Filme Mãe! (Mother!): resumo e explicação
Mãe! (Mother!, no original) é um filme de suspense e terror psicológico, dirigido pelo norte-americano Darren Aronofsky e lançado em setembro de 2017.
O enredo conta a história de um poeta e da sua esposa que habitam uma casa que foi reconstruída depois de um incêndio. O clima de sossego termina subitamente, com a chegada de um convidado inesperado.
Atenção: a partir deste ponto, você vai encontrar spoilers!
Interpretações principais do filme
Mãe! provocou reações bastante diferentes no público: se uma parte dos espectadores ficou intrigada com o mistério, a outra teceu fortes críticas ao longa-metragem.
Com um ritmo acelerado, símbolos confusos e metáforas que se sobrepõem, o filme deixa várias questões no ar, abrindo espaço para muitas dúvidas acerca do que vimos.
Embora Aronofsky tenha fornecido várias pistas que nos ajudam a acompanhar a narrativa, nem todas são fáceis de entender. Tudo se torna ainda mais complexo quando percebemos que aqui a realidade pode se misturar com o sonho ou a alucinação.
Resumo e explicação do filme Mãe!
O Poeta é Deus e a casa é o Paraíso
A história começa com uma casa que está queimando. De repente, a mão de um homem coloca um cristal em cima de uma estante e tudo se restaura. Esse gesto, que se assemelha a um milagre, deixa evidente desde o início que estamos perante alguma forma de poder sobrenatural.
O dono da casa, designado como o Poeta, passa os dias tentando escrever enquanto a sua esposa se dedica a reformar cada detalhe do local.
Sempre se comportando como um marido distante, ele está em busca de inspiração e o seu único objetivo é criar.
A vida tranquila e silenciosa se altera com a chegada de um convidado e, posteriormente, da sua esposa e dos seus filhos. O espaço, que pode ser identificado como o Paraíso, recebe o seu primeiro ser humano: Adão.
Logo depois chega Eva e os filhos, Abel e Caim. Mesmo depois de o casal ser expulso do Paraíso, a casa vai sendo ocupada por cada vez mais pessoas, que se afirmam como fãs ou seguidores do Poeta. Ele, por outro lado, parece ser uma representação metafórica de Deus, que apenas se importa com a criação e o amor dos humanos.
Na manhã seguinte à concepção, a protagonista acorda sabendo que está grávida: o bebê que carrega é Jesus. Passando a representar a Virgem Maria, ela procura salvar o filho até ao final, fugindo das incontáveis ameaças que surgem.
Perante cenas cada vez mais brutais e chocantes, que simbolizam a decadência da humanidade, a casa vai sendo depredada e a mulher precisa se esconder para parir.
Apesar de todos os seus esforços, ela acaba assistindo ao sacrifício do filho, que pretende livrar os humanos dos seus pecados.
Enfurecida, desce até à garagem e provoca uma explosão que destrói a casa inteira. O Poeta, no entanto, não é afetado pelas chamas. Carregando a esposa, moribunda, nos braços, ele fala que vai levá-la até ao começo.
Aí, ele arranca o coração da mulher e, lá dentro, encontra um cristal. Declara, então, que precisa "tentar de novo”. Colocando o cristal no mesmo lugar de antes, tudo volta a se restaurar. Com isso, podemos depreender que este Deus vive preso num ciclo de criação e destruição da humanidade.
Exploração e destruição da Mãe Terra
Além dessa leitura religiosa, o filme também contem uma mensagem importante sobre ecologia e a conservação do nosso planeta.
Em vários momentos da narrativa, percebemos que existe uma ligação especial entre a protagonista e a casa, como se uma fosse a extensão da outra. Isso se torna notório sempre que ela toca nas paredes, sentindo a sua pulsação.
Nessas passagens, é sugerido que a casa tem um batimento cardíaco, está viva, funcionando como um símbolo para o nosso planeta. Inicialmente, o espaço é organizado, bonito e harmonioso. Aos poucos, vão chegando cada vez mais pessoas, que começam a invadir todos os cantos.
A esposa do Poeta vai ficando gradualmente mais desesperada, tentando parar os atos de vandalismo e gritando que “estão destruindo a casa”. O espaço vai sendo todo saqueado e a população vai se transformando num estranho culto religioso.
Subitamente, como um "desfile de horrores", a protagonista começa a se cruzar com jornalistas e fotógrafos, rituais macabros, brigas. Mais à frente, as coisas pioram ainda mais: invasões policiais, tiroteios, execuções, tráfico humano.
De uma forma aterradora, o espectador vai sendo confrontado com aquilo que há de pior na realidade atual. Depois da primeira morte que ocorreu no local, o chão ficou com uma mancha de sangue que insistia em reaparecer.
Com as ações daqueles indivíduos, a "ferida" vai aumentando, como se o local estivesse ficando machucado com toda aquela violência. A casa sangrando seria, então, um modo de ilustrar a forma brutal como nós, seres humanos, temos tratado o lugar onde nascemos.
Também não é por acaso que tudo é destruído por uma grande explosão: trata-se de uma reflexão sobre a crise climática, o planeta queimando por consequência dos atos da humanidade.
A teoria foi confirmada por Darren Aronofsky numa entrevista:
A alegoria é: aqui estão esses recursos incríveis e infinitos que nos foram dados e nós abusamos de todos eles. Não seguimos o que aprendemos na creche sobre limpar a bagunça que fazemos. Estamos criando empatia com a Mãe Natureza, sentindo sua dor e sua ira.
Temas e simbologias presentes no filme Mãe!
São incontáveis as referências bíblicas que chamam a atenção e apontam, a todo o tempo, para uma interpretação religiosa do filme. No entanto, também existem símbolos que apontam noutros sentidos e que nunca chegamos a entender inteiramente.
Na verdade, talvez o aspecto mais interessante do longa-metragem seja o modo como ele deixa o espectador pensando, juntando as peças do puzzle. Pelo caminho, somos levados a refletir sobre várias questões relacionadas com a nossa sociedade e o mundo em que vivemos.
Retrato de um Deus egoísta
Apresentado sob a forma de um escritor, este Deus vive distanciado da esposa e da sua própria casa. Desde o começo, ela acorda sozinha no lugar paradisíaco e fica procurando o Poeta em todos os cômodos.
Quando ele regressa, não dá muitas explicações, alegando apenas que buscava inspiração para os seus livros. É notório que este criador só presta atenção ao seu trabalho, agindo de forma fria e indiferente com a parceira.
Quando narra a sua história, o Poeta conta que perdeu tudo num incêndio, mas encontrou forças para começar de novo. Depois disso, conheceu a mulher, que passou a restaurar a casa inteira sozinha, enquanto ele tentava escrever.
Mesmo assim, o marido age como se ela não apreciasse o que ele faz e o seu comportamento é arrogante e egocêntrico. É curioso reparar que, aqui, a conduta da divindade é bastante humana, ou seja, repleta de falhas e defeitos.
Deliciado pela atenção que recebe dos seus convidados, ele vai ignorando os apelos da mulher, que fica nervosa com a chegada das visitas. Apesar do desconforto da esposa, fala que podem ficar o tempo que quiserem.
A protagonista entra em pânico e vê o seu lar sendo destruído porque o Poeta declarou que tudo era "para partilhar" e "de todo mundo". Enquanto isso, o marido a troca pelo amor da multidão que, segundo ele, "nunca é suficiente".
Até depois do assassinato do filho nas mãos dos humanos, o Poeta continua perdoando os seus atos, negligenciando a dor da Mãe, em nome dos seres que criou.
Adão, Eva e o fruto proibido
É possível identificarmos o primeiro homem na cena em que o vemos vomitando no banheiro. Trata-se de Adão: a ferida que vemos na sua caixa torácica surgiu quando Deus retirou a sua costela para criar a mulher.
Na manhã seguinte, Eva entra pela porta, e os dois parecem extremamente felizes e apaixonados. O comportamento da convidada é caótico, sempre fazendo perguntas incômodas que perturbam a paz aparente.
O cristal guardado no escritório do Poeta seria, então, o fruto proibido no qual ninguém pode tocar. Contudo, apesar dos avisos que recebe, Eva não respeita a regra e acaba quebrando o objeto em mil pedaços.
É assim que Adão e Eva despertam a fúria de Deus, que tranca o escritório com tábuas e ordena que ambos saiam da sua casa, ou seja, são expulsos do Paraíso.
Caim, Abel e o dilúvio
Depois do ato de desobediência, segundo é narrado no Gênesis, Adão e Eva tiveram dois filhos: Caim e Abel. Eles surgem no filme, representados pelos dois filhos dos visitantes, num momento que altera o ritmo do resto da narrativa.
Subitamente, a casa do Poeta é invadida pelos dois jovens, que brigam por causa de um testamento e revelam competir pela afeição dos pais. Numa cena frenética, Caim mata o irmão por ciúmes, realizando o primeiro assassinato da humanidade.
O episódio deixa uma marca nas suas vidas e um trauma na protagonista, simbolizados pela mancha de sangue no chão. A partir daí, no velório, os indivíduos começam a se comportar de forma gradualmente pior. O evento vira uma festa, onde as pessoas bebem, quebram objetos e geram o caos por onde passam.
Quando uma mulher insiste em sentar na banca da cozinha, que acaba quebrando, a festa termina de repente com uma inundação. Esta é uma referência ao dilúvio provocado por Deus, quando ele percebeu a perversidade do ser humano:
Disse o Senhor: "Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, os homens e também os animais, grandes e pequenos, e as aves do céu. Arrependo-me de havê-los feito".
Nascimento e morte de Jesus Cristo
Depois da inundação, o local fica deserto e o casal acaba brigando, enquanto o Poeta justifica que os convidados estavam só “celebrando a vida”. Na mesma noite, eles fazem as pazes e se envolvem. Na manhã seguinte, com o sol batendo na janela, ela declara: “Estou grávida”.
Nesta parte, o filme se altera: os personagens estão felizes, tudo se torna calmo e cheio de luz. Como se houvesse um salto no tempo, a barriga da esposa já está grande e o Poeta terminou o seu livro.
Logo, ela se desespera, percebendo que vai perder o marido. A casa é invadida de novo, por uma multidão que não para de aumentar. Grávida, ela precisa fugir e se esconder para parir Jesus, no meio de toda a confusão.
O Poeta acaba barrando uma porta e apenas observa enquanto a Mãe coloca o filho no mundo, totalmente sozinha. Ela implora para irem embora dali, mas os invasores vão deixando presentes para ele e insistem em conhecer o garoto.
Apesar dos seus esforços, a Mãe não consegue proteger seu filho da multidão, que o encara como o salvador que trará a redenção dos seus pecados.
Assim, ela é obrigada a assistir à morte do filho, que é devorado, assim como Maria viu o calvário de Jesus. No final de tudo, Deus ainda remata falando que ela precisa perdoar a barbárie.
O que era o remédio amarelo?
Todo mundo ficou curioso acerca do estranho remédio que a protagonista tomava sempre que estava com sintomas de ansiedade e pânico.
Para o espectador, é evidente que ela sofre de alguma perturbação na sua saúde mental, mas não conseguimos perceber até que ponto é afetada. Quando descobre que está grávida, ela suspende o uso da medicação, o que pode piorar o seu quadro mental.
No entanto, o frasco que contem a substância não tem rótulo, o que nos leva a concluir que não se trata de uma prescrição médica. É possível, então, que este seja um produto natural, feito a partir de plantas ou raízes.
Algumas teorias apontam que se trata da Kava-kava, uma folha que é usada para fazer chá e combater o estresse. No entanto, também pode se tratar de algo capaz de alterar a sua percepção da realidade. Desta forma, aquilo que assistimos se torna ainda menos fiável, já que depende do olhar da protagonista.
O sofrimento da Mãe
Outra hipótese é o remédio amarelo ser uma referência ao conto O Papel de Parede Amarelo (1892), de Charlotte Perkins Gilman.
A narrativa, considerada uma obra precursora da literatura feminista, fala sobre uma mulher que enlouquece trancada num quarto, por ser oprimida pelo marido. Na verdade, se pensarmos bem, vemos a protagonista sempre caminhando pela casa, mas ela é a única que não sai do local.
Embora deixe claro que não quer receber os convidados, as suas palavras são ignoradas e as suas vontades não têm significado algum. Sempre solitária e menosprezada, ela continua em silêncio: arrumando, cozinhando e servindo a todos.
Depois de assistir a um crime violento, todos partem para o hospital e ela suplica para não ficar para trás. Mesmo assim, os seus pedidos não servem de nada, e é ela que permanece no local e limpa o sangue do chão.
Se o seu marido é "o Poeta", esta mulher, por sua vez, não tem nome nem título. Ela é apenas "a casa", algo que escuta nos seus últimos momentos de vida. Assim, o filme também se configura como um retrato grotesco e alegórico da sociedade patriarcal.
Enquanto mulher, esposa e mãe, é ela que cuida de todo mundo, mas os seus esforços parecem invisíveis e jamais são valorizados.
No discurso final, ela exprime os seus sentimentos sobre a relação unilateral que esgotou todas as suas energias:
Você nunca me amou. Você só amava o quanto eu amava você. Eu te dei tudo e você jogou fora.
Quando morre e o seu coração se transforma num cristal, esta mulher passa a ser um objeto, literalmente. Graças ao seu amor, cuidado e trabalho emocional ele pode, mais uma vez, se erguer das cinzas.
No riso do Poeta não há uma pinga de remorso. Na cena seguinte, vemos outra jovem acordando na sua cama. Isso nos leva a concluir que se trata de um comportamento cíclico, no qual as mulheres são exploradas até ao limite e substituídas em seguida.
Ficha técnica do filme
Título |
Mãe! (no Brasil) |
Ano da produção | 2017 |
Dirigido por | Darren Aronofsky |
Lançamento | 13 de Setembro de 2017 (Mundial) 21 de Setembro de 2017 (no Brasil) |
Duração | 121 minutos |
Classificação | Não recomendado para menores de 16 anos |
Gênero |
Drama |
Países de origem | Estados Unidos da América |
Elenco principal | Jennifer Lawrence Javier Bardem Ed Harris Michelle Pfeiffer |
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