Ser ou não ser, eis a questão: significado da frase
"Ser ou não ser, eis a questão" (em inglês, To be or not to be, that is the question) é a famosa frase dita por Hamlet durante o monólogo da primeira cena do terceiro ato na peça homônima de William Shakespeare.
Significado da frase "Ser ou não ser, eis a questão"
Hamlet está entrando em cena quando começa um monólogo. A frase de abertura do monólogo é "Ser ou não ser, eis a questão". Por mais que a pergunta pareça complexa, na verdade, é muito simples.
Ser ou não ser é exatamente isso: existir ou não existir e, em última instância, viver ou morrer.
O personagem do drama de Shakespeare continua: "Será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e flechas com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provocações e em luta pôr-lhes fim? Morrer… dormir".
A vida é cheia de tormentos e sofrimentos, e a dúvida de Hamlet é se será melhor aceitar a existência com a sua dor inerente ou acabar com a vida.
Hamlet continua o seu questionamento. Se a vida é um constante sofrimento, a morte parece ser a solução, porém a incerteza da morte supera os sofrimentos da vida.
A consciência da existência é o que acovarda o pensamento suicida, pois diante dela se detém o medo do que possa existir após a morte. O dilema de Hamlet é agravado pela possibilidade de sofrer eternas punições por ser um suicida.
"Ser ou não ser" acabou por extrapolar o seu contexto e se tornou um questionamento existencial amplo. Para além da vida ou da morte, a frase se tornou uma pergunta sobre a própria existência.
"Ser ou não ser" é sobre agir, tomar a ação e se posicionar ou não diante dos acontecimentos.
"Ser ou não ser" e a Caveira
Ao contrário do que ficou conhecido, a famosa fala de Hamlet não acompanha uma caveira e ele também não se encontra sozinho. Na peça de Shakespeare, Hamlet está entrando em cena quando começa o famoso monólogo. Estão escondidos, assistindo à ação, o Rei e Polônio.
O momento em que Hamlet segura uma caveira ocorre na primeira cena do quinto ato, quando ele se encontra secretamente com Horácio no cemitério.
A caveira que ele segura é do bobo da corte Yorick. Nesta cena Hamlet está divagando sobre a morte e pensando em como, no final, todos, sejam reis importantes ou bobo da corte, se tornam uma mera caveira e, depois, cinzas.
O crânio humano é uma figura constante nas pinturas "Vanitas" do século dezesseis e dezessete, no norte da Europa. "Vanitas" era uma representação específica da natureza morta, onde os temas recorrentes eram caveiras, relógios, ampulhetas e frutas em decomposição, tudo para mostrar a efemeridade e o vazio da vida.
Apesar de não estarem na mesma parte da tragédia, o monólogo de Hamlet e a cena com a caveira são próximas pelo tema: a reflexão sobre a vida e a morte.
Os dois momentos acabaram se tornando símbolo da peça, sendo muitas vezes representados como um só, já que a cena da caveira é a mais marcante da peça e o monólogo "ser ou não ser" é o mais importante.
Hamlet, o príncipe da Dinamarca
A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca é uma das principais peças de Shakespeare e uma das mais importantes na dramaturgia mundial.
Ela conta a história do príncipe da Dinamarca. O nobre é visitado pelo fantasma de seu pai, que revela ter sido assassinado pelo seu irmão e pede vingança pela sua morte.
Hamlet não sabe se o fantasma é o mesmo de seu pai ou se é algum espírito maligno que quer que ele cometa um ato de loucura.
Para saber a verdade, Hamlet insere numa peça apresentada no castelo uma cena que se assemelha com a do assassinato que o fantasma descreveu. Ao ver a reação de seu tio, que ficou transtornado, Hamlet tem a certeza de que ele é o assassino de seu pai.
O Rei desconfia que Hamlet sabe de seu assassinato e o envia para a Inglaterra, onde pretende matá-lo. O príncipe descobre o plano e consegue escapar.
De volta à Dinamarca, seu tio planeja novamente seu assassinato, levando Hamlet a enfrentar Laerte em um duelo desleal e tendo como plano envenená-lo com uma bebida adulterada.
Os dois duelistas saem gravemente feridos e a rainha acaba por tomar a bebida envenenada. Laerte conta para Hamlet os planos do Rei.
Hamlet consegue ferir o Rei, que também acaba morrendo. A peça termina com o Rei, a Rainha, Hamlet e Laerte mortos e com a chegada de Fortinbras com as tropas norueguesas, que assumem o trono.
Veja o trecho do monólogo
Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e flechas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provocações
E em luta pôr-lhes fim? Morrer... dormir: não mais.
Dizer que rematamos com um sono a angústia
E as mil pelejas naturais-herança do homem:
Morrer para dormir… é uma consumação
Que bem merece e desejamos com fervor.
Dormir… Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo:
Pois quando livres do tumulto da existência,
No repouso da morte o sonho que tenhamos
Devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita
Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios.
Quem sofreria os relhos e a irrisão do mundo,
O agravo do opressor, a afronta do orgulhoso,
Toda a lancinação do mal-prezado amor,
A insolência oficial, as dilações da lei,
Os doestos que dos nulos têm de suportar
O mérito paciente, quem o sofreria,
Quando alcançasse a mais perfeita quitação
Com a ponta de um punhal? Quem levaria fardos,
Gemendo e suando sob a vida fatigante,
Se o receio de alguma coisa após a morte,
–Essa região desconhecida cujas raias
Jamais viajante algum atravessou de volta –
Não nos pusesse a voar para outros, não sabidos?
O pensamento assim nos acovarda, e assim
É que se cobre a tez normal da decisão
Com o tom pálido e enfermo da melancolia;
E desde que nos prendam tais cogitações,
Empresas de alto escopo e que bem alto planam
Desviam-se de rumo e cessam até mesmo
De se chamar ação
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