Simbolismo: contexto histórico, origem e características do movimento

Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual
Tempo de leitura: 6 min.

O simbolismo foi um movimento artístico que ocorreu na Europa e no Brasil no século XIX. A vertente englobou várias linguagens da arte, com destaque para a literatura, sobretudo a poesia.

Essa foi uma tendência que tinha como alicerce a oposição à objetividade de movimentos anteriores como o parnasianismo, além dos ideais do cientificismo e materialismo.

Tinha como objetivo exaltar um caráter etérico e místico, valorizando a alma humana, o inconsciente e a individualidade. Assim, podemos dizer que as características que mais se destacam nesse movimento são:

  • Linguagem subjetiva e vaga;
  • Uso de figuras de linguagem;
  • Exaltação ao misticismo e à fantasia;
  • Valorização da criatividade;
  • Preferência por temas soturnos, enigmáticos, esotéricos;
  • Uso do inconsciente;
  • Valorização do "eu";
  • Misturas de sensações como a visão, olfato, paladar, tato e audição;
  • Musicalidade.

Contexto histórico do simbolismo

O simbolismo germina na Europa na segunda metade do século XIX, mais precisamente na França, por volta de 1880. Nessa época, o mundo vivia grandes mudanças, tanto no que diz respeito aos assuntos sociais como econômicos e culturais.

O avanço do sistema capitalista, a consolidação da revolução industrial, a ascensão da burguesia e as disputas por novos nichos de mercado e locais para explorar, como o continente africano, transformaram profundamente a sociedade. Mais tarde tais fatores desencadearam episódios lamentáveis como a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

No meio desse contexto o tipo de pensamento que predominava era o cientificismo, de origem positivista. Tal linha filosófica era extremamente racional, e procurava entender e explicar a realidade de forma objetiva, valorizando a ciência em detrimento da espiritualidade e de teorias metafísicas.

Entretanto, essa forma de raciocínio foi rejeitada por um bom número de pessoas, principalmente pelas camadas sociais que não foram "agraciadas" com as benesses do capitalismo. Essas pessoas consideravam inclusive que esse sistema havia causado certa desordem espiritual.

Assim, como refutação a essa visão de mundo, emerge o simbolismo, que tem principalmente na poesia um lugar de desenvolvimento.

Esse novo movimento aparece como afirmação de ideias espiritualistas, buscando a aproximação do ser humano com o divino, o cósmico e o inexplicável.

A vertente simbolista não foi muito duradoura, mas estendeu-se para outros países, como Portugal e também para o Brasil.

Simbolismo na Literatura

Apesar de ter ocorrido também nas artes visuais, como na pintura, o simbolismo encontra terra fértil no campo da linguagem escrita. Dessa forma, a literatura simbolista desenvolve-se de maneira fluida, valorizando o universo onírico, sensorial e criativo.

Os escritores utilizam muitas vezes uma linguagem imprecisa, com recursos como aliterações, metáforas, onomatopeias e sinestesias.

O livro que estreia esse movimento foi Flores do Mal (1857), do francês Charles Baudelaire (1821-1867). Baudelaire era admirador de outro escritor, Edgar Allan Poe, de quem buscou referências e inspiração.

Charles Baudelaire simbolismo
O escritor Charles Baudelaire foi o primeiro a escrever uma obra simbolista

Os assuntos mais abordados nessa corrente estão relacionados ao amor, finitude da vida, sofrimento, sonhos, à psique humana e outros. Podemos dizer que a literatura simbolista retoma de alguma forma temas e ideias do romantismo.

Simbolismo no Brasil

No Brasil, o movimento simbolista aparece em 1893, com a publicação dos livros Missal e Broquéis do poeta Cruz e Sousa (1861-1898).

Cruz e Sousa poeta simbolista

Outro escritor que representou a poesia simbolista em solo brasileiro foi Alphonsus de Guimarães (1870-1921). Além deles, também podemos citar Augusto dos Anjos (1884-1914), que apresenta ainda elementos do pré-modernismo.

Poesia simbolista brasileira

Ismália, de Alphonsus de Guimarães

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar…
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava perto do céu,
Estava longe do mar…

E como um anjo pendeu
As asas para voar…

Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar…

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par…
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…


Ismália é um dos poemas mais famosos do período simbolista brasileiro. Ele narra a situação de uma moça que, acometida pela loucura, decide tirar a própria vida.

De maneira singela e delicada o autor nos fala, na realidade, sobre uma tragédia, um momento de desespero, delírio e insanidade. A forma descritiva do texto quase nos leva a imaginar a cena.

Simbolismo em Portugal

Em Portugal, a obra que inaugura o simbolismo é o livro de poemas Oaristos, de Eugênio de Castro, publicada em 1890. Nessa altura, já ocorria no país uma influência da vertente, vinda através das revistas "Boemia Nova" e "Os Insubmissos".

Outros nomes importantes dentro do movimento foram Antônio Nobre (1867-1900) e Camilo Pessanha (1867-1926).

Uma poetisa portuguesa que se destaca também é Florbela Espanca (1894-1930), que apesar de não ser totalmente simbolista, bebeu na fonte dessa corrente literária.

Poesia simbolista portuguesa

Estátua, de Camilo Pessanha

Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, de frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.
Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.
E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correto
Desse entreaberto lábio gelado...
Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.

(do livro Clepsidra)

No poema em questão, o autor se debruça sobre temas como o amor, a perda do ser amado e o sofrimento que esse luto gera.

Por meio de metáforas um tanto quanto fúnebres, o poeta discorre sobre o sentimento de frustração ao buscar o amor e não conseguir extrair um olhar carinhoso, uma atitude recíproca.

O poema revela ainda o abismo existente entre as pessoas, principalmente entre dois amantes, já que não se pode conhecer a fundo a alma do outro.

Florbela Espanca

Veja também o vídeo abaixo com o poema Ódio?, de Florbela Espanca, recitado pela atriz Clara Troccoli.

Conheça também:

Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.