Jean-Paul Sartre e o existencialismo
Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi um filósofo francês de grande importância no século XX.
Seu nome é normalmente associado à corrente filosófica intitulada existencialismo, que defendia que o ser humano primeiramente existe e só depois desenvolve uma essência.
Foi um intelectual bastante crítico e engajado nas causas e pensamentos da esquerda.
É conhecido também por seu relacionamento com outra importante pensadora, Simone de Beauvoir.
Biografia de Sartre
No dia 21 de junho de 1905 vinha ao mundo Jean-Paul Sartre. Nascido em Paris, capital francesa, Sarte era filho de Jean Baptiste Marie Eymard Sartre e de Anne-Marie Sartre.
Antes de completar dois anos de idade seu pai vem a óbito e Sartre muda-se com sua mãe para Meudon, passando a viver na companhia dos avós maternos.
Sua infância foi marcada pela presença de muitos adultos, que incentivavam a leitura e outras artes. Assim, o garoto era um ávido leitor e apreciador de cinema.
O primeiro colégio que estudou foi o Liceu Henri VI de Paris.
Em 1916 sua mãe se casa novamente e a família passa a morar em La Rochelle, onde ingressa na escola de lá.
Quatro anos mais tarde, retorna à Paris e em 1924 inicia os estudos filosóficos na Escola Normal Superior de Paris. É nesse momento que Sartre conhece Simone de Beauvoir, com quem desenvolve uma relação amorosa que dura toda a vida.
Em 1931 Sartre passa a dar aulas de filosofia na cidade de Havre. Entretanto, dois anos depois vai para a Alemanha estudar no Instituto Francês de Berlim.
Em solo alemão o pensador conhece as ideias de outros filósofos como Husserl, Heidegger, Karl Jaspers e Kierkegaard. Além disso, interessa-se pela fenomenologia. Toda essa base teórica permitirá que ele desenvolva suas próprias teorias filosóficas.
Posteriormente, Sarte participa da Segunda Guerra Mundial como meteorologista e acaba preso em um campo de concentração nazista, sendo liberado por motivos de saúde.
A experiência de guerra transformou-o profundamente, inclusive em seu posicionamento sobre as ideias de liberdade individual relacionadas às condições coletivas da sociedade.
Jean-Paul sempre se mostrou interessado pelos acontecimentos sociais e engajou-se politicamente, alinhando-se aos pensamentos da esquerda. Tanto que, em 1945, junto com Reymond Aron, Maurice Merleau-Ponty e Simone de Beauvoir, funda a revista Les Temps Modernes, importante periódico de esquerda do pós-guerra.
Em 1964, Sartre já era uma referência filosófica mundial e foi homenageado com o Prêmio Nobel de Literatura. Entretanto, o pensador recusou-se a recebê-lo, pois não concordava que escritores fossem "transformados" em instituições.
Aos 75 anos, em 15 de abril de 1980, o escritor morre vítima de um adema. Foi sepultado no cemitério de Montparnasse, na França. Mais tarde, Simone de Beauvoir foi enterrada no mesmo local.
Sartre, o existencialismo e a liberdade
Sarte foi um dos expoentes do existencialismo, corrente filosófica do século XX que teve origem na França.
Tendo como grande influência e bases teóricas a fenomenologia e as ideias de pensadores como Husserl e Heidegger, o existencialismo de Sartre afirma que "a existência precede a essência".
Ou seja, segundo ele, o ser humano primeiramente existe no mundo, para só então construir e desenvolver sua essência, que é moldada durante todo o processo de existência do ser no planeta.
Essa linha de raciocínio recusa uma concepção de ordem divina e uma essência primordial, colocando no sujeito toda a responsabilidade por suas ações e sua vida.
Assim, a humanidade está fadada à liberdade. Isso porque, mesmo nas condições mais adversas, segundo Sartre, o sujeito pode escolher como se portar e encarar as situações, tudo porque há uma consciência humana. Mesmo quando a pessoa decide "não tomar uma atitude" há também uma escolha.
Dessa forma, há ainda o sentimento de angústia que tal existência e liberdade geram, pois nada poderá ser usado como um elemento que justifique a maneira como o ser conduz suas práticas.
Outra ideia que Sartre explora é da má-fé, que sugere que os homens que se privam de assumir a responsabilidade pela sua existência estão, na realidade, agindo de maneira desonesta, pois estão negando a própria liberdade.
Uma frase bastante associada a Sartre é "o inferno são outros", que exibe a concepção de que, mesmo sendo livres para determinar nossas vidas, nos esbarramos com as escolhas e projetos de outras pessoas.
Contudo, na maior parte das vezes, as escolhas dos outros são diferentes das nossas, gerando desencontros e nos colocando frente a frente com os nossos próprios critérios, possibilidades e caminhos que decidimos seguir.
A obra de Sarte
A produção de Sartre foi muito vasta. Grande escritor, o intelectual deixou como legado diversos livros, contos, ensaios e até peças de teatro.
Sua primeira publicação de sucesso foi escrita em 1938, o romance filosófico A náusea. Nessa obra são exibidos de forma ficcional vários princípios existencialistas, que mais tarde, em 1943, Sartre retoma em O Ser e o Nada, livro de enorme relevância, o maior importante de sua produção.
Outras obras que merecem destaque são:
- O Muro (1939)
- a peça teatral Entre quatro paredes (1944)
- A Idade da razão (1945)
- Com a morte na Alma (1949)
- As Moscas (1943)
- Mortos sem sepultura (1946)
- A engrenagem (1948)
- A Imaginação (1936)
- A Transcendência do Ego (1937)
- Esboço de uma Teoria das Emoções (1939)
- O Imaginário (1940)
- O ensaio O existencialismo é um humanismo (1946)
- Crítica da razão dialética (1960)
- As palavras (1964)
O que representa seu legado?
A partir do pensamento sartriano a sociedade ocidental passa a pensar de uma forma nova.
O contexto era do pós-guerra, e as ideias ousadas de Sartre começam a reformular alguns conceitos, sobretudo para a juventude francesa, transformando o filósofo em uma espécie de "celebridade cultural" da época.
Sua maneira de enxergar o mundo, e negar valores até então pressupostos, agita os pensamentos das pessoas comuns e traz à tona reflexões acerca de crenças como o cristianismo, a família e as tradições morais.
Assim, Sartre contribui para que a população passe a enxergar-se mais como um conjunto de indivíduos ativos no mundo, responsabilizando-se por suas escolhas e suas consequências.
Além disso, as ideias do filósofo inspiraram revoltas populares, como a dos estudantes franceses em maio de 1968.
Apesar de atualmente a filosofia de Sartre ser revisitada de outra forma por alguns pensadores, ainda hoje suas ideias ajudam a sociedade a nortear alguns pensamentos e ações, sobretudo no que diz respeito ao engajamento coletivo dos indivíduos.
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