8 poemas femininos curtos para refletir e se inspirar

Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual
Tempo de leitura: 6 min.

A poesia é uma forma de arte que consegue transmitir sentimentos, provocar reflexões e revelar diferentes visões de mundo. Em poucos versos, ela pode despertar emoções profundas e gerar uma conexão imediata com quem lê.

Por isso, selecionamos poemas curtos escritos por mulheres que emocionam e celebram a força e a resistência feminina. Prepare-se para se inspirar com essas palavras cheias de potência e significado!

1. Motivo, de Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

"Motivo" é um dos poemas mais conhecidos de Cecília Meireles, em que a autora reafirma sua veia artística e destaca a importância da poesia em sua vida. Cecília nasceu em 1901 e faleceu em 1964, se dedicando à escrita, jornalismo e educação em uma época em que as mulheres enfrentavam restrições quanto à atuação intelectual e profissional. Ao se afirmar poeta, Cecília atravessa expectativas sociais, entrando para a história da poesia brasileira como um das mulheres mais reconhecidas intelectualmente.

2. Sem título, Hilda Hilst

Poema de Hilda Hilst.

Ser terra
E cantar livremente
O que é finitude
E o que perdura

Unir numa só fonte
O que souber ser vale
Sendo a altura

Hilda Hilst (1930-2004) foi uma poeta a frente de seu tempo. Com uma escrita contundente, marcada por erotismo e reflexões existenciais, Hilda se firmou com um grande nome na literatura brasileira.

No poema acima, vemos uma tentativa de unir a efemeridade da vida com o que permanece. A escritora procura aproximar coisas aparentemente distantes, em uma busca por harmonia e equilíbrio.

3. É muito claro, Ana Cristina César

é muito claro
amor
bateu
para ficar
nesta varanda descoberta
a anoitecer sobre a cidade
em construção
sobre a pequena constrição
no teu peito
angústia de felicidade
luzes de automóveis
riscando o tempo
canteiro de obras
em repouso
recuo súbito da trama

Ana Cristina César (1952-1983), também conhecida como Ana C., trazia em seus poemas uma atmosfera da poesia marginal, tratando de temas existenciais, suas angústias e elementos do cotidiano.

No poema acima, o que vemos é a maneira como ela trata o amor como um sentimento inevitável, trazendo a felicidade e a angústia pelo futuro dos amantes. O cenário urbano em construção faz um paralelo com o amor que se constrói.

4. Sem título, de Camila Martins

Poema de Camila Martins.

dormir mulher
para despertar maritaca
que sente o mundo pelo bico
e compõe versos
com os sobrevoos
do espírito

5. Sem título, de Ana Martins Marques

Seu filho hoje aprendeu uma palavra
seus ossos dormem crescendo
em breve andará com firmeza
saberá a ciência do chão
em breve a língua tomará
conta dele
vai emudecer o mundo
moldará seus pequenos dentes
em breve a língua será a mãe
mais do que você é a mãe

Ana Maria Martins (1977-) é uma das poetas que se destacam na cena literária contemporânea. Sua escrita revela a habilidade em tecer sentidos com as palavras, criando um olhar reflexivo sobre a vida, a passagem do tempo e a morte.

No poema que selecionamos, a escritora aborda o crescimento de um filho e o processo da maternidade, enfatizando o amor e o desapego, trazendo ainda a importância do idioma e da linguagem na formação de uma pessoa.

6. A minha história, de Adília Lopes

Poema de Adília Lopes

A minha história
é outra
E começa agora
Estou sempre
a começar

A poeta portuguesa Adília Lopes (1960-2024) traz nesse pequeno poema um sentido grandioso da vida, na medida em que está sempre disposta a novas experiências. Adília traz temas como a impermanência e os ciclos, sugerindo que conservemos uma disposição em recomeçar sempre que preciso.

7. Amor que morre, de Florbela Espanca

O nosso amor morreu… Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta.
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!
Bem estava a sentir que ele morria…
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre… e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia…
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer
E são precisos sonhos pra partir.
Eu bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
Doutro amor impossível que há de vir!

Reconhecida poeta do século XX, Florbela Espanca (1894-1930) nos brindou com sua poesia sensível que trata de diversos temas de maneira intensa e apaixonada.

Em Amor que morre, Florbela traz o amor pela perspectiva de quem deixa de amar. Assim, explora o fim de um sentimento tão intenso de maneira melancólica, mas esperançosa, abrindo espaço para novos começos.

8. O último poema do último príncipe, de Matilde Campilho

Era capaz de atravessar a cidade em bicicleta para te ver dançar.
E isso
diz muito sobre minha caixa torácica.

Matilde Campilho (1982-) é uma escritora contemporânea que traz em seus poemas uma maneira apurada de enxergar a vida e o amor. Em O último poema do último príncipe, Matilde exibe uma maneira prática de demonstrar paixão. A pessoa em questão se dispõe a atravessar a cidade para ver o ser amado dançar, o que aproxima a ação do sentimento e demonstra sua disposição para fazer aquela relação se fortalecer.

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Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.