Musical O Fantasma da Ópera (resumo e análise)

Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes
Tempo de leitura: 15 min.

O Fantasma da Ópera (Le Fantôme de l'Opéra) é um livro francês de ficção gótica, escrito por Gaston Leroux e publicado inicialmente em capítulos, entre setembro de 1909 e janeiro de 1910.

A obra se foca num gênio musical que tem o rosto deformado e vive nas catacumbas de uma ópera em Paris. O protagonista sombrio ficou conhecido entre o público francês, tornando-se depois um êxito internacional.

A figura do Fantasma da Ópera tem sido amplamente popularizada através de adaptações, sobretudo a peça de teatro musical de 1986, exibida na Broadway. Criado por Andrew Lloyd Webber, Charles Hart e Richard Stilgoe, o espetáculo continua em palco, tantos anos depois, batendo recorde de permanência e se tornando o musical mais visto de sempre.

Resumo da história

O Fantasma da Ópera conta a história trágica de um triângulo amoroso passado nos bastidores de uma ópera parisiense. O protagonista, uma entidade mascarada que assombra a local, desenvolve uma paixão obsessiva por Christine, a jovem soprano que ficou órfã e foi acolhida pela trupe. Durante anos, de noite, ela escuta a sua voz e ele a ensina a cantar, dizendo que é o "Anjo da Música".

Raoul, o novo patrono do teatro, chega e altera a rotina dos dois: ele tinha sido namorado de infância da moça. O Fantasma ameaça e ataca a prima donna, Carlotta, a cantora principal, que é substituída por Christine. Depois de vê-la no palco, o patrono a convida para sair.

O Fantasma fica enraivecido de ciúmes, aparecendo diante da moça e sequestrando-a. A soprano é levada para o mundo subterrâneo onde o Fantasma vive. Ele confessa o seu amor, dizendo que precisa da sua companhia e da sua voz para a música que compõe.

Ela tenta ver o seu rosto e arranca a sua máscara, provocando a fúria e vergonha no homem. Ele deixa que Christine regresse ao teatro e cantora decide fugir com o namorado, mas volta a ser sequestrada e Raoul também é mantido como refém. A protagonista se recusa a casar com o Fantasma, mas acaba aceitando, para salvar a vida do amado.

Quando a jovem levanta a máscara para beijar seu rosto, o Fantasma confessa que nunca foi beijado, nem mesmo pela mãe. Os dois choram, suas lágrimas se misturam, num momento de grande intimidade e emoção.

Depois, ele deixa Christine partir com Raoul, mas faz a moça prometer que vai regressar quando ele morrer, para devolver o anel de ouro que lhe deu. Algum tempo depois, ele morre "de amor" e a cantora regressa à Ópera para enterrar o seu corpo em um local escondido, devolvendo o seu anel.

Músicas e adaptação para o teatro

A adaptação do romance de Leroux para o teatro musical foi escrita e composta por Andrew Lloyd Webber, com letras de Charles Hart e Richard Stilgoe. Com a duração de 2h30m, o show contava com a participação de Sarah Brightman, Michael Crawford e Steve Barton, no elenco principal.

Entre os vários temas, alguns se tornaram marcantes, como "Pense em Mim," "Anjo da Música" e "Música da Escuridão".

Em "Pense em Mim", Christine demonstra suas capacidades vocais, pela primeira vez, ao resto da trupe. Quando a cantora que interpretava o papel principal desiste da peça, a jovem soprano encontra a sua oportunidade para brilhar.

Ainda que comece de forma tímida, ela acaba conquistando a atenção de todos. Os versos parecem prever a sua despedida, que ocorre algum tempo depois, pedindo que não esqueçam dela.

Já "Anjo da Música" é um dueto entre a moça e o Fantasma, que está furioso com ciúmes de Raoul, o visconde que chegou à Ópera. A jovem pede perdão e implora que o "anjo" se revele, até que vê seu reflexo num espelho.

Na "Música da Escuridão", Erik apresenta seu reino subterrâneo à soprano e tenta convencê-la a esquecer o resto do mundo e ficar com ele por lá.

Muitas análises apontam que o grau de inovação das músicas compostas pelo Fantasma (na sua ópera "Dom Juan Triunfante"), contrastam com as formas tradicionais presentes nas outras canções do espetáculo, salientando o seu talento e gênio.

No Brasil, o espetáculo foi exibido pela primeira vez em 2005, no Teatro Abril de São Paulo. O Fantasma da Ópera se tornou o espetáculo com maior tempo de exibição na Broadway, tendo ultrapassado as 10 mil sessões no ano de 2012.

Personagens principais

Erik , O Fantasma

Protagonista e personagem do título, o Fantasma da Ópera é um homem que nasceu deformado e por isso foi rejeitado pelos pais. Se escondeu nos calabouços da Ópera, onde descobriu o seu amor pela música e se apaixonou por Christine. Disposto a tudo para tê-la do seu lado, decide sequestrá-la e obrigá-la a casar, mas acaba libertando a jovem.

Christine Daaé

Filha de um violinista, Christine ficou órfã durante a infância e acabou sendo acolhida pelos funcionários da Ópera. Durante a noite, escutava uma voz que a ensinava a cantar e dizia ser um anjo, enviado para protegê-la. Ao mesmo tempo que vai alcançando sucesso enquanto soprano, reencontra Raoul, seu primeiro amor, e se torna vítima da obsessão de Erik.

Raoul, Visconde de Chagny

Raoul é o novo patrono do teatro. Ele reencontra Christine, sua paixão de infância, e volta a nutrir sentimentos por ela. Quando percebe que o teatro está sendo ameaçado e que a jovem é manipulada por Erik, corre todos os riscos para tentar salvá-la.

Análise e enredo do musical

Prólogo

O espetáculo começa no ano de 1905, na Ópera Populaire, durante um leilão. Raoul, já velho, compra um lote onde estão guardados artefatos antigos, relacionados com o mistério do Fantasma da Ópera.

Quando levantam o pano do lustre comprado, ele magicamente se acende e sobe, ficando no cimo do palco. O cenário muda, como se os anos voltassem para trás e o teatro voltasse à sua era de esplendor.

Ato I

No primeiro ato, corre o ano de 1881 e Carlotta, a estrela do espetáculo está ensaiando quando fenômenos explicáveis começam a acontecer e os artistas em palco gritam que o Fantasma está presente. A prima donna, assustada, se recusa a continuar e abandona o local.

Madame Giry, supervisora do balé, sugere que Christine, a jovem soprano que cresceu na Ópera, faça uma audição para ocupar o papel. Ela canta "Pense em Mim" e suas capacidades vocais e técnicas surpreendem todos os presentes.

Depois do sucesso da sua estreia, a moça confessa a sua amiga Meg que o seu professor é uma voz que escuta durante a noite, desde a infância, intitulada o "Anjo da Música".

Nessa madrugada, ela reencontra Raoul, seu antigo amigo e novo patrono do teatro. Conversam sobre o pai de Christine, que morreu, e a soprano conta que ele lhe enviou um anjo que a guarda e ensina a cantar. Embora a paixão reacenda entre os dois, ela tem que recusar o seu convite para jantar, alegando que o seu mestre é muito rigoroso.

Com ciúmes, o Fantasma aparece para Christine num espelho, pela primeira vez, e a carrega pela mão até ao seu esconderijo. Numa das cenas mais famosas do musical, atravessam um lago subterrâneo de barco enquanto cantam "O Fantasma da Ópera".

A figura misteriosa declara seu amor pela cantora e afirma que precisa da voz dela para dar vida às suas composições musicais. Curiosa, ela levanta a máscara e vê seu rosto deformado. Ele assume um comportamento violento, gritando e batendo na soprano. Depois, emocionado, confessa seu sofrimento e desejo de ser igual aos outros.

O Fantasma manda um bilhete para o diretor da Ópera, exigindo que Christine seja a estrela do próximo espetáculo e avisando que iria se vingar se não o obedecessem. Assim, enquanto Carlotta está no palco, ele transforma sua voz no coaxar de um sapo. De repente, o corpo de um funcionário do teatro, que estava sempre falando mal do Fantasma, aparece no palco e gera pânico entre o público, enquanto se escuta uma risada maléfica.

A jovem consegue fugir para o telhado com Raoul e conta tudo o que aconteceu no esconderijo do Fantasma. Embora, inicialmente, ele não acredite, o patrono declara seu amor e promete protegê-la. O Fantasma escuta a conversa e, em fúria, faz cair o lustre em cima do palco.

Ato II

Depois do episódio do lustre, o Fantasma volta a aparecer diante de todos durante um baile de máscaras, fantasiado de Morte Vermelha. Anuncia que escreveu uma ópera chamada "Don Juan Triunfante" e exige que ela seja encenada imediatamente, com Christine como cantora principal.

Raoul, sabendo que o Fantasma estará presente na estreia, tenta convencer a amada a ajudá-lo a montar uma armadilha, mas ela se sente relutante em atraiçoar o seu mestre.

O Visconde descobre, através de Madame Giry, que a entidade misteriosa é um gênio musical com poderes mágicos que, por ter o rosto deformado, decidiu se esconder nas catacumbas da Ópera.

Durante a peça, a jovem percebe que está contracenando com o próprio Fantasma e arranca novamente a sua máscara, desta vez diante de todos. Nesse momento, o corpo do ator que deveria estar em palco é encontrado nos bastidores.

Com a confusão, o Fantasma sequestra Christine, não sem antes capturar o seu rival. Ele obriga a jovem a usar um vestido de noiva, anunciando que vão casar e ameaçando a vida de Raoul, se ela recusar.

Numa conversa emocionada, a soprano diz ao Fantasma que a sua deformidade está na alma e não no rosto, beijando-o num sinal de compaixão. O gesto desperta o lado humano do "monstro" que resolve deixar os dois amantes partirem juntos.

Interpretações e significado d'O Fantasma da Ópera

Várias leituras e interpretações podem surgir a propósito do romance de Leroux e do musical que ele originou. Apesar de todos os crimes que comete e de exibir um comportamento agressivo, egocêntrico e obsessivo, a figura do Fantasma tem conquistado a simpatia e a compaixão do seu público.

Exclusão e marginalização

Na verdade, embora ameaçadora, a figura mostra também seu lado mais sensível, seu coração machucado com o mundo que o rejeitou. Apesar do seu talento musical inquestionável, é forçado a viver nas sombras, porque a deformação no seu rosto assusta todos que o conhecem.

Para que suas composições possam ter sucesso, o Fantasma necessita da voz e da beleza de Christine. Neste sentido, esta parece ser uma história de marginalização daqueles que são diferentes, que estão fora dos padrões vigentes e, por isso, não têm oportunidade de brilhar ou subir na vida.

Solidão e abandono

Na sequência do que foi dito acima, a obsessão do Fantasma por Christine talvez surja da sua necessidade de contato social e humano. Através das lições de canto, ao longo de anos, o homem solitário vai formando um vínculo emocional com a garota.

Esta teoria é reforçada com o desenlace da relação. Quando Christine beija o seu rosto, o Fantasma se sente, pela primeira vez, amado e compreendido. O gesto da soprano parece ser a validação e aceitação que ele necessitava, deixando que ela parta depois.

Metáfora para a criação artística

Outra análise comum é aquela que aponta Raoul como símbolo da vida amorosa e familiar, enquanto o Fantasma seria uma metáfora para a própria arte. Como o Fantasma, a arte de Christine, o canto lírico, seria um mestre rigoroso e exigente que pretendia ocupar todo o seu tempo e dominar a sua vida.

O triângulo amoroso seria, então, o conflito interior da jovem, dividida entre a vida burguesa, o desejo de casar e formar uma família e a ambição de conquistar a excelência na sua carreira.

Triângulo amoroso abusivo

Um olhar contemporâneo sobre a narrativa, proporcionado sobretudo pelo filme de 2004, não consegue ficar indiferente ao caráter abusivo das relações de Christine com o Fantasma da Ópera e o Visconde de Chagny. Como uma corda sendo puxada pelas mãos dos dois, a moça fica no meio de uma guerra de egos.

Christine é forçada a optar entre um homem que a sequestra e quer obrigá-la a casar e um outro que a pressiona para abandonar a carreira e fugir. Assim, a mulher não tem liberdade para fazer as suas escolhas e acaba abandonando a sua vocação.

Adaptações cinematográficas

Além da famosa adaptação para teatro musical, o livro de Gaston Leroux foi transportado para as artes visuais inúmeras vezes, com mais ou menos fidelidade à narrativa original.

O Fantasma da Ópera (2004), Joel Schumacher

Filme de 2004-

A adaptação cinematográfica mais recente é também a mais próxima do musical da Broadway, mantendo o seu enredo e as canções originais no show. Recuperando o mito do Fantasma mascarado, o filme de Schumacher obteve bastante sucesso, sendo nomeado para o Oscar e o Globo de Ouro de 2005.

O Fantasma da Ópera (1925), Rupert Julian

Filme de 1925

A primeira representação no cinema foi em preto e branco. No filme mudo, o protagonista surge sempre sem máscara, revelando seu rosto assustador. Rejeitado por Christine, sequestra a cantora, que acaba sendo resgatada pela polícia.

O Fantasma da Ópera (1943), Arthur Lubin

Filme de 1943

Nesta adaptação, a história está bastante modificada e Erik é um violinista da orquestra que se apaixona por Christine, uma cantora sem muitas capacidades vocais. Por amor, começa a pagar aulas de canto para que a soprano melhore, ao mesmo tempo que seu próprio talento vai desaparecendo.

O músico acaba sendo despedido e se dedica à composição, mas sua obra é roubada e seu rosto é queimado com ácido quando tenta recuperá-la. Aí, ele se esconde nas catacumbas e elabora um plano para conquistar o amor da jovem, mas acaba morrendo num desabamento.

O Fantasma da Ópera (1962), Terence Fisher

Filme de 1962

Passado no cenário londrino, a história se assemelha à do filme de Lubin. O protagonista, Petrie, é um professor pobre cuja obra é roubada e o rosto é queimado com ácido, na sequência. Ele se refugia na Ópera onde ensina Christine a cantar. Neste filme, o Fantasma não está apaixonado pela soprano, apenas quer ajudá-la a atingir o seu potencial artístico. Petrie morre em palco, salvando a vida de Christine, que iria ser atingida por um lustre.

O Fantasma do Paraíso (1974), Brian De Palma

Filme de 1974.

Muito diferente das outras versões, o filme de Brian De Palma é uma ópera rock. A adaptação livre mistura elementos do enredo de Leroux com as narrativas de O Corcunda de Notre Dame de Victor Hugo e Fausto de Goethe.

5 curiosidades sobre O Fantasma da Ópera

  1. No romance original, Gaston Leroux defende que está contando uma história real, apresentando relatos e documentos que pretendiam comprovar a veracidade da narrativa.
  2. Ao longo de três décadas, o musical da Broadway já faturou mais de 1 bilhão de dólares.
  3. No filme de 2004, para que as chamas parecessem realistas durante o incêndio no teatro, a produção pegou fogo nos cenários.
  4. O filme de Joel Schumacher foi financiado por Andrew Lloyd Webber, que investiu 6 milhões de dólares na produção.
  5. O musical já foi traduzido para mais de 15 idiomas, entre os quais o russo, o húngaro e o coreano.

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.