Orgulho e Preconceito de Jane Austen: resumo e análise do livro

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
Tempo de leitura: 13 min.

Orgulho e preconceito é a obra-prima da escritora britânica Jane Austen que tem como pano de fundo a burguesia inglesa do início do século XIX.

Vemos no romance como as relações movidas por amor e dinheiro podem ser promíscuas e mesquinhas, encobertas pelo véu da sociedade burguesa.

O clássico inglês foi adaptado para o cinema quatro vezes, a versão mais consagrada ganhou as telas em 2005 sob a direção de Joe Wright.

Resumo

O enredo de Orgulho e preconceito gira em torno da família Bennet, composta por marido, mulher e cinco filhas (Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia).

A história se passa em uma zona rural da Inglaterra durante o início do século XIX.

Elizabeth Bennet, a segunda filha mais velha, será a protagonista da trama. Uma jovem bela, orgulhosa, de personalidade forte e vanguardista para o seu tempo, Lizzie, como é chamada pelos íntimos, carrega dentro de si inquietações com as convenções sociais do seu tempo.

Sua mãe, ao assistir as opiniões e atitudes da filha, a considera um caso perdido em relação a possibilidade de conseguir um casamento.

Vale lembrar que na Inglaterra, durante esse período histórico, o único papel social da mulher era ser mãe e esposa, não possuindo qualquer hipótese de ambição profissional.

Em termos sociais, as mulheres valiam tão pouco que, em caso de falecimento do patriarca, o patrimônio deixado deveria seguir para o filho varão e, caso não houvesse, a fortuna seria encaminhada para o homem mais próximo da família.

A trama do romance se desenrola com a chegada de dois jovem solteiros afortunados na região (Mr.Bingley e Mr.Darcy). A mãe das meninas vê no surgimento dos rapazes uma oportunidade para resolver os problemas da família.

Mr.Bingley, um homem muito sóbrio e distinto, se apaixona por Jane Bennet, a mais velha das irmãs. Caroline Bingley, a irmã do rapaz, mostra-se porém contra a relação devido a classe social da moça.

Mr.Bingley se aproxima de Jane e vai contra a opinião da irmã. No entanto, o jovem subitamente desaparece da cidade, deixando Jane sem qualquer explicação.

O amigo Mr.Darcy, por sua vez, cai de encantos pela irmã Elizabeth, embora num primeiro momento se recuse a assumir os sentimentos que tinha por saber que a jovem era de origem humilde. Elizabeth, contudo, acha Mr.Darcy um homem arrogante e o repudia.

A relação entre os dois é, portanto, pautada pelo preconceito, pela atração, pela paixão e pela raiva. Um misto de sentimentos completamente discrepantes.

Mr.Darcy, porém, afinal toma coragem e pede a moça em casamento. Elizabeth, contudo, permanece firme nos seus ideais e recusa o pedido ao enxergar nele um homem prepotente e inescrupuloso.

Aos poucos, a jovem acaba por perceber que o rapaz tem boa índole e admite os seus sentimentos. As coisas mudam especialmente depois do recebimento de uma carta que Mr.Darcy escreve à ela justificando as suas atitudes. Após a leitura, Elizabeth consegue ver que há ali um homem de bem. Felizmente Mr.Darcy reitera o pedido de casamento e Elizabeth afinal aceita. O casal vai viver em Pemberley.

O final feliz também acontece para Jane, irmã de Elizabeth. Mr.Bingley retorna à cidade e explica as suas motivações para ter ido embora repentinamente. O rapaz suplica o perdão à amada e a pede em casamento. Ela aceita o pedido e os dois ficam vivendo em Netherfield.

Personagens principais

Sr. e Sra. Bennet

Inquietos com o futuro da família, o casal tem como preocupação central casar bem as cinco filhas. A mãe foca a sua energia em procurar (e apresentar) bons genros para as meninas. O próprio narrador constata: "A única preocupação da sua vida era casar as filhas. Seu consolo, fazer visitas e saber novidades.". O pai, por sua vez, parece ser mais descontraído, curioso, dono de um humor sarcástico, embora também fosse bastante preocupado com o futuro financeiro do clã.

Elizabeth Bennet

Protagonista da história, Lizzie é descrita como uma jovem bela, culta e inteligente. Inconformada com a ordem social, ela não se subjuga e decide casar apenas por amor. Uma das características centrais da personagem é o forte senso de independência que possui, Elizabeth é definitivamente uma mulher deslocada do seu tempo histórico. Num contexto em que as meninas eram criadas para serem esposas e mães, Lizzie enxerga além, não se conformando em seguir o status quo e reproduzindo relações por conveniência.

Jane Bennet

A primogênita da família Bennet, considerada uma moça dócil e sonhadora, muito próxima da irmã Elizabeth, com quem trocava frequentemente confidências. A irmã mais velha do clã Bennet é descrita como sendo profundamente tímida, recatada e extremamente bela.

Mary

Uma das irmãs Bennet, é aquela que tem obsessão por livros e a que mais cultiva o intelecto. É considerada por todos uma moça de muito juízo e de grande sabedoria devido a infindável curiosidade que herdou do pai.

Kitty e Lydia

As irmãs caçulas não são quase mencionadas, o pouco que se sabe é que elas costumavam arranjar problemas. Sabe-se que Lydia tinha extremo senso de humor e era a irmã mais extrovertida do grupo. Kitty, por sua vez, tinha em Lydia a sua melhor amiga, as duas costumavam cochichar em voz baixa partilhando segredos.

Mr. Bingley

Um jovem muito rico, de boa família, que aluga a mansão de Netherfield e se encanta rapidamente por Jane Bennet. Mr. Bingley parece ser um bom rapaz, que carrega valores sólidos, mas acaba por ser um tanto influenciável pela opinião alheia e demonstra possuir uma personalidade fraca, sendo dominado principalmente pela mãe e pela irmã. Logo que Mr. Bingley aparece na trama, os pais das irmãs Bennet demonstram interesse em casa-lo com uma das filhas.

Mr. Darcy

Grande amigo de Mr. Bingley, descrito como fechado e distante, não nutre a princípio nenhum afeto pelas irmãs Bennet, que considera serem de estatuto inferior. No princípio da narrativa, Mr. Darcy carrega um ar arrogante e superior, como se estivesse deslocado do universo da família Bennet. No entanto, com o passar do tempo e com a convivência com as irmãs, acaba por se apaixonar por Elizabeth.

Caroline Bingley

Irmã de Mr.Bingley, condena veementemente a relação do rapaz com Jane Bennet por acreditar que ela pertence a uma classe social inferior. Carolina é, de certa forma, arrogante e acredita que o seu sobrenome não deve ser misturado com o de famílias consideradas reles.

Análise de Orgulho e Preconceito

Um retrato da época

O enredo é bastante rico e há uma preocupação nítida da autora em retratar detalhadamente a sociedade inglesa do século XIX com a sua cultura, os seus hábitos e os seus valores morais. Como rapidamente se percebe, a dualidade entre o amor e o dinheiro é a engrenagem que faz mover a narrativa.

Observamos ao longo do texto, por exemplo, a forte importância dada ao dinheiro e o preconceito dos personagens em relação a origem das famílias dos indivíduos. É certo que Austen muitas vezes faz de seus personagens caricaturas sociais, no entanto, através do comportamento deles é possível encontrar uma espécie de retrato da sociedade inglesa da época.

A história de Orgulho e Preconceito é das mais adaptadas para o cinema, para o teatro e para a televisão. Jane Austen é tida como a autora inglesa mais importante para o país depois de Shakespeare.

A partir do exemplo de Meryton, o subúrbio rural imaginado por Austen localizado nos arredores de Londres, podemos reconstruir um pouco da atmosfera da aristocracia rural inglesa durante o século XIX .

O romance como uma crítica à lei do morgadio

A história construída por Jane Austen tece uma forte crítica à sociedade da sua época, regida pelas ambições econômicas e por relações construídas a partir do interesse. Não por acaso a primeira frase que inicia o enredo é:

“É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna necessita de uma esposa.”

Os casamentos são vistos como meros acordos comerciais e vemos, ao longo das páginas, como a mesquinhez e o interesse permeiam as relações humanas.

Austen aborda e denuncia a lei do morgadio, isto é, a organização familiar baseada a partir da noção de uma linhagem. Nesse tipo de sociedade as propriedades eram inalienáveis e indivisíveis e eram transmitidas ao primogênito descendente varão.

No caso da família Bennet, que protagoniza o romance, como se tratava de cinco meninas, não havia um filho varão que herdasse as propriedades.

Ou seja, segundo as normas da época, apesar de haver descendência direta, os bens deveriam seguir para o parente mais próximo do sexo masculino. Na família Bennet, o patrimônio não seria herdado nem pela mulher nem pelas filhas, e sim por Mr.Collins, um primo. É a essa organização social que Austen dirige as suas maiores críticas.

Elizabeth Bennet e o protofeminismo

A crítica costuma enxergar em Elizabeth Bennet uma protofeminista porque, ao contrário das mulheres da sua geração, ela não persegue um casamento promissor achando que vai encontrar em um homem a solução para os seus problemas financeiros e sociais.

Elizabeth luta contra uma sociedade conservadora e machista:

— Seu plano é bom — replicou Elizabeth — quando está em jogo apenas o desejo de se casar bem; e, se eu estivesse decidida a arranjar um marido rico, ou um marido qualquer, seria este o plano que adotaria. Mas estes não são os sentimentos (...)

A personagem discute e se rebela com o seu contexto porque deseja ser independente, repudiando um casamento movido pela conveniência. Não é que a moça fosse propriamente contra o matrimônio, o que ela detestava eram os valores que moviam as mulheres a encontrarem um marido abastado.

O comportamento de Elizabeth é extremamente peculiar para a época. Desde muito cedo a menina se rebelou contra aquilo que ficou conhecido como a santíssima trindade, isto é, o poder do pai, do tutor ou do marido. Às mulheres da época cabia o espaço da casa e a regência da família, enquanto os homens dominavam os espaços públicos, as propriedades e as finanças.

A jovem Lizzie é extremamente admirada pelo pai, um curioso incurável, mas é profundamente criticada pela mãe, que teme pelo futuro de Elizabeth devido as suas ideias consideradas revolucionárias.

História da publicação

A obra-prima de Jane Austen teria tido originalmente outro título: First impressions (em português Primeiras impressões) acabou sendo alterado para Pride and Prejudice.

Escrito entre 1796 e 1797, o romance que a autora chamava de "meu filho querido", foi lançado somente em janeiro de 1813.

Apesar de ter sido escrito há tantos anos, até hoje Orgulho e Preconceito continua ocupando o top livros mais lidos. A cada ano são comercializados 50.000 exemplares apenas no Reino Unido.

Uma curiosidade sobre o clássico: um exemplar da primeira edição foi encontrado e levado a leilão, em Londres, no ano de 2003. A obra foi arrematada por cerca de 58 mil euros.

Frontispício da primeira edição de Pride and prejudice (Orgulho e preconceito).
Frontispício da primeira edição de Pride and prejudice (Orgulho e Preconceito).

Em 2009 foi publicada uma paródia de terror do livro que teve imenso sucesso. Pride and Prejudice and Zombies (em português Orgulho e Preconceito e zumbis) foi adaptado para o cinema em 2016 sob a direção de Burr Steers (confira abaixo o trailer).

Filme Orgulho e Preconceito

Em 2005, o clássico romance de Jane Austen ganhou a sua mais famosa adaptação cinematográfica.

Antes disso, a obra-prima já tinha recebido outras três adaptações para o cinema (uma realizada em 1940, outra em 2003 e mais uma em 2004).

A produção de 2005 foi dirigida por Joe Wright e o roteiro adaptado foi assinado por Deborah Moggach.

O longa metragem foi indicado aos Óscares de melhor atriz (Keira Knightley), melhor figurino, melhor trilha sonora e melhor direção de arte. O filme também foi indicado ao Globo de Ouro em duas categorias (melhor filme e melhor atriz). Por fim, Orgulho e Preconceito levou para casa o Bafta de melhor revelação (pelo trabalho de Joe Wright).

Confira o trailer abaixo:

Para saber mais, leia: Filme Orgulho e Preconceito: resumo e comentários

Quem foi Jane Austen

Jane Austen nasceu no dia 16 de dezembro 1775, em plena era georgeana, em Hampshire, Inglaterra, filha do casal de boa reputação Cassandra e George Austen. O pai, um intelectual, sempre estimulou o lado criativo dos filhos e fez de tudo para que frequentassem a sua farta biblioteca pessoal.

Encantada pelo mundo dos livros, já durante a adolescência Jane começou a escrever pequenos romances em cadernos de espiral. Outras paixões importantes na vida da autora foram a música (especialmente o piano) e a dança.

Em 1801, Jane mudou-se com a família para Bath. Quatro anos mais tarde o pai veio a falecer. Como consequência, a família passou a enfrentar dificuldades financeiras que obrigaram a sucessivas mudanças.

Aos 30 anos, Jane Austen começou a publicar anonimamente os seus escritos. A autora não recebeu propriamente reconhecimento em vida, tendo ganhado popularidade a partir de 1869.

Jane faleceu jovem, aos 41 anos, no dia 18 de julho de 1817, em Hampshire.

Imagem de Jane Austen.
Imagem de Jane Austen.

Conheça também

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).