7 melhores obras de José de Alencar (com resumo e curiosidades)
José de Alencar escreveu alguns do maiores clássicos da literatura brasileira. Considerado fundador do romance de temática nacional, selecionamos algumas das obras mais significantes do autor.
1. Cinco Minutos, 1856
Cinco minutos foi das primeiras narrativas escritas por José de Alencar. Ainda no início da carreira, o escritor mantinha o estilo folhetinesco e casual. Nessa história breve, passada no Rio de Janeiro, o protagonista dirige-se diretamente a sua prima para contar um caso pessoal. Figura um tom intimista, quase como um segredo que se quisesse contar.
"É uma história curiosa a que lhe vou contar, minha prima. Mas é uma história, e não um romance. Há mais de dois anos, seriam seis horas da tarde, dirigi-me ao Rocio para tomar o ônibus de Andaraí. Sabe que sou o homem o menos pontual que há neste mundo; entre os meus imensos defeitos e as minhas poucas qualidades, não conto a pontualidade, essa virtude dos reis, e esse mau costume dos ingleses. Entusiasta da liberdade, não posso admitir de modo algum que um homem se escravize ao seu relógio e regule as suas ações pelo movimento de uma pequena agulha de aço ou pelas oscilações de uma pêndula."
O protagonista, não nomeado, se atrasa e perde o ônibus que desejava. Assim, acaba se cruzando com Carlota, uma desconhecida até então por quem fica fissurado. Carlota tinha dezesseis anos, era muito doente, e havia se apaixonado pelo protagonista meses antes durante um baile. Por crer que a sua saúde perigava, decidiu não se declarar ao amado. Por fim, a menina se curou da doença e viveu feliz para sempre ao lado do amado.
A história contada por José de Alencar é um clássico romântico repleto de um afeto ingênuo e pueril.
O livro Cinco minutos encontra-se disponível em domínio público e pode ser baixado gratuitamente em formato PDF.
2. A viuvinha, 1857
Assim como Cinco minutos, A viuvinha é um romance urbano ambientado no Rio de Janeiro. Os protagonistas são Jorge e Carolina. Jorge é filho de um negociante rico que faleceu jovem, deixando o rapaz órfão. Quem ficou responsável por ser o seu tutor foi o Sr.Almeida, velho amigo do pai de Jorge. Ao alcançar a maioridade, Jorge toma posse dos bens e passa a aproveitar a vida.
Porém, após anos de diversão, o tédio chega e Jorge se vê sozinho e deprimido. Um belo dia conhece Carolina, uma moça humilde que vive com a mãe em uma pequena casa em Santa Teresa. Os dois casam-se, mas, um pouco antes do casamento, Jorge descobre que já não tem mais a sua fortuna. Desesperado, Jorge caminha até um beco onde habitualmente se praticavam suicídios:
"Meia hora depois ouviram-se dois tiros de pistola; os trabalhadores que vinham chegando para o serviço, correram ao lugar donde partira o estrondo e viram sobre a areia o corpo de um homem, cujo rosto tinha sido completamente desfigurado pela explosão da arma de fogo. Um dos guardas meteu a mão no bolso da sobrecasaca e achou uma carteira, contendo algumas notas pequenas, e uma carta apenas dobrada, que ele abriu e leu: "Peço a quem achar o meu corpo o faça enterrar imediatamente, a fim de poupar à minha mulher e aos meus amigos esse horrível espetáculo. Para isso achará na minha carteira o dinheiro que possuo." Jorge da Silva 5 de setembro de 1844. Uma hora depois a autoridade competente chegou ao lugar do suicídio e, tomando conhecimento do fato, deu as providências para que se cumprisse a última vontade do finado."
Acreditando que estava viúva, Carolina entra em luto e nunca mais deseja homem algum. Mas a verdade é que Jorge não havia de fato morrido, tinha apenas se mudado para os Estados Unidos onde trabalhou para recuperar a fortuna e limpar o nome.
Ao regressar para o Brasil, encontra Carolina, que passou a ser chamada de viuvinha. Apaixonado pela esposa, Jorge revela tudo o que se passou e Carolina o perdoa. Juntos vivem felizes para sempre em uma fazenda afastada.
Leia uma análise aprofundada de A Viuvinha, de José de Alencar.
O livro A viuvinha encontra-se disponível em domínio público e pode ser baixado gratuitamente em formato PDF.
3. O guarani, 1857
O cenário da obra-prima O guarani é uma fazenda as margens do rio Paquequer, na Serra dos Órgãos, interior do Estado do Rio de Janeiro. A história é ambientada no século XVII e os protagonistas são Peri, índio da região, e Cecília, filha de D.Antônio de Mariz, um fidalgo português. Peri é um índio da tribo dos Goitacás que defendeu a família Mariz e, pela sua demonstração de fidelidade, ganhou a confiança da casa e passou a viver com a família. O índio possuía um amor cego e devoto por Ceci, uma linda moça que colecionava apaixonados.
Quando percebe que a família corre perigo de ser atacada pelos aimorés, índios da região, Peri se submete a o maior dos sacrifícios: como os aimorés eram canibais, Peri se envenena e vai para combate. Seu plano era que, ao ser devorado, a tribo falecesse, deixando a família Mariz em paz. Felizmente os cálculos de Peri não dão certo e ele acaba sendo salvo a tempo. A fazenda é incendiada, D.Antônio de Mariz batiza o índio rapidamente e o autoriza a fugir com Ceci.
"O índio fez a narração da cena da noite antecedente desde que Cecília tinha adormecido até o momento em que a casa saltara com a explosão, restando dela apenas um montão de ruínas.
Contou que ele tinha preparado tudo para que D. Antônio de Mariz fugisse, salvando Cecília; mas que o fidalgo recusara, dizendo que a sua lealdade e a sua honra mandavam que morresse no seu posto.
— Meu nobre pai! murmurou a menina enxugando as lágrimas. Houve um instante de silêncio, depois do qual Peri concluiu a sua narração, e referiu como D. Antônio de Mariz o tinha batizado, e lhe havia confiado a salvação de sua filha.
— Tu és cristão, Peri?... exclamou a menina, cujos olhos brilharam com uma alegria inefável.
— Sim; teu pai disse: “Peri, tu és cristão; dou-te o meu nome!”
— Obrigado, meu Deus, disse a menina juntando as mãos e erguendo os olhos ao céu."
Leia a análise detalhada do livro O guarani.
O livro O guarani encontra-se disponível em domínio público e pode ser baixado gratuitamente em formato PDF.
4. Lucíola, 1862
O romance Lucíola narra uma história trágica de amor. O narrador, Paulo, conta o romance que teve com uma mulher chamada Lúcia, por quem se apaixonou. Tudo começou no ano de 1855, quando se mudou para o Rio de Janeiro. Em uma noite de festa, Paulo conhece Lúcia e se encanta pela cortesã. Juntos mantém um caso amoroso secreto, longe dos olhos da sociedade.
Lúcia deseja largar a vida da prostituição, por isso se muda com a irmã, Ana, para longe da cidade. Ficamos sabendo que a decisão de vender o próprio corpo não foi tomada por própria vontade: como a família estava doente, com febre amarela, Lúcia viu-se obrigada a arranjar recursos para sustentar a casa. Também descobrimos, ao longo da narrativa, que o real nome da moça era Maria da Glória - Lúcia foi o nome que pegou emprestado de uma amiga que faleceu no passado.
O amor entre Maria da Glória (Lúcia) e Paulo vai se tornando cada vez mais sólido. Por fim, a moça engravida. Ela não aceita o próprio filho porque crê que o seu corpo é sujo devido ao seu passado. O destino dos amantes é tráfico: Lúcia morre, grávida, e Paulo fica só. O rapaz, no entanto, cumpre a última promessa que havia feito e cuida da cunhada, Ana, até que a jovem se case.
"Há seis anos que ela me deixou; mas eu recebi a sua alma, que me acompanhará eternamente. Tenho-a tão viva e presente no meu coração, como se ainda a visse reclinar-se meiga para mim. Há dias no ano e horas no dia que ela sagrou com a sua memória, e lhe pertencem exclusivamente. Onde quer que eu esteja, a sua alma me reclama e atrai; é forçoso então que ela viva em mim. Há também lugares e objetos onde vagam seus espíritos; não os posso ver sem que o seu amor me envolva como uma luz celeste.
Ana casou-se há dois anos. Vive feliz com seu marido, que a ama como ela merece. É um anjo de bondade; e a juventude realçando-lhe as graças infantis, aumentou a sua semelhança com a irmã; porém falta-lhe aquela irradiação intima de fogo divino. Almas como as de Lúcia, Deus não as dá duas vezes à mesma família, nem as cria aos pares, mas isoladas como os grandes astros destinados a esclarecer uma esfera.
Cumpri a vontade de minha Lúcia; tenho servido de pai a essa menina; com a sua felicidade paguei um óbolo de minha gratidão à doce amiga que tanto amou-me."
O livro Lucíola encontra-se disponível em domínio público e pode ser baixado gratuitamente em formato PDF.
5. Iracema, 1865
Iracema é o romance mais celebrado de José de Alencar. Os protagonistas da história são Iracema, uma jovem índia, e Martim, um aventureiro português. Iracema pertencia a tribo dos campos Tabajara, era filha do pajé Araquém. Uma bela tarde, a moça dispara precipitadamente uma flecha envenenada contra Martim, que estava embrenhado na mata. Culpada pelo gesto impensado, Iracema o resgata e o leva para a tribo.
"Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu.
Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.
De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada, mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d'alma que da ferida.
O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara.
A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada.
O guerreiro falou:
— Quebras comigo a flecha da paz?"
Como Martim promete ajudar o pajé com a segurança da região, em troca lhe é oferecido estadia, comida e as mulheres que desejar. Já apaixonado por Iracema, Martim não aceita mais ninguém. A paixão, porém, era proibida, porque Iracema detinha o segredo de Jurema, o que fazia com que ela precisasse se manter virgem. Terrivelmente apaixonados e sem qualquer outra saída, Martim e Iracema fogem juntos.
O fruto desse amor nasce alguns meses depois, é Moacir, considerado o primeiro brasileiro (filho de uma índia com um português). Iracema morre logo após o nascimento de Moacir e o pai, Martim, regressa para Portugal levando o menino.
Leia a análise detalhada do livro Iracema.
O livro Iracema encontra-se disponível em domínio público e pode ser baixado gratuitamente em formato PDF.
6. Senhora, 1875
O romance Senhora, de José de Alencar, é a produção mais crítica do autor em relação ao casamento por interesse - uma situação frequente outrora. Os protagonistas da história são Aurélia Camargo, uma moça pobre, filha de costureira, e Fernando Seixas, então namorado da jovem. Ao perceber que o futuro financeiro casando-se com Aurélia não seria promissor, Fernando a troca por Adelaide Amaral, uma moça rica e de família.
A reviravolta acontece quando Aurélia torna-se órfã e recebe uma fortuna inesperada do avô. Com desejo de se vingar de Fernando, ela propõe comprá-lo. A transação é realizada e os dois se casam. O final dessa história, contudo, é feliz: Fernando trabalha para reunir dinheiro e comprar a sua alforria e Aurélia, percebendo a mudança no marido, resolve perdoá-lo.
"Aurélia recebeu da mão de Seixas vários papéis e correu os olhos por eles. Constavam de uma declaração do Barbosa relativa ao privilégio, e contas de vendas de jóias e outros objetos.
- Agora nossa conta, continuou Seixas desdobrando uma folha de papel. A senhora pagou-me cem mil cruzeiros; oitenta mil em um cheque do Banco do Brasil que lhe restituo intacto; e vinte mil em dinheiro, recebido há 330 dias. Ao juro de 6% essa quantia lhe rendeu Cr$ 1.084,71. Tenho pois de entregar-lhe Cr$ 21.084,71, além do cheque. Não é isto?
Aurélia examinou a conta corrente; tomou uma pena e fez com facilidade o cálculo dos juros.
- Está exato"
Leia a análise detalhada do livro Senhora.
O livro Senhora encontra-se disponível em domínio público e pode ser baixado gratuitamente em formato PDF.
7. Encarnação, 1893
Dos livros listados aqui, Encarnação foi o único publicado postumamente. A história, inicialmente divulgada em folhetins, foi das últimas escritas pelo autor. O cenário é São Clemente, no Rio de Janeiro, onde o casal Carlos Hermano de Aguiar e Julieta vivem em um chácara. Infelizmente a esposa morre devido a um aborto. Perturbado com o falecimento da mulher, Hermano encomenda uma série de estátuas de Julieta que espalha pela casa.
A vizinha, Amália, que conhecia a história de Hermano e Julieta, ao ver as sombras de mulher espalhadas pela chácara crê que Hermano tenha quebrado a promessa de amor eterno. De tanto observar a vida do vizinho, Amália acaba se apaixonando por Hermano. Hermano, por sua vez, também se encanta por Amália.
O viúvo, por fim, toma coragem e se livra dos objetos da falecida esposa:
"Na ocasião em que cegamente apaixonado por Amália, decidiu pedi-la em casamento, Hermano refletiu sobre o destino que devia dar às relíquias da primeira mulher Não podia guardá-las como tinha feito até ali, porque seria isto uma infidelidade à esposa atual: não se animava, porém, a abandonar e como que expelir de si essas imagens e objetos, tão impregnados de sua vida, que faziam parte dela. Seria mutilar-se moralmente. Tomou uma resolução que pudesse conciliar tais escrúpulos Reuniu naqueles dois aposentos de Julieta tudo que lhe pertencera e fechou-os como se fossem a sepultura onde jazia a alma da primeira mulher."
O viúvo se casa novamente e juntos tem uma filha, que nasce inexplicavelmente com as feições da mãe, Amália, mas também da falecida Julieta.
O livro Encarnação encontra-se disponível em domínio público e pode ser baixado gratuitamente em formato PDF.
Quem foi José de Alencar?
O escritor viveu durante um período histórico bastante interessante: contemporâneo do segundo reinado, esse foi um momento em que o país ansiava consolidar uma mitologia nacional. Não a toa, D.Pedro II financiou escritores, escultores, pintores e músicos durante esse período.
José de Alencar foi um dos maiores nomes do romantismo brasileiro (da primeira fase do movimento). Pregava uma linguagem mais coloquial e nacional. Foi imortalizado pela Academia Brasileira de Letras tendo ocupado a cadeira número 23.
Alencar sofria de tuberculose, com medo da morte vendeu tudo o que tinha e mudou com a família (a mulher e os filhos) para a Europa. Viveu em Londres e Paris, mas acabou por ficar em Portugal. Morreu de doença no dia 12 de dezembro de 1877, aos 48 anos de idade
4 curiosidades sobre a vida e a obra de José de Alencar
1. O autor era filho de padre
O escritor era filho ilegítimo do padre José Martiniano Pereira de Alencar (1794-1860).
2. Os pais do escritor eram primos
José Martiniano Pereira de Alencar, pai de José de Alencar, após abandonar o celibato casou-se com a sua prima direta (de primeiro grau) D.Ana Josefina de Alencar. Juntos tiveram doze filhos.
3. José de Alencar e D.Pedro II não se davam lá muito bem
Tanto o escritor quanto o imperador implicavam-se com certa frequência. Polêmico e criador de casos, José de Alencar chegou a ser Ministro da Justiça e ansiava ser Senador do Império. O cargo era indicado por D.Pedro II, que jamais permitiu que o autor o alcançasse. É sabido um diálogo registrado entre os dois onde o monarca teria dito: “O senhor é muito moço” e Alencar teria respondido sem papas na língua “Sou? Se é assim, vossa majestade deveria ter recusado a coroa antes de se tornar maior de idade”
4. A primeira edição de Iracema foi a leilão
A Dutra Leilões, casa especializada em leilões de arte de São Paulo, levou a público a primeira edição do livro Iracema, de José de Alencar, publicado em 1865 pela editora Typographia Viana & Filhos. A peça pertencia antes a um bibliófilo anônimo de fora do estado de São Paulo e foi leiloada no dia 1 de dezembro de 2015. A casa de leilões não divulgou por quanto a obra foi arrematada nem quem foi o comprador.
Confira também
- Principais obras do romantismo
- Resumo e análise do livro A Viuvinha, de José de Alencar
- Resumo e análise do livro O Guarani, de José de Alencar
- Resumo e análise do livro Iracema, de José de Alencar
- Resumo e análise do livro Lucíola, de José de Alencar
- Resumo e análise do livro Senhora, de José de Alencar