Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade
Manifesto Antropófago (ou Manifesto Antropofágico) foi escrito por Oswald de Andrade e publicado na primeira edição da Revista de Antropofagia, lançada em 1928.
O Manifesto é considerado até os dias de hoje o principal texto do movimento.
Objetivo do Manifesto
Para se conhecer propriamente o objetivo do Manifesto devemos olhar para trás e entender um pouco da história do nosso país. Antes do movimento que deu origem ao manifesto, a cultura brasileira reproduzia o que se passava no estrangeiro, isto é, os artistas basicamente faziam cópias daquilo que viam no exterior.
O Manifesto Antropófago, brilhantemente desenvolvido por Oswald, clamava aos artistas brasileiros por originalidade e criatividade. Ele pretendia celebrar o nosso multiculturalismo, a miscigenação.
O desejo era devorar o que vinha de fora, assimilar a cultura alheia. Não negar a cultura estrangeira, pelo contrário: absorvê-la, degluti-la, processa-la e mistura-la para dar origem ao que é nosso. Podemos identificar nesse cenário um movimento centrípeto, de trazer o exterior para dentro de nós.
Esse processo tinha a ver com a pesquisa pela nossa identidade nacional, com o objetivo final de promover uma independência cultural. Através da intertextualidade e do movimento de se beber em várias fontes se procurava alcançar uma cultura própria autônoma.
Contexto de publicação
O Manifesto Antropófago foi escrito em 1928. Ele é considerado o principal texto do movimento tendo sido publicado na primeira edição da Revista de Antropofagia (lançada em 1928).
O movimento do grupo de artistas modernistas era o de mergulhar nas nossas raízes, recontar a nossa história, rever o nosso passado.
Sobre o título do Manifesto
Antropo vem de Anthropos que quer dizer homem. Fagia, por sua vez, vem de Phagein, que quer dizer comer.
Ao pé da letra a junção das duas palavras significa canibalismo, que aqui ganha um sentido metafórico, simbólico. O canibalismo do índio tinha como objetivo incorporar os dons do inimigo, as características positivas da vítima.
O que é um Manifesto?
Segundo definição retirada do dicionário, um manifesto é uma "Declaração pública em que o chefe de uma nação ou um partido político, um grupo de pessoas ou um único indivíduo esclarece determinadas posições ou decisões".
Outra definição possível é: "Declaração escrita veiculada pela diplomacia de um Estado a outra nação".
A escrita de um manifesto geralmente possui um tom de discurso, carregado por um viés político e ideológico, e almeja a persuasão.
Frases-chave do Manifesto Antropófago
O Manifesto Antropófago é composto por uma série de orações fortes, que convidam o leitor a refletir sobre as questões levantadas pelos modernistas. Vejamos abaixo três dessas afirmações categóricas:
Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Se fosse necessário resumir o manifesto em um único trecho, provavelmente o acima seria escolhido. As breves palavras sintetizam com precisão a ideia que o manifesto deseja transmitir.
Já no título do documento se encontra uma variante da palavra antropofagia, um valor que serve de norte para a geração modernista. Aqui o conceito simbólico aparece expandido para uma série de setores: social, econômico, filosófico. O que reúne esses vários aspectos é um denominador comum modernista que nos ensina a deglutir a cultura do outro e incorporá-la na nossa.
Tupi, or not tupi that is the question.
A frase acima foi retirada da peça Hamlet, uma célebre criação de Shakespeare, e distorcida para caber no contexto proposto por Oswald de Andrade.
Trata-se, portanto, de um gesto de intertextualidade, de uma escancarada apropriação da cultura do outro para adaptação na realidade local. Esse movimento é ao mesmo tempo uma forma de homenagear o autor original e um exercício de criatividade ao se fazer a reinterpretação de uma oração clássica.
A nossa independência ainda não foi proclamada.
O trecho acima faz uma constatação polêmica uma vez que o país já havia proclamado a independência em setembro de 1822. Mais de cem anos depois do famoso anúncio, Oswald provoca os brasileiros sugerindo que nós afinal não havíamos conquistado a tão desejada autonomia.
O escritor aqui faz uma crítica ao fato de sermos profundamente dependentes da cultura que se produzia no estrangeiro e pretende convidar o leitor do manifesto a refletir sobre a nossa real independência.
Leia o Manifesto Antropófago na íntegra
O Manifesto Antropófago encontra-se disponível para leitura em formato pdf.
Ouça o Manifesto Antropófago
Quem foi Oswald de Andrade (1890-1954)
José Oswald de Sousa Andrade Nogueira, conhecido pelo grande público apenas como Oswald de Andrade, nasceu em São Paulo em janeiro de 1890.
Provocador, rebelde e polêmico, ele foi um dos líderes do modernismo ao lado de Anita Malfatti e de Mário de Andrade entre outros intelectuais.
Formado em Direito, Oswald nunca trabalhou na área tendo atuado sempre como jornalista e escritor.
Depois de regressar de uma temporada na Europa, Oswald ajudou a promover uma verdadeira revolução cultural no país e participou da Semana de Arte Moderna de 1922.
O Manifesto Antropófago foi provavelmente o seu texto mais famoso, embora também tenha escrito quatro anos antes o fundador Manifesto da Poesia Pau-Brasil (março de 1924).
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