Máscaras africanas e seus significados
A cultura dos diversos povos africanos é riquíssima em elementos simbólicos. A máscara africana é uma das manifestações que tem esse caráter.
Em grande parte das sociedades tribais, as máscaras são utilizadas como ferramentas de conexão com o universo espiritual. É através delas que os povos criam um elo com arquétipos, forças sobrenaturais e ancestrais.
Os adereços são associados às populações de países da África subsaariana, ou seja, que estão ao sul do Deserto do Saara, e compõe a maior parte do continente.
As máscaras africanas como adereços simbólicos
Tradicionalmente usadas em rituais e cerimônias, as máscaras africanas são muito diversificadas, sendo que cada uma delas tem um significado e propósito específico.
Confira 8 tipos de máscaras, seus povos e regiões de origem, além de suas finalidades.
1. Máscaras em madeira do povo Fang
As máscaras Fang, originárias do Gabão e Camarões, têm características minimalistas, apresentando olhos pequenos e bocas muitas vezes inexistentes. As sobrancelhas são ligadas e o nariz é longo.
Conhecidas como máscaras Ngil, essas peças eram utilizadas em cerimônias de iniciação e outros rituais, podendo ser colocadas apenas por membros escolhidos da tribo.
Elas têm como matéria-prima a madeira, sendo mais comum o uso do ébano, mogno e jacarandá. Ainda hoje os objetos são produzidos por artesãos e comercializados para países estrangeiros.
Foi nesses objetos que artistas das vanguardas europeias, como Pablo Picasso e Matisse, buscaram inspiração para a construção de uma arte ocidental inovadora.
2. Máscaras em bronze da região de Ifé
A cidade de Ifé, na Nigéria, é a antiga capital do povo Iorubá. Nessa região foram encontrados alguns exemplares de máscaras feitas em metal.
São objetos de cunho naturalista, o que aguçou a curiosidade dos ocidentais, já que essas máscaras, especificamente, exibem uma aparência muito diferente da arte produzida em outros lugares do continente.
No caso da máscara mostrada aqui, ela foi criada com o propósito de ser utilizada em rituais fúnebres. Supõe-se que seja a representação de uma figura da realeza de Ifé. Vale lembrar que nem todas as máscaras iorubás apresentam essas características.
3. Máscara de figura feminina do povo Tchokwe
O povo Tchokwe, originário da região da Angola, é o responsável pela criação das máscaras Chihongo e Pwo.
Essas peças representam figuras femininas, trazendo assim o conceito da fertilidade. Carregam ainda desenhos na face representando as escarificações e tatuagens tradicionais do povo. Os elementos que aparecem nas maçãs do rosto fazem referência a lágrimas.
O curioso é que nas cerimônias onde são exibidas, apenas os homens podem vestir as máscaras. Eles vestem também um traje feito com elementos naturais, como fibras, além de seios feitos em madeira.
4. Máscara de duas faces do povo Ekoi
O povo Ekoi (presente na Nigéria e Camarões) produz um tipo de máscara muito peculiar. São figuras que exibem dois rostos opostos e simétricos, grandes chifres e aparência de carrancas, significando potência e rigidez.
Além disso, elas trazem símbolos na face como as escarificações presentes nos próprios corpos dos indivíduos.
A principal característica dessas peças é a presença de duas faces. Essa particularidade representa as forças opostas presentes no universo, como o masculino e o feminino; o domínio terreno e espiritual, dos vivos e dos mortos, dentre outras concepções de dualidade.
Eram máscaras usadas tradicionalmente em eventos especiais como ritos de iniciação e cerimônias fúnebres.
5. Máscara de Elefante do povo Bamileque
Essa curiosa máscara é tradicional do povo Bamileque, uma das diversas etnias presentes na região de Camarões, na África Central.
O adorno, ricamente bordado com miçangas, só pode ser vestido por pessoas específicas, geralmente pertencentes à realeza, e outros escolhidos.
Isso porque a peça simboliza o poder, representado pela figura do elefante. Outros animais como o leopardo e o búfalo também são símbolos de poder para o povo Bamileque
6. Máscara Egungun do povo Iorubá
O povo Iorubá possui uma cultura riquíssima e diversificada. A etnia encontra-se sobretudo em regiões da Nigéria, Benin e Togo.
A máscara egungun é uma criação iorubá que liga-se às ideias de vida após a morte. O adereço carrega grandes orelhas remetendo à figura do coelho. O animal é associado à práticas noturas e tem o poder de impedir más influências, por isso a máscara é usada apenas à noite.
Nos rituais em que são exibidas, o membro da comunidade que a veste, simboliza os ancestrais, que já partiram para o mundo dos mortos e retornam para visitar os vivos e ajudar em problemas de saúde e de disputas por território.
7. Máscara do povo Bwa
O povo Bwa é um sub-grupo dos povos Bobo. Eles vivem na região de Burkina Faso e possuem em suas manifestações culturais a tradição das máscaras em formato de placa.
Essas máscaras simbolizam instrumentos de conexão entre o universo selvagem e o universo social. Elas interagem equilibrando as forças e trazendo entendimento e paz.
Nesse tipo de adereço observamos o uso de padrões geométricos onde pode-se afirmar que a relacionam-se á água e terra.
Na parte de cima há um elemento que pode ser lido como o significado de um pássaro presente na região, chamado Calao-Grande, importante para diversos povos africanos. Já a parte de baixo remete à coruja, animal de clarividência.
Essa máscara pode ser usada tanto em celebrações de iniciação, como em eventos fúnebres e até mesmo em negociações comerciais.
8. Máscaras Gueledé do povo Iorubá
As máscaras gueledé estão relacionadas à divindade conhecida como Iyá Nlá, esposa de Obatalá. Essa divindade é considerada a "grande mãe", a "mãe-natureza", a criadora de todos.
Na cultura iorubá, essas peças são usadas durante a noite, quando não há luz na terra. Além disso, nos rituais há a presença de danças tradicionais.
A aparência de tais adereços remete à do próprio povo, com nariz triangular e saltado, queixos pequenos e face redonda. É interessante observar também que na parte superior da máscara há esculturas simbolizando diversas perspectivas da cultura local.
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Referências bibliográficas:
BEVILACQUA, Juliana Ribeiro da Silva; SILVA, Renato Araújo da. África em Artes. São Paulo: Museu Afro Brasil, 2015.