7 poemas de Natal para refletir e encantar

Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual
Tempo de leitura: 8 min.

Os poemas de Natal nos convidam a celebrar essa época mágica do ano. Não foram poucos os escritores famosos que escreveram sobre esse momento de confraternização. Por isso, reunimos os melhores poemas que exaltam o Natal e fazem refletir. Confira!

1. Canto de Natal - Manuel Bandeira

Poema de Manuel Bandeira sobre o natal.

O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.

Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.

Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino.
Seu nome é Jesus.

Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
De Jesus menino.

O escritor brasileiro Manuel Bandeira (1886-1968) é um dos mais prestigiados poetas da primeira geração modernista do Brasil. Com uma poesia cheia de lirismo, rimas livres e tom coloquial, ele trouxe enormes contribuições para a literatura nacional.

No poema Canto de Natal, temos uma descrição da noite em que Jesus veio ao mundo e uma homenagem a essa figura tão presente e importante para todos os cristãos.

2. Poema de Natal - Vinícius de Moraes

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:

Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

O poeta carioca Vinícius de Moraes (1913-1980) ficou conhecido por seus poemas e canções líricas repletas de sentimento. Em Poema de Natal, ele aproveita a data para trazer reflexões profundas sobre a vida, a passagem do tempo, as despedidas e as perdas. Mas ele também traz a esperança e o milagre como caminhos possíveis para as angústias que experimentamos no caminhar da existência.

3. O Cultivo das Árvores de Natal - T. S Elliot

Há diversas atitudes de se encarar o Natal,
Algumas das quais podemos desconsiderar:
A social, a indiferente, a estritamente comercial,
A ruidosa (os bares ficam abertos até meia-noite)
E a pueril – que não é a da criança
Para quem a vela é uma estrela, e o anjo dourado,
Cujas asas se distendem no topo da árvore,
Não apenas um enfeite, mas um anjo.
A criança se extasia diante da Árvore de Natal:
Deixemo-la permanecer no espírito de êxtase da Festa
Que é tanto um evento inaceitável quanto um pretexto;
De modo que o cintilante enlevo, o assombro
Causado pelas primeiras lembranças de uma Árvore de Natal,
De modo que as surpresas, o deleite com os novos bens
(Cada um deles com seu peculiar e excitante odor),
A expectativa do ganso ou do peru assado
E o pasmo previsto diante de seu aspecto,
De modo que a veneração e o júbilo
Não se percam na experiência futura,
No hábito enfadonho, na fadiga, no tédio,
Na consciência da morte e do malogro,
Ou na piedade do convertido
Que pode ser tentado pela presunção
De ofender a Deus e desrespeitar as crianças
(E aqui recordo também com extrema gratidão
Santa Lúcia, seu cântico de Natal e sua coroa de fogo):
De modo que antes do fim, no octogésimo Natal
(Entenda-se por ‘octogésimo’ qualquer que seja o último),
As lembranças acumuladas da emoção anual
Possam ser cristalizadas numa grande alegria
Que será também um grande medo, como naquele instante
Em que o medo se apodera de cada alma:
Porque o princípio nos lembrará do fim
E a primeira vinda da segunda vinda.

T. S. Eliot (Estados Unidos, 1888-1965) é um dos poetas chave da literatura moderna inglesa. Neste poema de estilo narrativo, o eu lírico adota um tom nostálgico. Ele começa aludindo à forma como o mundo adulto entende o Natal, seja como festa ou como desculpa para o consumismo.

Em seguida, ele faz um chamado para voltar à visão de uma criança que é capaz de se maravilhar com os detalhes mais simples e que realmente acredita na magia. Assim, embora a vida com suas rotinas e seus problemas pareça afogar o indivíduo, sempre existirá dentro dele aquela inocência e alegria da infância.

4. Estrela de Natal - Joseph Brodsky

Poema de natal.

Durante os gelos, num lugar mais feito ao calor que ao frio,
e à planície que à montanha,
uma criança nasceu numa gruta para salvar o mundo;
nevou como só pode nevar no deserto.

Tudo lhe parecia grande: o peito de sua mãe;
hálito dourado dos narizes do boi,
os Reis Magos (Melchor, Gaspar, Baltasar), seus presentes.
Ele só era um ponto. E um ponto era a estrela.

Atenta, sem piscar, entre as poucas nuvens,
ao menino deitado na manjedoura, de longe,
do fundo do Universo, do outro extremo,
a estrela na gruta o observava. E aquele foi o olhar do Pai.

Joseph Brodsky (1940-1996) é um escritor russo que se exilou nos Estados Unidos devido à perseguição que sofreu por parte do regime soviético. Em sua obra está presente a busca metafísica, assim como também o humor.

Neste poema, ele apresenta Jesus sob uma nova luz, como uma criança que acaba de chegar ao mundo e se surpreende com as coisas que o cercam, pois "só era um ponto". Além disso, a famosa estrela de Belém ganha protagonismo, pois se transforma em Deus observando seu filho chegar à realidade dos homens.

Assim, esses dois "pontos" são capazes de se comunicar, apesar do tempo e da distância. Aquilo funciona como uma mostra da força que a fé pode ter.

5. Noite de Natal - César Vallejo

Ao silenciar a orquestra, passeiam veladas
sombras femininas sob as ramagens,
por cuja folharada se filtram geladas
quimeras de lua, pálidos matizes.
Há lábios que choram árias esquecidas,
grandes lírios fingem os ebúrneos trajes.
Conversas e sorrisos em loucas hordas
perfumam de seda os agrestes bosques.
Espero que ria a luz à tua volta;
e na epifania de tua forma esbelta,
cantará a festa em ouro maior.
Balarão meus versos em teu prédio então,
cantarolando em todos os seus místicos bronzes
que nasceu o menino-Jesus de teu amor.

O peruano César Vallejo (1892-1938) foi um dos grandes renovadores da poesia moderna. Nesses versos, a Noite de Natal se ergue como o cenário ideal para o amor. O eu lírico narra como, ao concluir um concerto, aguarda com anseio a chegada da mulher que arrebatou seu coração.

6. Os Três Reis Magos - Rubén Darío

Eu sou Gaspar. E vou trazendo o incenso.
Venho dizer: A vida é pura, é bela.
Existe Deus no céu. O Amor é imenso.
E eu soube tudo pela clara estrela.
Eu sou Belchior. Sou todo mirra, todo.
Existe Deus. Ele é o brilho do Dia.
A branca flor tem os seus pés no lodo
E no prazer vibra a melancolia.
Sou Baltasar. Tenho amo. Enfim vos juro
Que existe Deus. E que Ele é grande e forte.
Tudo o soube através do halo tão puro
Que brilha na coroa atroz da Morte.
Reis Magos, silenciai vossos solaus.
Triunfa o Amor e à festa vos convida.
Cristo ressurge, faz a luz do Caos
E ei-lo a cingir a coroa da Vida.

Rubén Darío (Nicarágua, 1867-1916) é o principal representante do Modernismo, movimento literário que se desenvolveu com particular intensidade na América Latina.

Neste poema, o eu lírico personifica os três Reis Magos. Gaspar, Melchior e Baltasar expressam seus desejos de adorar a Jesus e se unem à festa para celebrar seu nascimento.

7. Chove. É dia de Natal - Fernando Pessoa

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal.
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa (1888-1935) foi um escritor português do modernismo que ganhou enorme relevância no mundo todo, principalmente por sua poesia.

Conhecido também por seus heterônimos, Pessoa era multifacetado, escrevendo sobre diversos assuntos. No poema em questão, ele aborda o Natal por uma perspectiva um pouco mais crua, apontando um sentido solitário, intimista e reflexivo da data.

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Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.