Poema Para ser grande sê inteiro, de Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
Os versos de Para ser grande sê inteiro foram criados pelo heterônimo Ricardo Reis (do poeta português Fernando Pessoa) tendo sido publicados na revista Presença em fevereiro de 1933.
O poema ficou mundialmente conhecido por ser um elogio à autoaceitação, ao empoderamento e por ser um convite a aproveitar a vida na sua plenitude.
Poema Para ser grande sê inteiro na íntegra
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive
Análise e interpretação do poema Para ser grande sê inteiro
Os versos de Para ser grande sê inteiro nos convocam a encarar e aceitar aquilo que verdadeiramente somos na sua plenitude.
O eu-lírico nos impulsiona a não termos vergonha das nossas características e fraquezas, e sim nos orgulharmos de cada parte que compõe o nosso ser.
Na contramão do seu tempo histórico
O poema acima, de Ricardo Reis, apresenta um movimento de elogio à inteireza que surge em oposição ao discurso de fragmentação do homem moderno tão em voga no momento em que os versos foram escritos.
O modernismo português se iniciou em 1915 com a publicação da Revista Orpheu e se estendeu até o final da década de 70. As obras literárias registraram uma sociedade dinâmica, que viveu profundas transformações sociais em um curto espaço de tempo. Muitas das produções artísticas da época testemunham esse sentimento de fragmentação experienciado.
O elogio a um estilo de vida
Depois de lermos o poema pessoano sentimo-nos impulsionados a nos dedicarmos ao máximo aquilo que fazemos, nos entregando de corpo e alma as atividades que propomos realizar, absorvendo tudo aquilo que pode é possível. O eu-lírico nos estimula a nos dedicarmos mesmo as pequenas atividades cotidianas que muitas vezes são negligenciadas.
Os versos anseiam a plenitude, demonstram um impulso para aproveitarmos o presente desfrutando cada momento como se fosse o último. Lemos a ambição por um estilo de vida carpe diem, de comunhão com o outro e de estímulo a viver o agora sem pensar tanto no amanhã.
Por convocar o leitor de maneira tão potente, Para ser grande sê inteiro tem sido interpretado por muitos como um poema inspiracional.
Profundamente traduzido e divulgado dentro e fora de Portugal, os versos em vários idiomas vêm conquistando uma série de fãs ao longo das décadas por se tratar de um texto com o qual todos nós podemos facilmente nos relacionar. Independente da cultura, o poema trata de sentimentos extraordinariamente humanos e, por isso, acaba por ser transversal.
Sobre o formato do poema
O breve poema de Ricardo Reis é composto por versos de 10 e 6 sílabas métricas contendo uma linguagem coloquial, acessível a todos.
É de se destacar uso de verbos no imperativo, com um tom forte, dando a entender que o que o eu-lírico comunica é mais intenso do que um conselho, se trata mesmo de uma ordem.
Sobre a publicação de Para ser grande sê inteiro
A primeira vez que o poema Para ser grande sê inteiro foi publicado foi na Revista Presença, número 37, em Coimbra. A edição contendo os versos de Ricardo Reis foi lançada em fevereiro de 1933.
O periódico Presença, onde Para ser grande sê inteiro acabou por ser publicado, foi lançado no dia 10 de março de 1927 em Coimbra. O projeto foi idealizado por três amigos: Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca e José Régio.
A revista durou 54 números e foi responsável por divulgar uma série de autores nacionais (caso de Fernando Pessoa) além de escritores também internacionais (como Proust, Dostoievsky e Cecília Meireles).
Poema Para ser grande sê inteiro declamado
Confira o poema Para ser grande sê inteiro declamado por Maria Bethânia:
Quem foi Ricardo Reis
Fernando Pessoa (1888-1935), nascido em Lisboa, foi o autor por trás de uma série de heterônimos bastante distintos como Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis.
Ricardo Reis, um dos heterônimos mais importantes da lírica pessoana, teria nascido no Porto no dia 19 de setembro de 1887.
O poeta frequentou a escola de jesuítas e se formou em medicina.
Como era monarquista e testemunhou a Proclamação da República em Portugal, em 1919, resolveu se exilar no Brasil. Culto, era profundo conhecedor de cultura clássica e fluente em latim e grego.
Entre os temas favoritos de Ricardo Reis estavam a passagem do tempo, a importância de aproveitar o presente e a irreversibilidade do nosso destino.
Ao contrário dos outros heterônimos, Ricardo Reis era uma figura estável, contida e tinha uma postura sobretudo contemplativa tanto em relação ao homem quanto à natureza.
Conheça os Poemas de Ricardo Reis em domínio público.
Conheça também