8 contos famosos de Machado de Assis: resumo

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
Tempo de leitura: 7 min.

Muita gente conhece os romances de Machado de Assis, mas poucos puderam descobrir a beleza dos contos publicados pelo autor. Frequentemente publicados em jornal antes de serem reunidos em livro, os contos são pérolas imperdíveis da literatura brasileira.

Separamos para você os 8 contos imperdíveis do maior nome da nossa literatura!

1. Missa do Galo, 1893

Nogueira, o protagonista, relembra em Missa do Galo um evento ocorrido anos atrás na Corte, quando tinha 17 anos. O narrador cria com o leitor uma relação de intimidade estabelecendo uma conversa com um tom confessional. Em algumas poucas páginas, Nogueira revela o misterioso diálogo que teve com Conceição, uma mulher mais velha e casada, no dia da noite de Natal.

Missa do Galo foi publicado pela primeira vez em 1893 e em 1899 ganhou a forma de livro tendo sido inserido em Páginas recolhidas.

2. Adão e eva, 1896

Nessa narrativa breve o enredo gira em torno da temática religiosa. Os personagens (D.Leonor, frei Bento, sr.Veloso, o juiz-de-fora e João Barbosa) iniciam o conto discutindo se a responsabilidade da perda do paraíso foi de Eva ou de Adão e depois descambam para outros questionamentos densos como quem criou o mundo (Deus ou o diabo?).

O conto machadiano Adão e Eva foi publicado pela primeira vez em 1896, no livro Várias histórias.

3. O espelho, 1882

O espelho é dos poucos contos machadianos que possui subtítulo (Esboço de uma nova teoria da alma humana). A história narrada, em poucas páginas, tem como protagonistas cinco homens entre quarenta e cinquenta anos. Reunidos em uma casa em Santa Teresa, os amigos discutem os dramas centrais do universo. Até que um dos homens, o Jacobina, propõe uma teoria peculiar: os seres humanos possuem duas almas. Para provar a sua tese, Jacobina conta uma história pessoal ocorrida aos 25 anos, quando havia se tornado Alferes da Guarda Nacional.

Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para entro... Espantem-se à vontade, podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a alma exterior de uma pessoa; - e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira

O espelho foi publicado pela primeira vez em 1882, no jornal Gazeta de Notícias, tendo sido reunido posteriormente em formato de livro na coletânea Papéis Avulsos.

4. A igreja do diabo, 1884

A premissa do conto é polêmica: cansado da desorganização e do seu reinado casual, o diabo decide fundar uma igreja. O desejo era, através da sua igreja, combater as outras religiões, de modo a destruí-las definitivamente.

A narrativa breve está dividida em quatro capítulos: De uma idéia mirífica, Entre Deus e o Diabo, A boa nova aos homens e Franjas e franjas.

A igreja do diabo foi publicado no livro Histórias Sem Data, em 1884.

5. To be or not to be, 1876

O personagem principal do conto machadiano é André, um homem de 27 anos, estagnado profissionalmente, que planeja tirar a própria vida. No dia 18 de março de 1871, decide se afogar no trajeto da barca Rio-Niterói após ter pedido um aumento que lhe foi negado. Por coincidência, nesse mesmo dia, na barca, conhece uma bela moça que muda os seus planos e faz com que a vida de André sofra uma reviravolta.

Publicado em 1876, o conto To be or not to be está dividido em cinco partes e encontra-se em domínio público.

6. Teoria do medalhão, 1881

O enredo de Teoria do medalhão é bastante simples: no dia do aniversário de vinte e um anos do filho, o pai resolve dar conselhos ao adolescente. Por acabar de entrar na maioridade, o progenitor sente que deve encaminhar o destino do filho.

Vinte e um anos, algumas apólices, um diploma, podes entrar no parlamento, na magistratura, na imprensa, na lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas artes. Há infinitas carreiras diante de ti. Vinte e um anos, meu rapaz, formam apenas a primeira sílaba do nosso destino. Os mesmos Pitt e Napoleão, apesar de precoces, não foram tudo aos vinte e um anos. Mas qualquer que seja a profissão da tua escolha, o meu desejo é que te faças grande e ilustre, ou pelo menos notável, que te levantes acima da obscuridade comum

Teoria do medalhão foi escrito em 1881 e foi publicado originalmente no jornal Gazeta de Notícias. Acabou por ser reunido na edição do livro Papéis avulsos.

7. A carteira, 1884

Honório, um advogado, encontra na rua uma carteira recheada e hesita se deve ou não ficar com o dinheiro que não lhe pertence. A verdade é que o montante fazia falta: o advogado tinha cada vez menos casos e cada vez mais despesas familiares, especialmente com a mulher, a entediada D.Amélia. Por acaso, Honório descobre que a carteira encontrada é do amigo Gustavo. O achado faz com que a história dê uma guinada inimaginável.

O conto A carteira foi publicado pela primeira vez no jornal A Estação, no dia 15 de março de 1884.

8. A cartomante, 1884

A história narrada é composta por um triângulo amoroso: Vilela, Rita e Camilo. Vilela, de vinte e nove anos, era funcionário público, marido de Rita e grande amigo de Camilo. Camilo, mais jovem, apaixona-se por Rita. O afeto é retribuído e eles passam a ter um caso. Finalmente alguém descobre a traição e começa a chantageá-los. Desesperada, Rita apela, numa sexta-feira de novembro de 1869, a uma cartomante. Mais tarde, Camilo também vai em busca dos conselhos da senhora. Machado tece a história de modo a compor um final imprevisível!

O conto ganhou as páginas do jornal Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro no dia 28 de novembro de 1884 e foi reunido posteriormente no livro Várias Histórias (1896).

Conheça melhor Machado de Assis

Pobre, mulato, epilético, órfão, Machado de Assis tinha tudo para não ser bem sucedido profissionalmente. O maior nome da literatura brasileira nasceu no Morro do Livramento no dia 21 de junho de 1839, filho do brasileiro Francisco José de Assis e da açoriana Maria Leopoldina Machado de Assis. A mãe morreu quando Machado ainda era criança.

Em 1855, tornou-se colaborador do jornal Marmota Fluminense e publicou seu primeiro poema, intitulado Ela. No ano seguinte virou aprendiz na Tipografia Nacional. Resolveu aprender latim e francês, virou revisor, passou a colaborar nos jornais O Paraíba e Correio Mercantil. Além de revisor e colaborador, Machado escreveu críticas para o teatro e ocupou funções públicas.

Em 1866, casou-se com Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais. Carolina foi a sua companheira de vida.

machado de assis e carolina
O casal Machado de Assis e Carolina.

Participou da inauguração da Academia Brasileira de Letras e foi eleito o primeiro presidente (seu mandato durou mais de dez anos). Ocupou a cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras e escolheu como patrono o grande amigo José de Alencar. Morreu no Rio de Janeiro, aos 69 anos, em 29 de setembro de 1908.

Conheça também

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).