Mitologia grega: 13 mitos importantes da Grécia Antiga (com comentários)
A mitologia grega é um conjunto de mitos e lendas criadas na Grécia Antiga com caráter simbólico e explicativo sobre acontecimentos terrenos.
São fábulas extraordinárias cheias de personagens de todos os tipos que povoam nossa cultura, contribuindo grandemente para a criação do pensamento ocidental.
1. O Mito de Prometeu
A mitologia grega conta que os seres vivos foram criados por dois titãs, Prometeu e seu irmão Epimeteu. Eles ficaram responsáveis por dar vidas a animais e seres humanos.
Epimeteu faz os animais e lhes concede vários poderes, como força, agilidade, capacidade de voar e etc. Mas quando cria os humanos já não tinha mais nenhum bom atributo para dar a eles.
Assim, conta a situação para Prometeu, que se solidariza com a humanidade e rouba o fogo sagrado dos deuses para entregá-lo às pessoas. Tal atitude enfurece Zeus, o mais poderoso dos deuses, que decide castigá-lo de maneira cruel.
Prometeu é então amarrado no alto do Monte Cáucaso. Todos os dias uma grande águia lhe visitava para devorar seu fígado. A noite o órgão se regenerava para que no dia seguinte a ave novamente pudesse comê-lo.
O titã permaneceu nessa situação por muitas gerações, até ser libertado pelo herói Heráclito.
Comentário sobre o mito: O fogo sagrado aparece aqui como uma representação da consciência humana, da sabedoria e do conhecimento.
Os deuses ficaram furiosos com a possibilidade dos seres humanos se "igualarem" a eles e por isso Prometeu foi castigado. O titã é visto na mitologia como um mártir, um salvador, alguém que se sacrificou pela humanidade.
2. Caixa de Pandora
A caixa de Pandora é uma história que surge como continuação do mito de Prometeu.
Antes de Prometeu ser castigado, ele havia alertado seu irmão, Epimeteu, a nunca aceitar um presente dos deuses, pois sabia que as divindades estariam buscando vingança.
Mas Epimeteu não acatou o conselho do irmão e aceitou a bela e jovem Pandora, uma mulher que havia sido criado pelos deuses com o intuito de castigar a humanidade por receber o fogo sagrado.
Quando foi entregue a Epimeteu, Pandora também levou uma caixa e a instrução de nunca abri-la. Mas os deuses ao criá-la, colocaram nela a curiosidade e desobediência.
Assim, passado um tempo de convívio entre os humanos, Pandora abriu a caixa. De dentro dela saíram todos os males da humanidade como a tristeza, o sofrimento, as doenças, a miséria, a inveja e outros sentimentos maléficos. Por fim, a única coisa que restou na caixa foi a esperança.
Comentário sobre o mito: Pandora é descrita pelos gregos como a primeira mulher a viver entre os homens na Terra, o que faz uma relação com Eva na religião cristã. Esse seria então um mito de criação e que explica também as origens das tragédias humanas.
Ambas foram responsabilizadas por darem origem aos males na humanidade, o que explica também um traço característico da sociedade patriarcal ocidental que costuma culpabilizar as mulheres com frequência.
3. Mito de Sísifo
Os gregos acreditavam que Sísifo tinha sido o rei de um território hoje conhecido como Corinto.
Ele teria testemunhado o momento em que uma águia, a mando de Zeus, teria raptado uma moça chamada Egina, que era filha de Asopo, o deus dos rios.
Pensando em se beneficiar da informação e vendo que Asopo estava desesperado procurando a filha, Sísifo conta o que viu e pede em troca que a divindade lhe conceda uma fonte de água em suas terras.
Assim é feito, mas Zeus descobre que havia sido denunciado e decide punir Sísifo, enviando Tânatos, o deus da morte, para buscá-lo.
Sísifo era um sujeito muito inteligente e presenteia Tânatos com um colar. O deus aceita o presente, mas, na verdade, fica preso pelo pescoço, afinal o colar era uma corrente.
O tempo passa e mais nenhum mortal é levado ao submundo, pois Tânatos estava preso. Assim, não há mortes na Terra e o deus Ares (deus da guerra) se enfurece. Ele então liberta Tânatos para finalmente mate Sísifo.
Mais uma vez Sísifo consegue enganar os deuses e escapa da morte, conseguindo viver até a velhice. Mas, como era mortal, um dia não consegue mais fugir do destino. Morre e acaba se encontrando novamente com os deuses.
Ele por fim recebe o pior castigo que alguém poderia receber. É condenado a carregar por toda a eternidade uma enorme pedra ladeira acima. Quando alcançava o topo, a pedra rolava e, mais uma vez, Sísifo deveria levá-la ao topo, em um trabalho cansativo e inútil.
Comentário sobre o mito: Sísifo foi um mortal que desafiou os deuses e, por isso, condenado a realizar um trabalho repetitivo, extremamente cansativo e sem sentido algum.
O mito foi usado pelo filósofo francês Albert Camus para ilustrar uma realidade contemporânea que trata das relações de trabalho, das guerras e da inadequação do ser humano.
4. Rapto de Perséfone
Perséfone é filha de Zeus e de Deméter, a deusa da fertilidade e da colheita. A princípio se chamava Cora e vivia sempre ao lado da mãe.
Uma tarde, ao sair para colher flores, Cora é raptada por Hades, o deus do submundo. Ela então desce ao inferno e chegando lá come uma romã, o que significa que não poderia mais voltar para a Terra.
Deméter sai pelo mundo a procura da filha e nesse tempo a humanidade viveu uma grande estiagem, sem conseguir realizar boas colheitas.
Hélio, o deus sol, ao perceber a angústia de Deméter, lhe conta que ela fora levada por Hades. Deméter então pede que o Hades a devolva, mas a garota já havia selado o casamento através da ingestão da romã.
Entretanto, a terra não podia continuar infértil, então Zeus ordena que a moça passe metade do tempo no submundo com o marido e a outra metade do tempo com a mãe.
Comentário sobre o mito: O rapto de Perséfone é uma lenda que serve para explicar a origem das estações.
Na época em que Perséfone permanecia na companhia da mãe, as duas estavam satisfeitas e por serem divindades relacionadas à colheita, era nesse momento que a terra se tornava fértil e abundante, fazendo referência à primareva e ao verão. No restante do tempo, quando a jovem estava no submundo, a terra secava e nada brotava, como no outono e inverno.
5. Origem da Medusa
No começo, Medusa era uma das mais belas sacerdotisas de Atena, a deusa da guerra justa. A moça tinha os cabelos sedosos e brilhantes e era muito vaidosa.
Atena e Poseidon tinham uma rivalidade histórica, o que faz com o deus do mares decida importunar Atena se aproximando de Medusa. Ele sabia que Atena era uma deusa virgem e que impunha às suas seguidoras que também fossem.
Então Podeidon assedia Medusa e os dois têm relações no templo da deusa Atena. Ao saber que haviam profanado seu templo sagrado, Atena se enfurece e lança um feitiço na sacerdotisa, transformando-a em uma criatura horripilante com cabelos de serpentes. Além disso, Medusa é condenada ao isolamento e não pode trocar olhares com ninguém, pois se assim for as pessoas seriam transformadas em estátuas.
Comentário sobre o mito: Existem várias maneiras de interpretar os mitos, assim como existem várias versões dos mesmos. Atualmente a história da Medusa tem sido analisada por algumas mulheres de maneira crítica.
Isso porque expõe uma narrativa em que a moça assediada recebe uma punição, como se fosse sua culpa a violência que sofreu. O mito também naturaliza o fato do deus tomar para si o corpo de uma mulher, o que, na verdade, é um crime.
6. Doze trabalhos de Hércules
Os doze trabalhos de Hércules são um conjunto de tarefas que exigiam força e destreza extraordinárias para serem feitos.
Hércules era um dos vários filhos de Zeus com uma mortal. Hera, a esposa do deus, não tolerava as traições do marido e enviou serpentes para matar a criança. Ma o garoto ainda bebê demonstrou sua força ao estrangular os animais e sair ileso.
Assim, Hera ficou ainda mais furiosa e passou a perseguir o rapaz por toda a vida. Um dia, Hércules teve uma crise de loucura provocada pela deusa e assassinou sua esposa e seus filhos.
Arrependido, ele procura o oráculo de Delfos para saber o que fazer para se redimir. O oráculo então lhe ordena que ele se entregue às ordens de Euristeu, rei de Micenas. O soberano lhe ordena que cumpra doze tarefas dificílimas, enfrentando terríveis criaturas São elas:
- O Leão da Nemeia
- A Hidra de Lerna
- A Corça de Cerineia
- O Javali de Erimanto
- Os Pássaros do Lago Estínfalo
- As cavalariças do Rei Aúgias
- O Touro de Creta
- As Éguas de Diomedes
- O Cinto da Rainha Hipólita
- Os Bois de Gérion
- As Maçãs de Ouro das Hespérides
- O Cão Cérbero
Comentário sobre o mito: O herói grego Hércules é conhecido na mitologia romana como Héracles. Os doze trabalhos foram narrados em um poema épico escrito em 600 a.C por Peisândro de Rodes.
O herói se tornou um símbolo de força, tanto que existem a expressão "trabalho hercúleo", para designar uma tarefa quase impossível de ser realizada.
7. Eros e Psiquê
Eros, também conhecido como cupido, era o filho de Afrodite, a deusa do amor. Um dia a deusa soube que existia uma mortal, Psiquê, tão bela quanto ela e que os humanos estavam prestando homenagens à moça.
Essa jovem, apesar de bela, não conseguia se casar, pois os homens tinham medo de sua beleza. Assim, a família da moça decide consultar o Oráculo de Delfos, que ordena que ela seja colocada no alto de uma montanha e abandonada lá para que uma criatura horrível a despose.
O triste destino da jovem havia sido tramado por Afrodite. Mas seu filho Eros, ao ver Psiquê, imediatamente se apaixona por ela e a salva.
Psiquê passa então a viver na companhia de Eros com a condição de que nunca veja seu rosto. Mas a curiosidade toma a jovem e um dia ela quebra a promessa, olhando o rosto do amado. Eros fica furioso e a abandona.
Psiquê, em depressão, vai até a própria deusa Afrodite pedir para reaver o amor de seus filho. A deusa do amor ordena que a moça vá até o inferno pedir um pouco da beleza de Perséfone. Ao retornar do submundo com a encomenda, Psiquê pode finalmente reencontrar seu amado.
Comentário sobre o mito: Esse é um mito que aborda os aspectos de uma relação amorosa e todos os desafios que surgem nessa jornada. Eros é um símbolo do amor e Psiquê representa a alma.
8. O nascimento de Vênus
Vênus é o nome romano de Afrodite, a deusa do amor para os gregos. A mitologia conta que a deusa nasceu no interior de uma concha.
Cronos, o tempo, era filho de Urano (o céu) e Gaia (a terra). Ele castrou Urano e o membro amputado do pai caiu nas profundezas do oceano. Do contato das espumas do mar com o órgão reprodutivo de Urano, foi gerada Afrodite.
Assim, a deusa emergiu das águas no corpo de uma mulher adulta de beleza estonteante.
Comentário sobre o mito: Essa é uma das histórias mais conhecidas da mitologia greco-romana e também é uma lenda de origem, criada para explicar o surgimento do amor.
Segundo os gregos, o amor e o erotismo foi uma das primeiras coisas que surgiram no mundo, antes mesmo da existência de Zeus e outras divindades.
9. A Guerra de Troia
A mitologia conta que a Guerra de Troia foi um grande conflito que envolveu diversos deuses, heróis e mortais. Segundo a lenda, a origem da guerra se deu após o sequestro de Helena, esposa do rei de Esparta, Menelau.
Páris, príncipe de Troia, raptou a rainha e a levou para seu reino. Assim, Agamenon, irmão de Menelau, reuniu esforços para resgatá-la. Entre os heróis que partiram nessa missão estavam Aquiles, Ulisses, Nestor e Ajax.
A guerra durou dez anos e foi vencida pelos gregos após a entrada de um enorme cavalo de madeira em território inimigo que carregava em seu interior inúmeros soldados.
Comentário sobre o mito: Esse é um dos episódios mais famosos da mitologia grega. A expressão "presente de grego" é uma referência à história. Pois o cavalo de madeira foi oferecido pelos gregos aos troianos como um "presente". Após aceitarem a oferta, o presente se revelou, na verdade, uma armadilha.
10. O mito de Narciso
Quando Narciso nasceu, seus pais logo viram que se tratava de uma criança de inigualável beleza. Percebendo que essa característica poderia causar problemas para o garoto, eles decidem consultar um vidente, o profeta Tirésias.
O homem diz que Narciso viveria muitos anos, contanto que não visse sua própria imagem.
O menino cresce e desperta muitos amores, inclusive o de Eco.
Um dia, curioso por ver seu rosto, Narciso se inclinou em um lago e olhou para o reflexo de seu rosto. Apaixonado por si mesmo, o jovem ficou fissurado por sua imagem e morreu de inanição.
Comentário sobre o mito: O mito de Narciso nos diz sobre a individualidade e a consciência de si mesmo.
O termo "narcisimo" foi incorporado pela psicanálise em referência ao mito, para referir a uma pessoa que é tão autocentrada que esquece de se relacionar com o os outros a sua volta.
11. O mito de Aracne
Aracne era uma jovem tecelã muito talentosa e se vangloriava disso. A deusa Atena também era uma exímia tecelã e bordadeira e ficou com ciúmes da habilidade da mortal.
A divindade então foi até a moça e a desafiou para uma competição de bordado. Aracne aceitou o desafio. Enquanto Atena retratava as lutas e conquistas dos deuses em seu bordado, Aracne desenhava com coloridos fios as cruéis punições e crimes dos deuses contra as mulheres.
Com os trabalhos finalizados, era evidente a superioridade de Aracne. Atena, furiosa, destruiu o trabalho da rival e a transformou em uma aranha, condenada a passar o resto dos dias pendurada fiando.
Comentário sobre o mito: É interessante observar nesse mito como as forças entre o divino e o terreno estão em embate. Aracne é descrita como uma mortal "vaidosa" e atrevida, pois se comparou a uma deusa.
Além disso, a tecelã ousou denunciar as injustiças dos deuses e por isso foi castigada. O mito parece ser uma advertência e afirmação sobre a importância e superioridade da religião para o povo grego.
12. A queda de Ícaro
Ícaro era filho de Dédalo, habilidoso artesão. Os dois viviam na ilha de Creta e serviam ao rei Minos. Um dia o rei se aborreceu com Dédalo após um projeto frustrado e encarcerou ele e seu filho.
Assim, Dédalo elabora um projeto de asas para eles com o objetivo de fugir da prisão. As asas eram feitas com penas e cera e por isso não poderiam chegar muito perto do sol, pois derreteriam. Então o pai alertou Ícaro para que não voasse nem muito baixo, próximo ao mar, nem muito alto, próximo ao sol.
Mas o garoto se empolgou com o par de asas e alcançou grande altitude. Sua asas se derreteram e ele caiu ao mar.
Comentário sobre o mito: A história surge na mitologia como uma alegoria e uma advertência sobre a importância da ponderação e bom senso. O garoto foi ambicioso e não escutou os conselhos do pai, querendo subir mais alto do que o permitido. Assim, falhou e acabou precisando arcar com as consequências de seu ato desmedido.
13. O fio de Ariadne (Teseu e Minotauro)
Ariadne era a bela filha do rei Minos, soberano de Creta. Na ilha havia sido construído por Dédalo um grande labirinto para abrigar uma criatura terrível, o Minotauro, mistura de touro e monstro.
Muitos homens foram convocados para combater o Minotauro, mas morreram na empreitada. Um dia chegou na ilha o herói Teseu para também buscar a façanha.
Ao ver o jovem, Ariadne se apaixona por ele e teme por sua vida. Ela então lhe oferece um novelo de lã vermelha e recomenda que ele o desenrole ao longo do caminho, assim poderia saber o caminho de volta após enfrentar a criatura.
Em troca, pede que o herói se case com ela. Assim é feito e Teseu consegue sair vitorioso do embate. Entretanto, abandona a jovem, não se unindo à ela.
Comentário sobre o mito: O fio de Ariadne é frequentemente usado na filosofia e psicologia como uma metáfora para abordar a importância do autoconhecimento. O fio pode simbolizar um guia que nos ajuda a voltar de grandes jornadas e desafios psíquicos.Você também pode ter interesse:
- Mito de Narciso explicado (Mitologia Grega)
- História da Medusa explicada (Mitologia Grega)
- Deusa Perséfone: mito e simbologia (Mitologia Grega)
- O mito de Sísifo com resumo e significado
- Mito de Prometeu: história e significados
- Ilíada de Homero (resumo e análise)
Referência bibliográfica: SOLNIK Alexandre, Mitologia - Vol. 1. Editora: Abril. Ano 1973