Reverenciado pela crítica e público, filme que conquistou inúmeros prêmios chega ao streaming no Brasil


Luan Santos
Luan Santos
Jornalista e Crítico Cultural
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Com uma visão única dos sentimentos e das nuances dos relacionamentos humanos, o cineasta britânico Andrew Haigh está se destacando como um dos principais expoentes da direção autoral de sua geração.

Em sua estreia de destaque no cenário do cinema independente LGBTQIAP+, o filme Weekend (2012) lança luz sobre um encontro casual entre dois homens, carregado de intensidade e que provoca diversas reflexões sobre as nuances do amadurecimento.

Na série da HBO Looking (2014) e em seu filme subsequente, Haigh aprofundou essa complexidade por meio de personagens envolventes, repletos de incertezas e questionamentos sobre os vínculos interpessoais na contemporaneidade. Já os elogiados filmes 45 anos (2015) e A Rota Selvagem (2017) consolidaram sua posição como um diretor a ser observado, capturando a atenção da crítica especializada.

Todos Nós Desconhecidos

Essa jornada de Haigh parece atingir seu ápice em Todos Nós Desconhecidos (2024), filme disponível na plataforma de streaming Star+ que tem recebido reconhecimento nas premiações desde sua estreia. A obra consegue habilmente equilibrar os questionamentos de autodescoberta específicos de Haigh com seu próprio amadurecimento como um exímio contador e adaptador de histórias.

E do que se trata Todos Nós Desconhecidos?

Baseado no romance "Ijin-tachi to no natsu" do escritor japonês Taichi Yamada, lançado em 1987, o filme apresenta Adam (interpretado brilhantemente por Andrew Scott), um personagem solitário que reside em um prédio isolado em Londres. Em uma noite misteriosa, quando o alarme do prédio soa sem motivo aparente, Adam desce sozinho para fora de seu apartamento e avista um inquilino em uma das janelas. Nessa mesma noite, esse inquilino, chamado Harry (interpretado por Paul Mescal), bate à porta de Adam, convidando-o para beber. Neste momento, Adam recusa as claras investidas de sedução do vizinho.

Adam, que é escritor, parece buscar inspiração em suas memórias através de fotografias de sua infância e do subúrbio onde cresceu para elaborar algum tipo de roteiro. Ao retornar à casa onde passou sua infância, ele começa a interagir com seus pais já falecidos, que aparentam ter a mesma idade que tinham quando morreram em um acidente de carro.

Os pais de Adam são interpretados pelos talentosos Jamie Bell (Billy Elliot) e Claire Foy (The Crown), e todos naquela situação parecem estar cientes de tudo o que aconteceu, mas interagem com uma normalidade que causa um arrepio. À medida que Adam se reaproxima de Harry em seu prédio pouco movimentado, ele também passa a frequentar sua casa de infância com mais frequência, tecendo conversas que nunca teve com seus pais já falecidos.

É importante evitar revelar mais detalhes a partir deste ponto, pois qualquer informação adicional poderia comprometer a experiência do espectador, já que o filme se destaca não apenas por suas nuances, mas também por suas reviravoltas surpreendentes.

Um filme que mergulha nas profundezas das memórias e dos arrependimentos, deixando uma marca duradoura mesmo após os créditos finais

O enredo nos provoca com perguntas profundas: Se pudesse conversar com alguém que já partiu, o que diria? Que arrependimentos, confissões ou desejos compartilharia? E quanto tempo seria suficiente para abordar todas essas questões? Estes são apenas alguns dos dilemas explorados nesta trama envolvente que cativa do início ao fim.

Entretanto, o maior triunfo de Haigh em Todos Nós Desconhecidos foi a forma como ele adaptou o romance de Yamada sob sua própria perspectiva, abordando suas próprias indagações e questões pessoais. Desde Weekend, seu trabalho tem sido marcado por uma honestidade que nos leva a refletir sobre os relacionamentos líquidos, tema tão debatido pelo filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman.

Este filme não busca respostas definitivas; é daqueles que nos convida a interpretar conforme nossas experiências e tirar nossas próprias conclusões, questionando o que é real, ficção, alucinação, paranormalidade ou apenas uma jornada cósmica.

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Luan Santos
Luan Santos
Jornalista formado pela Universidade Federal de Viçosa, especialista em Produção e Crítica Cultural pela PUC Minas e Mestre em Comunicação, Arte e Cultura pela Universidade do Minho. Apaixonado por cinema clássico, séries, musicais, livros e bons papos.