Análise do quadro Independência ou Morte (O Grito do Ipiranga)
Independência ou morte, também conhecido como O Grito do Ipiranga, é um quadro do artista Pedro Américo de Figueiredo e Mello.
Datada de 1888, a pintura exibe uma representação de Dom Pedro I proclamando a independência do Brasil.
Feita sob encomenda, a obra de grandes proporções tem 415 x 760 cm e encontra-se atualmente no Museu Paulista (Museu do Ipiranga) e pode ser classificada como uma obra do Neoclassicismo.
A cena retratada é uma idealização do momento em que Dom Pedro I declara que o Brasil já não era mais colônia de Portugal. Portanto, esse é um trabalho que não apresenta fielmente essa passagem da história.
Inspiração em tela francesa
Pedro Américo era um pintor acadêmico e estudou arte na França entre 1859 e 1864, assim, suas referências eram a pintura europeia.
A intenção do artista foi criar uma obra icônica que exibisse de modo glorioso e solene um importante marco histórico brasileiro.
Assim, ele realizou diversos esboços e estudos inspirados em outras obras, uma delas é a tela Batalha de Friedland (1875), do francês Ernest Meissonier, que serviu como referência.
Caráter teatral e patriota
A cena pintada por Pedro Américo exibe um caráter teatral, com gestos amplos e muitos personagens em uma atmosfera que exalta o patriotismo e coloca Dom Pedro como um herói nacional.
Perceba a imponência do gesto do imperador, que levanta sua espada com um olhar fixo, enquanto os homens que o acompanham tiram o chapéu, em sinal de respeito e aclamação.
Além disso, o nobre está posicionado quase ao centro da composição, o que destaca sua figura, solenemente trajada com vestimentas pomposas.
Impressão de movimento na composição
A maneira como a cena é construída foi muito bem pensada para exaltar o momento e provocar no espectador a impressão de estar participando da situação.
Há um clima de aventura que pode ser percebido através da sensação de movimento da cena. Para isso, o artista utilizou alguns recursos que direcionam o olhar de quem observa o quadro.
Perceba que há uma organização dos elementos em dois semi-círculos, um que orienta o olhar para a direita e para cima, seguindo a linha da cavalaria e outro que segue um caminho para baixo e para a esquerda, na estrada de terra.
Participação do povo como espectador
O povo brasileiro é representado de maneira passiva e assustada por meio da figura do homem do campo que passa pelo local com seu carro de boi, no canto inferior esquerdo.
Há ainda uma residência bastante simples ao lado direito. Ela foi feita baseada em uma casa real que havia no lugar.
Curiosidades sobre a pintura e momento histórico
Como já foi abordado, essa obra foi feita com o intuito de transmitir um caráter glorioso, imaginativo e imponente para a nação brasileira. O objetivo foi alcançado e a tela entrou para a história e imaginário da população, sendo interpretada por muitos como se a situação tivesse ocorrido dessa forma.
Pedro Américo esteve no local diversas vezes, fez estudos de campo, teve acesso a documentos históricos e vestimentas imperiais a fim de produzir uma imagem que simbolizasse toda a pompa que o contexto exigia.
Entretanto, conta-se que a ocasião - ocorrida mais de meio século antes - foi bem diferente da retratada. Os animais, por exemplo, provavelmente eram mulas ao invés de cavalos, pois eram mais aptos a aguentar esse tipo de expedição.
Além disso, sabe-se que Dom Pedro I estava com a saúde comprometida quando deu o grito da independência, por conta de problemas intestinais, então, é provável que ele não estivesse em seu melhor momento.
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