O Nascimento de Vênus: significado da obra de Sandro Botticelli

Laura Aidar
Revisão por Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual
Tempo de leitura: 6 min.

O quadro O Nascimento de Vênus, criado entre 1482 e 1485, é de autoria do pintor italiano Sandro Botticelli (1445-1510). A tela é um ícone incontornável do Renascimento.

O nascimento de Venus

A obra, cujas dimensões são 1,72 m x 2,78 m, está atualmente no Galleria degli Uffizi (Florença, Itália).

Significado de O Nascimento de Vênus

O nascimento de Venus

1. Vênus

Nua, no centro da tela, Vênus faz um gesto para esconder a sua condição despida. Enquanto a mão direita tenta cobrir os seios, a mão esquerda resguarda as partes íntimas.

A luz que recebe ressalta a sua beleza clássica, pura e casta e enfatiza ainda mais as suas curvas. Seu longo cabelo ruivo se enrola ao longo do corpo como uma espécie de serpente e a protagonista usa uma mecha para esconder o seu sexo.

2. Os deuses do vento

À esquerda da tela estão abraçados, unidos, o deus do vento Zephyrus e uma ninfa (acredita-se que seja Aura ou Bora), que ajudam Vênus assoprando em direção à terra.

Enquanto assopram, assistimos o cair das rosas. As rosas, segundo a mitologia, nasceram quando Vênus pôs o pé em terra firme e fazem referência ao amor.

3. Deusa da Primavera

Do lado direito do quadro está a Deusa Primavera, a espera de Vênus para cobri-la e protegê-la com um manto florido. Ela representa a renovação e tudo aquilo que floresce durante a primavera.

4. A concha

A concha simboliza a fertilidade e o prazer. O formato da concha remete ao sexo feminino e costuma ser considerada também o símbolo do batismo.

História da pintura O Nascimento de Vênus

Antes de criar essa tela, Sandro Botticelli costumava pintar cenas bíblicas. Foi depois de uma viagem à Roma, onde esteve exposto à muitas obras da cultura greco-romana que, inspirado pelo que viu, começou a pintar temas da mitologia.

O quadro O Nascimento de Vênus foi encomendado por Lorenzo di Pierfrancesco, uma figura importante na sociedade italiana. Lorenzo atuava como banqueiro e político e pediu a Botticelli uma peça para decorar sua casa. O resultado dessa encomenda, feita entre 1482 e 1485, foi a tela hoje considerada uma obra-prima da pintura ocidental.

Características renascentistas em O Nascimento de Vênus

Para compor a sua tela, Botticelli buscou inspiração na antiguidade clássica. Assim como em outras obras renascentistas, fica evidente a influência da cultura greco-romana e referência à cultura pagã. Nesse sentido, o Renascimento promoveu uma transformação se pensarmos nas influências.

Em termos de forma, buscava-se harmonia e a composição de uma beleza clássica, fatores que podem ser observados na perfeição do corpo de Vênus.

A valorização da natureza é também outro elemento característico do movimento renascentista na obra. O quadro apresenta igualmente duas conquistas do Renascimento: a elaboração da técnica da perspectiva e da profundidade. Observamos como a protagonista é pintada enorme, em primeiro plano, quando comparada com a paisagem do oceano ao fundo.

Análise detalhada da obra

Botticelli, um artista inovador

Botticelli pode ser considerado um artista arrojado e progressista sob muitos pontos de vista. Ele foi o primeiro a pintar uma mulher nua que não fosse Eva, num gesto bastante polêmico para a sua época.

Foi também dos primeiros artistas a pintar quadros mitológicos, que faziam um elogio à cultura pagã, iniciando uma renovação no período do Renascimento. Não satisfeito por quebrar tantos paradigmas, Botticelli foi ainda dos primeiros a pintar quadros sobre tela na Toscana. Até então as imagens eram pintadas na parede ou sobre madeira.

Sobre o título da pintura

Apesar do título induzir o observador a acreditar no evento descrito, Botticelli não pintou propriamente o nascimento da Vênus, mas sim a continuação do mito, quando a Deusa foi impulsionada sobre uma concha com a ajuda dos ventos para alcançar a ilha de Chipre.

Movimento no quadro

O quadro O Nascimento de Vênus é marcado por uma noção de movimento, observada a partir de uma série de elementos: nos cabelos da musa, nas pregas dos vestidos, no manto florido e nas rosas que caem a partir do sopro. Através do uso da técnica, Botticelli consegue transmitir a sensação de agitação.

O pano de fundo da tela

O segundo plano da tela é riquíssimo. Observe a série de detalhes que o pintor introduz: o mar apresenta escamas, o chão verde presente na costa parece um tapete de relva e as folhas das árvores têm detalhes dourados. A paisagem sublinha a beleza de Vênus e chama a atenção para o seu protagonismo.

Inspiração

Certamente uma das inspirações do pintor foi a estátua grega Vênus Capitolina, uma escultura da Antiguidade que aparece na mesma posição que a Vênus de Botticelli.

Vênus Capitolina
Vênus Capitolina teria servido de inspiração para a composição da musa de Botticelli.

Supõe-se também que a protagonista da tela seja inspirada em Simonetta Cattaneo Vespúcio, esposa de um rico comerciante. Ela era ícone de beleza de Sandro Botticelli e de uma série de artistas renascentistas.

Informações práticas do quadro O Nascimento de Vênus

Nome no original Nascita di Venere
Dimensões 1,72 m x 2,78 m
Ano de criação entre 1482 e 1485
Onde se encontra Galleria degli Uffizi (Florença, Itália)
Técnica têmpera sobre tela
Movimento artístico a que pertence Renascimento

Quem foi Sandro Botticelli

Nascido em 1 de março de 1445, Alessandro di Mariano di Vanni Filpepi, conhecido como Sandro Botticelli, foi um dos maiores nomes do Renascimento italiano.

O artista era filho de um curtidor de peles e, quando tinha 17 anos, foi apresentado ao já celebrado artista italiano Filippino Lippi, que viria a se tornar seu mestre. Em 1470 o artista ganhou reconhecimento e passou a servir à famosa família Médici, das mais importantes da Itália.

No início da carreira Botticelli produziu telas religiosas e com o tempo passou a receber influência da cultura greco-latina, produzindo obras com motivos pagãos.

Sandro Botticelli assinou obras-primas como O Nascimento de Vênus, A Adoração dos Magos e A Tentação de Cristo.

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Laura Aidar
Revisão por Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.