Música Back to Black de Amy Winehouse
Escrita por Amy Winehouse e produzida por Mark Ronson, Back to Black é uma das músicas mais célebres da cantora, incluída no disco homônimo de 2006. O disco foi um sucesso de vendas e projetou o seu trabalho para o público internacional, divulgando seu talento e gerando controvérsias em torno da sua vida pessoal.
Conhecida por escrever letras autoficcionais, Amy compunha versos crus inspirados nas suas próprias vivências, que descreviam seus estados de espírito e os problemas pelos quais estava passando.
Cantando magistralmente sobre depressão, dependência química e relacionamentos amorosos destrutivos, se tornou um ícone da cultura pop, bateu recordes de vendas e venceu vários prêmios.
Mark Ronson, o produtor do disco, afirma que a cantora demorou apenas duas ou três horas para escrever a letra e compor a melodia. Podemos concluir que se trata de um desabafo, de uma espécie de catarse da artista, que tinha na música uma forma de se expressar e criar beleza a partir do sofrimento.
Letra original
Back to Black
He left no time to regret
Kept his dick wet
With his same old safe bet
Me and my head high
And my tears dry
Get on without my guy
You went back to what you knew
So far removed from all that we went through
And I tread a troubled track
My odds are stacked
I'll go back to blackWe only said goodbye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to
I go back to usI love you much
It's not enough
You love blow and I love puff
And life is like a pipe
And I'm a tiny penny rolling up the walls insideWe only said goodbye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to
We only said goodbye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back toBlack
Black
Black
Black
Black
Black
Black
I go back to
I go back toWe only said goodbye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to
We only said goodbye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to black
Análise da letra
Estrofe 1
Ele não deixou tempo de se arrepender
Não segurou o órgão na calça
Com a mesma velha aposta de sempre
Eu com minha cabeça erguida
E com minhas lágrimas que já secaram
Temos que seguir em frente sem meu cara
Você voltou para aquilo que já conhecia
E já se esqueceu de tudo que vivemos juntos
Eu sigo um caminho perigoso
Tudo vai contra mim
Eu vou voltar para a escuridão
Back to Black é um hino para corações partidos, falando sobre uma separação difícil e dolorosa, o que fica notório desde o verso inicial. A primeira palavra da música é "ele", o amante que foi embora e "não deixou tempo de se arrepender". Os dados biográficos indicam que Amy estaria escrevendo sobre Blake Fielder-Civil, o assistente de vídeo com quem viveu uma paixão avassaladora.
O rompimento aconteceu subitamente, quando Blake voltou com a antiga namorada, e serviu de inspiração para o segundo disco da cantora. O segundo verso da música demonstra a sua revolta e a sensação de ter sido traída, afirmando que ele não se controlou e apenas pensou no sexo. Do nada, voltou para a "mesma velha aposta de sempre", uma mulher com quem já tinha se envolvido no passado.
Mesmo ferida, procura se controlar, manter "a cabeça erguida", parar de chorar e se conformar. Sabe que precisa seguir em frente embora ainda se refira ao antigo amante como "meu cara", o que revela o seu apego e a crença de que pertencem um ao outro.
No meio da estrofe, começa a falar diretamente com ele ("você"), comparando o estado de espírito dos dois depois do rompimento. Enquanto ele parece ter voltado "para aquilo que já conhecia" e esquecido o que viveram juntos, ela sofre porque não consegue fazer o mesmo.
Pelo contrário, fala de seus próprios sentimentos, revelando que percorre um "caminho perigoso", onde se sente frágil, vulnerável às agressões do mundo ("tudo vai contra mim").
Instável, entregue à depressão e ao desespero, declara que seu destino é "voltar para a escuridão", um comportamento cíclico, que já aconteceu outras vezes.
Refrão
Nós apenas dissemos adeus com palavras
Eu morri umas cem vezes
Você volta para ela
E eu volto para nós
A despedida entre os dois foi feita apenas através de palavras, sem nenhuma mudança nos sentimentos dela, que continua apaixonada. Segundo o Amy, o documentário biográfico de 2015, Blake terminou sua relação amorosa com a artista através de uma mensagem no celular enquanto estava de férias.
Podemos interpretar o refrão como uma referência a esse término repentino e cheio de frieza, sem despedidas ou sequer um último abraço. O seu sofrimento é devastador e parece não terminar nunca, como se morresse "umas cem vezes".
Os últimos versos da estrofe deixam claro que nenhum dos dois está avançando com a vida. Ele anda para trás, voltando para uma mulher que abandonou no passado; ela está estagnada, presa ao relacionamento que já terminou.
Estrofe 2
Te amo tanto
Mas isso não é suficiente
Você gosta de drogas pesadas, eu gosto das mais leves
E a vida é como um cano
Eu sou uma moeda insignificante rolando sem rumo lá dentro
Apesar de tudo, continua declarando o seu amor mas tem consciência de que isso não basta para serem felizes. Os problemas que os separam são vários e passam também pelo consumo de drogas. Enquanto ela prefere as substâncias leves, ele usa drogas pesadas, o que resulta em comportamentos contrastantes, ritmos de vida diferentes e desarmonia.
Longe do homem que ama, desabafa sobre o seu estado de espírito atual, sua falta de controle e de direção perante a realidade. Para explicar aquilo que sente, utiliza a metáfora de uma moeda caindo por um cano, escorregando "sem rumo" ou esperança alguma.
A passagem sublinha também a sua solidão e sensação de abandono, a ideia de ser esquecida, descartada, como se antigo amante a "jogasse fora" pelo ralo.
Fica evidente a impressão de estar em plena queda, como se estivesse presa num túnel sem conseguir ver a luz. Com esta imagem, é possível sentir a angústia da artista que estava começando a cair numa espiral descendente que provocou a sua morte.
Refrão
Nós apenas dissemos adeus com palavras
Eu morri umas cem vezes
Você volta para ela
E eu volto para a escuridão
Quando surge no final da música, o refrão é ligeiramente alterado: em vez de "eu volto para nós", repete "eu volto para a escuridão". Deste modo, ela parece conhecer o seu destino e não ter forças para lutar contra ele, estando conformada ou pelo menos consciente de seus comportamentos autodestrutivos.
Assim, a "escuridão" representa toda a negatividade que estava consumindo Amy, a sua depressão perante o final de um relacionamento, simbolizada no videoclipe como um velório. De luto, não consegue ver nenhuma saída para a sua tristeza, não enxerga a luz no fim do túnel.
Algumas interpretações apontam que "voltar para a escuridão" possa ser um sinônimo de desmaiar, "apagar" de tanto beber, algo que a cantora fazia cada vez com mais frequência.
Outras vão mais longe e apontam que "black" pode ser uma referência a Black Tar Heroin, um tipo de heroína, substância altamente aditiva e destrutiva.
Significado da música
Black to Black exprime a dor de alguém que está passando por uma separação difícil, seus sentimentos de abandono, fragilidade e mágoa. Mesmo sabendo que precisa seguir em frente, continua aprisionada às memórias de um relacionamento tóxico que a puxam para baixo, conduzindo a momentos de depressão, vazio e solidão.
O tema ilustra o modo como um rompimento súbito pode alterar o rumo de nossas vidas, mexendo com a nossa autoestima e mudando até as nossas perspetivas para o futuro. Aqui, o trauma da separação é a gota d'água que conduz a um mergulho na escuridão que não tem mais volta.
Sobre Amy Winehouse
Amy Jade Winehouse (14 de setembro de 1983 - 23 de julho de 2011) foi uma célebre cantora, compositora e instrumentista inglesa que morreu no auge da sua carreira, aos 27 anos.
Se dedicando aos estilos jazz, soul e R&B, Winehouse acabou se tornando um ícone da cultura popular, graças ao seu talento, carisma e estilo inconfundível. Seu primeiro disco, Frank (2003), conquistou boas críticas junto dos especialistas mas não chamou muita atenção do público.
Com letras mais íntimas e diretamente relacionadas com a vida da artista, Back to Black (2006) projetou Amy para o sucesso internacional. A ascensão meteórica para a fama chegou no mesmo momento em que a sua vida pessoal estava desmoronando: distúrbios alimentares, consumo excessivo de álcool e drogas, final do relacionamento.
No ano seguinte, o disco foi o mais vendido do mundo e a cantora recebeu diversos prêmios de renome. A sua carreira, no entanto, continuava marcada pelo escândalo. Estava em guerra com os repórteres que a perseguiam, fazia aparições públicas onde surgia notoriamente alcoolizada ou sob o efeito de substâncias.
A música, encarada como uma forma de sobreviver, de criar e se expressar apesar de todo o sofrimento, acabou se tornando uma fonte de preocupações para Amy.
Com sua saúde física e mental cada vez mais debilitada, apesar do apoio dos músicos que a acompanhavam, acabou abandonando a indústria fonográfica em 2008.
Três anos depois, uma das artistas mais emblemáticas da nossa geração morreu prematuramente de overdose depois de uma recaída. Seu legado musical permanece com a passagem do tempo e Amy Winehouse continua sendo lembrada com carinho e saudade por fãs de todo o mundo.
Em 2015, Asif Kapadia dirigiu o documentário Amy, focado na vida da cantora e na sua paixão pela música, mostrando também o seu percurso atribulado pela fama e os problemas que provocaram a sua morte. O filme foi lançado em julho de 2015, chegando ao Brasil em setembro do mesmo ano.
Em setembro de 2018, foi anunciado o lançamento de um novo documentário biográfico sobre Winehouse, intitulado Back to Black. O filme, que será lançado em 2019, promete filmagens exclusivas da cantora, entrevistas aos produtores do disco e até um show privado, filmado em 2008.
Em outubro de 2018, Mitch Winehouse, pai da artista anunciou uma tour em 2019, com shows onde Amy aparecerá sob a forma de um holograma.