Quadro Operários de Tarsila do Amaral: significado e contexto histórico
Pintada em 1933, a tela Operários tem temática social, está exposta no Palácio Boa Vista e pertence ao Acervo do Governo do Estado de São Paulo.
É uma obra que integra o modernismo brasileiro e retrata cinquenta e um operários da indústria. Carrega como símbolo a exploração do povo trabalhador e a diversidade étnica que compõe a nossa sociedade.
Feita com a técnica de pintura a óleo, tem dimensões grandes (120cm x 205cm) e pertence ao período em que Tarsila do Amaral se dedicou a retratar temas de interesse coletivo e social, após retornar de uma viagem à União Soviética.
Significado da obra
A tela Operários é considerada um grande símbolo do período de industrialização brasileira (especialmente do Estado de São Paulo).
Esse foi um momento histórico marcado pela migração de trabalhadores, uma classe ainda muito vulnerável e explorada, sem acesso a leis que a defendesse propriamente.
Assim, Tarsila exibe nessa obra as distintas feições dos trabalhadores e trabalhadoras das fábricas. São pessoas de cores e etnias muito diferentes representadas lado a lado. E, apesar dos contrastes, todos carregam feições extremamente cansadas e sem esperança.
São cinquenta e um rostos, alguns deles sobrepostos. Essa mistura de trabalhadores exibidos em sequência aponta para a massificação do trabalho.
Os operários olham todos na mesma direção, mas não estabelecem nenhum contato visual uns com os outros. A disposição dos trabalhadores, em um formato crescente, de pirâmide, permite que se veja a paisagem ao fundo: uma série de chaminés cinzentas de fábricas.
Alguns dos rostos são de personalidade conhecidas na época, como o do arquiteto Gregori Warchavchik e da cantora Elsie Houston. Outros são conhecidos apenas pela pintora, caso de Benedito Sampaio, o administrador da fazenda da família.
Outro quadro clássico deste período e pintado no mesmo ano é Segunda Classe.
Contexto histórico e inspiração criativa
O cenário não era dos mais favoráveis, o quadro Operários foi pintado um pouco após a grande crise econômica de 1929, que abalou o mundo. No Brasil, era o período da Era Vargas e o quadro é um retrato da industrialização paulistana.
Pessoalmente, Tarsila perdeu parte do seu patrimônio financeiro. Em 1931, vendeu alguns quadros da sua coleção pessoal e viajou para a União Soviética. Foi apresentada ao socialismo pelo então namorado, o psiquiatra Osório César.
Quando voltou da União Soviética, esteve presa durante um mês devido a sua simpatia com a ideologia socialista e engajou-se na Revolução Constitucionalista de 1932.
Impactada com a descoberta ideológica, a pintora se uniu ao comunismo antes de criar o quadro Operários.
Anos antes de pintar temas sociais, Tarsila já afirmava categoricamente: “Eu quero ser a pintora do meu país” (1923).
Releitura do quadro Operários
O Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), inaugurou no dia 8 de junho de 2018 a maior manifestação de arte urbana dedicada exclusivamente à ciência, tecnologia e inovação. Um dos murais, feito em grafite, foi uma releitura de Operários.
O trabalho, intitulado Construtores da ciência, está exposto na rua Lauro Müller, em Botafogo, no Rio de Janeiro. A autora é a jovem artista plástica Gabi Tores, estudante do curso de Artes Visuais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
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