Ready Made
Os ready made são objetos industrializados que, retirados de seu contexto cotidiano e utilitário, transformam-se em obras de arte. Isso ocorre a partir do momento em que eles são inseridos em museus e galerias.
Esse é um recurso artístico utilizado desde o início do século XX e, ainda hoje, causa estranhamento em grande parte do público.
Marcel Duchamp: o pai do ready made
Marcel Duchamp (1887-1968), artista francês dadaísta, é reconhecido como o criador do conceito de ready made, que originalmente (em francês) é chamado de objet trouvé.
Veja alguns exemplos de ready made feitos por ele e que contribuíram para uma transformação no pensamento sobre a arte.
Roda de bicicleta (1913)
A primeira obra feita dessa forma por Duchamp trata-se de uma roda de bicicleta acoplada em um banco, e data de 1913. Esse tipo trabalho com mais de um objeto e que sofre interferência do artista foi chamado de ready made retificado.
Essa obra foi criada, à princípio, para ficar no ateliê do artista. Duchamp apreciava olhá-la enquanto trabalhava e, às vezes, a girava para ver o movimento. Apenas em 1916 é que o objeto será intitulado como ready made.
Fonte (1917)
A Fonte é o ready made de maior importância na história da arte. Concebida em 1917, essa obra consiste em um mictório (ou urinol) de porcelana branca. Ela foi exibida em uma exposição no mesmo ano de sua criação e apresentada sob o pseudônimo de R. Mutt.
Na ocasião, o trabalho foi duramente criticado. Contudo, posteriormente ganhou notoriedade por seu caráter contestador e reflexivo, próprio da vertente dadaísta.
Marcel Duchamp sempre foi atribuído como o criador da obra, entretanto, pesquisas recentes colocaram em dúvida a autoria. Acredita-se que a ideia desse trabalho, enviado à exposição de 1917, veio da artista Elsa von Freytag Loringhoven.
Elsa era uma artista polono-alemã que tinha contato com Duchamp. Na década de 80 foi encontrada uma carta em que o artista relata que o urinol foi ideia da amiga dadaísta.
Porta garrafas (1914)
Em 1914 Marcel Duchamp adquiriu um objeto que lhe chamou atenção. Era um porta garrafas, uma estrutura feita de metal com várias hastes.
O artista guardou em seu local de trabalho o objeto, que mais tarde foi jogado fora por seus familiares. Posteriormente foram feitas réplicas do porta garrafas.
Ready made e o dadaísmo, qual a relação?
O dadaísmo foi um movimento pertencente às vanguardas europeias que pretendia trazer ironia, contestação e negação da própria arte. Foi a maneira que os artistas conseguiram expressar a indignação perante os absurdos cometidos na Primeira Guerra Mundial e outros eventos do começo do século.
Eles buscavam romper com a arte tradicional, causar estranhamento e surpresa no público. Assim, os ready made serviram naquele momento como um recurso nesse sentido, também por seu caráter irracional e sarcástico.
Entretanto, é importante ressaltar que nem sempre os objetos artísticos e ready mades tinham necessariamente essas intenções, suscitando inclusive outras reflexões, como a noção de autoria e o poder simbólico de objetos do cotidiano.
Outros artistas que utilizam ready made
Depois de Duchamp e das vanguardas europeias a arte tomou rumos muito diversos. A partir da segunda metade do século XX, desponta o que se chama de Arte Contemporânea, que busca trazer técnicas e procedimentos inovadores.
Muitos artistas se inspiraram na atmosfera crítica do dadaísmo e no caráter subversivo dos ready made. Foi possível perceber outras possibilidades de representação e expressão, ressignificando objetos prontos.
Dessa forma, outros artistas também utilizaram o artifício em suas criações. No Brasil, podemos citar Waltercio Caldas e Cildo Meireles, por exemplo.
Outra obra que pode ser citada como um ready made é Uma e Três Cadeiras, feita em 1965 por Joseph Kosuth.
Nessa produção, o artista norte-americano exibe uma cadeira comum, uma fotografia da cadeira e um texto com o significado da cadeira. Esse trabalho é inserido na arte conceitual.
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