O que foi o Modernismo?
O Modernismo foi, sem dúvida, um dos movimentos que mais impactaram as formas como pensamos e criamos. Podemos definir "Modernismo" como um conjunto de correntes culturais e escolas artísticas que surgiram na primeira metade do século XX.
É importante sublinhar que dentro deste rótulo cabiam várias formas de pensamento e nem todas concordavam entre si; na verdade, algumas eram antagônicas.
Aquilo que elas tinham em comum era a noção de que a cultura tradicional estava ultrapassada e que, por isso, era necessário encontrar novas ideias e conceitos. Estas vanguardas partiram, então, em busca do novo, do "moderno".
Fortemente marcadas por valores de experimentalismo e transgressão, estas correntes procuravam a ruptura com os padrões, as normas, não só nos modos de criar, mas também de viver e agir em sociedade.
No Brasil, assim como em outros pontos do mundo, o movimento trouxe várias transformações na cultura e na arte, sobretudo no campo da literatura.
O seu valor e legado é incalculável, uma vez que os artistas modernistas se tornaram referência para várias gerações de criadores futuros.
Características do Modernismo
Embora o modernismo tenha se configurado de várias maneiras, através de diversas formas de expressão artística e em diferentes pontos do mundo, podemos identificar algumas características transversais:
- A ruptura com a tradição;
- A postura experimentalista;
- A valorização do cotidiano;
- A busca / reconstrução da identidade.
Com espíritos repletos de desejo pela novidade, os artistas e escritores modernistas não hesitavam em descartar os modelos e as regras tradicionais.
Em vez de seguir ou copiar, procuravam a inovação, a criatividade, explorando, experimentando e tentando acessar novos conhecimentos e técnicas.
Confira também uma explicação detalhada das características do modernismo.
Contexto histórico do Modernismo
O Modernismo surgiu no período temporal que separou a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918) e a Segunda (1939 - 1945). A sua origem se situa, portanto, numa época atravessada por conflitos, revoluções e transformações sociais profundas.
Importa também lembrar que o contexto histórico do movimento modernista foi largamente influenciado pelo processo de industrialização em curso e os vários avanços tecnológicos que estavam surgindo.
Fruto de um tempo que se caracterizava pela busca do progresso, estes artistas procuravam outras formas e técnicas para criar. Por isso, se inspiravam em correntes artísticas dissidentes, como o Impressionismo e o Simbolismo.
A partir de 1890, o Modernismo começou a tomar forma enquanto movimento cultural. Um dos marcos fundadores foi a abertura da loja Art Nouveau, de Siegfried Bing, em Paris. A partir do nome do local, foram aparecendo algumas traduções e "modernismo" se estabeleceu como rótulo mais usado.
Modernismo literário
Na literatura, o legado dos modernistas foi valioso. Cansados de ver sempre os mesmos temas e as mesmas formas no fazer literário, eles queriam quebrar com as tradições, promovendo uma liberdade formal e estética.
Esses valores se manifestavam, por exemplo, através do verso livre e no uso da pontuação. Outro traço marcante do movimento é o modo como valorizava os temas do cotidiano, os trazendo para a prosa e a poesia.
Muitas vezes, essas temáticas eram acompanhadas por um tom humorístico e / ou um registro de linguagem próximo da oralidade.
O modernismo literário ganhou muita força principalmente na Europa e nos Estados Unidos da América. Depois da I Guerra Mundial, estes autores já não estavam preocupados em servir os interesses da burguesia mas sim em expor as incoerências da realidade em que viviam.
O movimento também trouxe várias técnicas literárias como o fluxo de consciência, os monólogos interiores e ainda a possibilidade de mostrar vários pontos de vista diferentes dentro de uma mesma obra.
Uma das figuras de destaque no começo do movimento foi o poeta e crítico norte-americano Ezra Pound. Em 1912, ele criou o Imaginismo, uma corrente da poesia anglo-americana que apostava no uso de imagens precisas e de uma linguagem clara.
Já em Portugal, a literatura modernista arrancou a todo o vapor em 1915, com a criação da Revista Orpheu. Entre os colaboradores da publicação estavam grandes nomes da literatura lusitana, como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro.
No Brasil, o grande fôlego modernista chegou alguns anos mais tarde, em 1922. Entre os vários nomes que integraram a primeira geração do modernismo brasileiro, três ficaram conhecidos como a “tríade modernista”: Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira.
Modernismo no Brasil
No Brasil, o Modernismo foi um movimento de enorme impacto, que veio abalar as estruturas tradicionais e transformar a arte e a cultura nacionais.
Embora já existissem agitações anteriores, o marco inicial do movimento foi a Semana de Arte Moderna, que aconteceu nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal, em São Paulo.
O evento englobou uma série de palestras, leituras, exposições e recitais de música, combinando várias modalidades artísticas.
Entre alguns dos nomes presentes neste "ponto de partida" do modernismo brasileiro, se destacam Oswald de Andrade, Graça Aranha, Anita Malfatti, Mário de Andrade, Di Cavalcanti e Villa-Lobos.
Na data que celebrava o centenário da Independência Brasileira, artistas e intelectuais de diversas áreas se reuniram para refletir acerca do novo rumo que queriam seguir para reconstruir o país.
Verificando que as produções artísticas nacionais ainda refletiam a herança colonial e os modelos europeus, os modernistas desejavam romper com as tradições. O seu objetivo último era valorizar, celebrar e promover a cultura e a realidade brasileira.
Fases do modernismo brasileiro
Na literatura brasileira, o Modernismo assumiu três fases, com características e princípios bastante distintos.
1ª Fase: Fase Heroica (1922 — 1930)
A primeira fase do Modernismo no Brasil foi também a mais incendiária e disposta a romper com os padrões, as formas e as temáticas tradicionais. Esta geração ficou conhecida pela revalorização da cultura indígena e a busca de uma identidade nacional.
O nome de Oswald de Andrade é incontornável neste período. Além de fazer parte da comissão organizadora da Semana de Arte Moderna, foi também o autor de duas publicações essenciais: Manifesto da Poesia Pau-Brasil e Manifesto Antropófago.
2ª Fase: Fase da Consolidação ou Geração de 30 (1930 —1945)
Conhecida por ter sido uma geração de continuidade, esta fase manteve alguns princípios dos primeiros modernistas, como a liberdade formal e a experimentação. Debruçados sobre questões sociopolíticas e filosóficas, estes escritores começaram a perceber e a registrar as desigualdades do Brasil.
Ganha força, assim, o regionalismo, com obras como A Bagaceira, de José Américo de Almeida, e Macunaíma, de Mário de Andrade.
3ª Fase: Fase Pós-Modernista ou Geração de 45 (1945 — 1960)
A última geração, também conhecida como Pós-Modernista, rejeita os parâmetros das gerações anteriores. Influenciada por acontecimentos políticos como a Guerra Fria e a instauração da ditadura brasileira, esta fase é mais introspectiva, séria, individualista.
Na prosa, o regionalismo continua proliferando, desta vez focado na realidade sertaneja; Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, é apontado como um dos maiores clássicos desse período.
Conheça mais sobre o Modernismo no Brasil, suas fases e características.
Obras do Modernismo
São incontáveis as obras de literatura modernista que foram produzidas pelo mundo inteiro. No entanto, algumas se destacaram e se tornaram verdadeiros clássicos do movimento.
Ulisses (1922), livro no qual o autor irlandês James Joyce reinventou a Odisseia de Homero, é apontado como uma das obras-primas modernistas.
Bastante complexo e cheio de referências a temas que eram considerados impróprios, Ulisses foi censurado mas se tornou um dos romances mais influentes de todos os tempos.
Na poesia, o autor e crítico T. S. Eliot, que nasceu nos Estados Unidos e se mudou para Inglaterra, foi um nome bastante marcante. Ele chegou mesmo a vencer o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1948.A Terra Inútil (1922) é um dos seus poemas mais populares, encarado como o desabafo da sua geração no período pós-guerra.
No nosso país, Mário de Andrade foi um dos autores que encabeçaram a primeira geração modernista, com obras verdadeiramente inovadoras como a antologia de contos Paulicéia Desvairada (1922). O seu livro mais famoso, Macunaíma, foi lançado em 1928 e se tornou um importante marco no cânone literário brasileiro.
Mais tarde, já integrando a terceira geração do movimento, João Guimarães Rosa escreveu Grande Sertão: Veredas (1956), um romance experimental focado no regionalismo sertanejo.
Autores do Modernismo
No cenário brasileiro, existem alguns autores modernistas que é impossível não mencionarmos. Um exemplo incontornável é Oswald de Andrade, o escritor e ensaísta que foi o grande impulsionador da Semana de Arte Moderna de 22.
Além de ter sido autor dos manifestos modernistas que definiram o período no país, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924) e o Manifesto Antropófago (1928), o escritor também publicou várias obras de poesia, teatro e romance.
Quem estava do seu lado na empreitada era Mário de Andrade, poeta, crítico e musicólogo que era encarado como uma figura de vanguarda na vida intelectual brasileira. Autor de obras emblemáticas da literatura nacional, ele também era considerado um polímata, ou seja, alguém que possui conhecimento em várias matérias.
Já na segunda geração modernista, Carlos Drummond de Andrade conquistou o público e crítica com a sua poesia, sendo apontado como um dos poetas mais influentes do século XX.
Algumas das suas composições, como No meio do caminho e José continuam sendo extremamente populares entre as novas gerações de leitores.
Nem só de homens se fez o Modernismo e Virginia Woolf foi uma das evidências disso mesmo. A escritora e editora inglesa foi uma das principais figuras da literatura modernista do seu país, com obras inesquecíveis como Mrs Dalloway (1925) e Orlando (1928).
No Brasil, algumas autoras também se destacaram no panorama literário. Foi o caso de Cecília Meireles, a poeta autora de Romanceiro da Inconfidência (1953), e Clarice Lispector, romancista e contista que escreveu clássicos como A Hora da Estrela (1977).
Finalmente, é impossível falar de autores modernistas sem mencionar James Joyce, o romancista e poeta irlandês que escreveu Ulisses, livro considerado uma das obras-primas do Modernismo na língua inglesa.
Principais autores modernistas
No Brasil
- Oswald de Andrade (1890 — 1954)
- Mário de Andrade (1893 — 1945)
- Manuel Bandeira (1886 — 1968)
- Cassiano Ricardo (1894 — 1974)
- Carlos Drummond de Andrade (1902 — 1987)
- Murilo Mendes (1901 — 1975)
- Cecília Meireles (1901 — 1964)
- João Guimarães Rosa (1908 — 1967)
Na Europa
- Virginia Woolf (1882 — 1941)
- James Joyce (1882 — 1941)
- Luigi Pirandello (1867 — 1936)
- Rainer Maria Rilke (1875 — 1926)
- Guillaume Apollinaire (1880 — 1918)
- Franz Kafka (1883 — 1924)
- Fernando Pessoa (1888 — 1935)
- Mário de Sá Carneiro (1890 — 1915)
- Almada Negreiros (1893 — 1970)
- José Régio (1901 — 1969)
- Alves Redol (1911 — 1969)
Modernismo no cinema
Podemos afirmar que o cinema, enquanto “imagem-movimento” surgiu no final do século XIX, com a criação do cinetoscópio (1889) e do cinematógrafo (1892). A arte cinematográfica, no entanto, só começou a ganhar formar nas primeiras décadas do século XIX.
Assim, é fácil compreender que o cinema influenciou o movimento modernista e também foi influenciado por ele. Entre as principais referências, se destaca o expressionismo alemão, representado, por exemplo, pelo filme Metrópolis (1927) de Fritz Lang.
Outro marco do modernismo no cinema foi o surrealismo espanhol, conhecido sobretudo através de Un chien andalou (1928), filme dirigido por Luis Buñuel e Salvador Dalí que pode ser assistido na íntegra abaixo:
O cinema soviético também foi extremamente importante, com obras que entraram para a história da sétima arte, como O Encouraçado Potemkin (1925) de Serguei Eisenstein e Um Homem com uma Câmera (1929) de Dziga Vertov.
No panorama brasileiro, o Cinema Novo foi um movimento que repercutiu internacionalmente, promovendo a transformação do país.
Alguns dos filmes mais famosos dessa época ecoavam também influências modernistas. É o caso de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e Terra em Transe (1967) de Glauber Rocha ou Macunaíma (1969) de Joaquim Pedro de Andrade.
Modernismo na pintura e escolas vanguardistas
Depois do seu fôlego inicial, o Modernismo começou a se espalhar por diversos pontos do mundo, apresentando distinções e singularidades provenientes do contexto.
Com o tempo, o movimento conseguiu tomar conta das várias formas de expressão cultural e artística: a pintura, a arquitetura, a literatura, a música, etc.
Influenciados também pelo aparecimento do cinema, a imagem em movimento, os pintores deste período começaram a inventar as suas próprias formas de criar e fugir do realismo tradicional.
Nasceram, assim, os vários "ismos" que marcaram profundamente o nosso panorama artístico: o Expressionismo, o Cubismo, o Dadaísmo, o Surrealismo, o Futurismo, etc.
As vanguardas artísticas se caracterizaram pelo radicalismo e também pela exploração da mente, com o objetivo de expressar sentimentos e emoções.
O Expressionismo surgiu na Alemanha e teve em Wassily Kandinsky um dos seus principais representantes. O Cubismo teve como seu co-fundador e representante máximo o pintor espanhol Pablo Picasso.
Na Itália, o Futurismo ganhou força na literatura, devido ao Manifesto Futurista, do poeta Filippo Marinetti. Seus preceitos ecoavam na pintura de artistas como Umberto Boccioni, Carlo Carrá e do português Almada Negreiros.
Liderado pelo poeta Tristan Tzara, o movimento dadaísta surgiu na Suíça, na cidade de Zurique. Já em Paris, estava nascendo uma das mais notáveis vanguardas modernistas: o Surrealismo.
Com o escritor André Breton como mentor e o poeta Guillaume Apollinaire como criador do termo, o Surrealismo foi uma corrente estética altamente prolífica. Entre os grandes nomes da época, se destaca o de Salvador Dalí, que se mantém como um ícone até aos dias de hoje.
Todas estas escolas vanguardistas procuravam não só a inovação, mas também a experiência. Dispostos a explorar tudo o que havia por descobrir, se preocupavam em conhecer a mente humana e alterar os modos de pensar e de viver. A sua influência foi, por isso, determinante no panorama literário.
No Brasil, os pintores foram influenciados por essas vanguardas europeias, marcando presença no movimento brasileiro desde o começo, na Semana de Arte Moderna.
Buscando uma renovação estética, estes artistas prestaram atenção à cultura nacional, aos cenários urbanos, à industrialização, entre outros temas marcantes na época.
Tarsila do Amaral é apontada como expoente máximo da pintura modernista brasileira. A obra Abaporu (1928), da artista, inspirou a criação do Movimento Antropofágico.
Grandes pintores modernistas
No Brasil
- Anita Malfatti (1889 — 1964)
- Di Cavalcanti (1897— 1976),
- Tarsila do Amaral (1886 — 1973)
- Candido Portinari (1903 — 1962)
- Vicente do Rego Monteiro (1899 — 1970)
- Inácio da Costa Ferreira (1892 —1958)
Na Europa
- Wassily Kandinsky (1866 — 1944)
- Henri Matisse (1869 — 1954)
- Pablo Picasso (1881 — 1973)
- Salvador Dalí (1904 — 1989)
- Piet Mondrian (1872 — 1944)
- Georges Braque (1882 — 1963)
- Umberto Boccioni (1882 — 1916)
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