4 poemas sobre mãe: amor, força e cuidado em versos
A maternidade é uma experiência intensa, cheia de desafios e descobertas. Essa é uma jornada que envolve cuidado e amor, além de muita responsabilidade e força.
Os poemas selecionados trazem essa atmosfera, explorando os diversos aspectos que envolvem o ser mãe, desde o vínculo com o filho até as dificuldades e alegrias que o maternar traz.
1. Mãe, trança meu cabelo?, de Marcela Cavallari
enquanto sussurra em meus ouvidos
algo sobre você antes de mim
confesse suas histórias de outro tempo
da mulher que te habita
do coração partido
de todas as dores
e cacarecos esquecidos da memória
trance em mim os fios que nos interligam nesse emaranhado
transgeracional
emocional
cordão umbilical
trance com suas mãos calejadas de
(tanto) trabalho doméstico invisível
toda sua força de cuidado
toda sua prova de amor
trance nesses fios
a receita secreta
de ser entidade-mãe
e mesmo padecendo
permanecer sendo
trance nesses fios o afeto
o abraço perdido
o eu te amo não dito
o choro escondido
trance nesses fios
tão seus quanto meus
o mapa do caminho
as sementes germinadas
para que a mãe-humana
possa nascer em nós.
A escritora Marcella Cavallari nos convida a pensar a ancestralidade e a maternidade a partir desse potente poema. Aqui, ela tece uma relação transgeracional entre mãe, filha, avós e todas as mulheres que vieram antes, suas antepassadas.
Diversos aspectos são abordados de maneira metafórica através do ato de trançar os cabelos. Com delicadeza e força, Marcela nos faz questionar também nossa própria linhagem materna e refletir sobre as histórias que nos compõem.
2. Lugar de mãe, de Luisa Benevides
entre o certo
o incerto
e o acerto
A escritora traz nesse poema curto um pouco da sua vivência como mãe. As dúvidas, receios, erros e acertos são evidenciados de maneira breve, mas assertiva.
O pema faz parte de sua publicação independente Azul de um minuto: poemas entre mãe e filho, lançado em 2019.
3. Em que horas eu vou fazer poesia?, de Roanne Aragão
Em que horas eu vou fazer poesia?
me fiz essa pergunta há doze horas.
Com certeza não será quando estou na correria
desesperada
com minha própria existência
incompetência
naquela quase desistência.
(Ei, moça, não me olhe assim
você sabe do que estou falando.)
Desesperada
Descabelada
quando xingo
quando grito
quando choro.
Não será nessas horas.
Mas haverá a hora
em que a musa virá me visitar
sem eu pedir
sem eu pensar
depois do choro
ou do mamar
depois do soninho,
para das neuroses descansar.
Como delicada flor brotando
ela acordou
e queria abrir a janela.
Mas está chovendo
eu disse
Mas eu quero ver!
ela respondeu
O sorriso no rosto
as mãozinhas
girando...
tocando as gotas...
Vamos para frente,
eu abro a porta para você. É um rio!
Disse ela,
e começou a dançar...
Aqui, a escritora expõe um pouco de suas angústias frente a dificuldade de dar vazão para a escrita e sua arte, devido ao cansaço, rotina e desafios da maternidade. O poema aborda aspectos complexos do ser mãe, mas ao mesmo tempo, finaliza com um olhar amoroso para a filha, que em sua pureza busca descobrir o mundo.
4. Sem título, de Alice Ruiz
Depois que um corpo
comporta
outro corpo
nenhum coração
suporta
o pouco
A renomada escritora Alice Ruiz traz nesses versos a ideia de expansão que a experiência de ser mãe proporciona. A poetisa consegue transmitir em poucas palavras a grandeza de gestar um filho. O corpo feminino sofre transformações significativas, assim como o corpo emocional e psíquico, que precisam se adaptar a uma nova realidade.
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