na escuridão do jardim.
A expressão no rosto do adolescente se transformou totalmente e ele começa a repetir o mesmo som que a irmã falecida costumava fazer. Nesse momento, vemos a foto de Ellen, a avó, na parede e Peter é coroado. Joan, um dos membros do culto, declara:
Charlie, você está bem agora. Você é Paimon, um dos 8 reis do Inferno.
Assim, descobrimos que Charlie é o espírito que tomou conta do corpo de Peter. No entanto, se lembrarmos dos livros mágicos de Ellen, conseguimos juntar as peças e compreender melhor este estranho ritual. Em uma obra chamada Invocações, Annie descobre um trecho sublinhado pela mãe que fala sobre o Rei Paimon.
A idosa era, afinal, a líder de um culto que trabalhava há muitos anos para trazer de volta à terra um espírito maligno e poderoso. Inicialmente, ele foi colocado no corpo de Charlie, assim que a menina nasceu, já que ela era vulnerável. No entanto, como não conseguia usar os seus poderes, Paimon passou a esperar um "hospedeiro" masculino e saudável.
Os membros do culto, que conspiraram para concluir o ritual, acreditavam que ele traria honra e riqueza para as suas vidas. Nas fotografias que Annie encontra, percebemos que todos estão juntos e alegres, em clima de celebração pelo futuro.
É bastante provável que Charlie soubesse aquilo que iria acontecer, já que estava sendo treinada e enfeitiçada pela avó desde o começo. Entre os seus livros e notações, a matriarca deixa um bilhete para a filha, que a protagonista descobre no início da narrativa. Embora seja vago a princípio, no final descobrimos que esta é a confissão de Ellen.
Consciente de que todos iriam morrer, ela pede desculpa por tudo que não contou, garantindo que "o sacrifício será pouco perto da recompensa". Deste modo, fica evidente que tudo se tratou de um plano orquestrado por Ellen, que já estava sendo preparado há muitos anos e foi concluído pelos seus seguidores.
Segundo Ari Aster, o diretor do longa-metragem, este final devastador é apenas uma questão de perspectiva:
Em última análise, o filme é uma história de sucesso do ponto de vista da avó e do seu covil de bruxas.
Análise dos principais temas e simbologias
Só depois de assistirmos o final é que podemos desvendar o enredo misterioso de Hereditário. Ao longo de todo o filme, os próprios espectadores se questionam a todo momento acerca da maldição que persegue a família e o que poderá estar causando aqueles eventos macabros.
Em várias passagens, somos levados a desconfiar de Annie, a mãe, que se comporta de um modo errático. Somos colocados ao nível dos protagonistas da trama, que vão testemunhando cenas cada vez mais pesadas, sem entender qual a motivação por trás delas.
Deste modo, podemos afirmar que o filme é contado a partir do ponto de vista daqueles que serão sacrificados e estão caminhando para um destino trágico, sem que ao menos tenham consciência disso.
No entanto, o longa de Ari Aster é atravessado por incontáveis pistas e símbolos que merecem uma interpretação atenta.
Destino versus livre-arbítrio: tema central
Apresentando uma desgraça que estava destinada a acontecer, Hereditário reflete sobre a liberdade do ser humano e a impossibilidade de determinar o seu próprio caminho.
A temática surge na aula de literatura que Peter frequenta, enquanto os alunos analisam as peças trágicas da Antiguidade. O exemplo usado é o do semideus Héracles, que foi vítima da própria arrogância, porque pensava controlar o destino. A classe debate e conclui que essa é a maior tragédia: os heróis não têm escolha sobre o futuro.
Assim, as personagens da história se configuram como meros brinquedos do destino, algo que é metaforizado pelas figuras em miniatura que Annie vai criando para representar todos eles.
Outro indício fúnebre é o pombo que bate no vidro da janela e cai no chão, enquanto Charlie está na escola. No final da aula, a garota vai atrás do animal e corta a sua cabeça, passando a guardá-la no bolso.
Ela chega a desenhar o pombo usando uma coroa na cabeça, indicando que sabe o que vai acontecer com ela e o modo como irá reencarnar posteriormente.
Dias depois, Peter vai a uma festa e a mãe o força a levar a irmã, contra a vontade dos dois. No caminho de regresso, o carro do adolescente sofre um embate e a irmã é decapitada na hora.
Após a morte de Charlie, Annie fica descontrolada e procura todos os meios de recuperar a filha. É desse modo que ela conhece Joan e se envolve com os seus rituais de invocação de espíritos.
No entanto, ao perceber que tudo está piorando, ela quer terminar com as atividades paranormais e pede ao marido para queimar o caderno onde a filha costumava desenhar. Este é o único momento em que a protagonista tenta resistir à maldição, mas é inútil e o seu companheiro morre.
Laços familiares complexos e traumáticos
No começo do filme, o comportamento de Charlie parece ter se tornado bizarro devido à morte da avó. No entanto, aquilo que poderia ser um sintoma do luto esconde um mal transmitido pela família.
Através do discurso de Annie no velório, é notório que a sua relação com a mãe não era próxima nem afetuosa. Pelo contrário, deixa evidente que Ellen era uma mulher cheia de segredos, da qual esteve afastada grande parte da vida.
Mais tarde, num grupo de apoio para pessoas que perderam entes queridos, ela conta que a mãe era manipuladora e apenas reapareceu com o nascimento da neta.
Pouco tempo depois, durante um pesadelo, a protagonista confessa que nunca quis ser mãe, e tentou perder Peter várias vezes, mas foi forçada por Ellen a manter a gravidez.
Em desespero, ela grita: "eu estava tentando salvar você". Embora tenha sido sempre controlada pelos poderes ocultos da mãe, Annie parecia tomar consciência da verdade durante os episódios de sonambulismo. Isso explicaria a sua tentativa de incendiar o quarto onde Peter e Charlie dormiam, anos antes, para protegê-los.
Logo no começo da narrativa, a neta menciona que a sua avó gostaria que ela tivesse nascido menino. Posteriormente, no grupo de apoio, Annie conta que tinha um irmão, Charles, que tirou a própria vida. O jovem era considerado esquizofrênico e acreditava que a mãe estava tentando colocar pessoas dentro do seu corpo.
No final, ficamos sabendo que Charles estava falando a verdade. Ele foi a primeira cobaia nas experiências macabras da mãe para invocar o espírito de Paimon.
Como não teve acesso a Peter durante a infância, já que estava afastada de Annie, Ellen esperou a chegada da neta para atacar de novo.
Interferência do culto e desaparecimento de Peter
Durante a história inteira, temos a sensação nítida de que os personagens estão sendo observados, e mesmo perseguidos, por alguma ameaça invisível.
Contudo, o perigo está lá desde o começo: os inúmeros desconhecidos que aparecem no velório para se despedir são, na verdade, os membros do culto.
Eles podem ser identificados pelo colar dourado com um símbolo enigmático que também era usado por Ellen. Essas figuras estão presentes nos momentos mais cotidianos e banais, assombrando a família inteira.
Também são estes personagens anônimos que desenterram o corpo de Ellen e o escondem no sótão da casa, uma semana depois da sua morte. Na realidade, eles circulam pelo espaço, deixando vários símbolos mágicos como triângulos no chão e inscrições nas paredes.
É ainda o culto que provoca o acidente fatal que vitima Charlie. Graças ao desespero e fragilidade de Annie, eles conseguem se aproximar da família. Joan, que supostamente frequenta o grupo de apoio para pessoas de luto, trava amizade com a mãe destroçada e finge ajudá-la.
Alegando que encontrou uma forma de comunicar com o filho e o neto que supostamente tinha perdido, Joan consegue que a protagonista inicie o ritual de invocação, sem ter consciência disso.
Usando da manipulação e da falsa empatia, ela convence a mãe a invocar o espírito para dentro de casa. Enquanto isso, depois da morte tenebrosa da irmã, Peter vai entrando em um estado quase catatônico. Ele passa a ter ataques de pânico e asfixia, alucinando com o próprio reflexo.
Como se fosse perseguido pela memória de Charlie, ele começa a escutar o som que ela fazia o tempo todo. Quando o ritual está quase concluído, o adolescente escuta a voz de Joan que o manda embora: ele está sendo expulso do seu corpo.
Para que ele se torne o "hospedeiro" de Paimon, a sua alma acaba sumindo no vazio.
Ficha técnica do filme
Título |
Hereditário (no Brasil) |
Ano da Produção | 2018 |
Dirigido por | Ari Aster |
Estreia | 8 de Junho de 2018 (Mundial) 21 de Junho de 2018 (no Brasil) |
Duração |
126 minutos |
Classificação | Não recomendado para menores de 16 anos |
Gênero | Terror, Drama, Suspense |
Países de Origem | Estados Unidos da América |
Elenco Principal |
Toni Collette |
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